Karine Oliveira é nascida e criada no Engelho Velho da Federação, em Salvador. A baiana, quando resolveu entrar no ecossistema de empreendedorismo e inovação, se deparou com termos difíceis e não conseguia se enxergar no mercado corporativo.
“Como não me enxergava naquele lugar, comecei a me perguntar se existiria uma outra forma de aprender e ensinar tudo aquilo que estava sendo falado, então comecei a estudar o tema para tentar entender como ele poderia ser inserido dentro da minha realidade periférica. E foi assim que escolhi trabalhar com quem empreende por necessidade”, comenta Karine sobre o surgimento da Wakanda Educação em 2018.
A Wakanda Educação é uma empresa que traduz conteúdos do empreendedorismo tradicional para a linguagem informal e regional através de cursos de formação, permitindo o acesso e fortalecimento de negócios periféricos. Os cursos oferecidos pela edtech são realizados de duas formas: via WhatsApp, para pessoas que contratam os serviços de forma independente e por consultoria, quando o contratante é uma grande empresa.
Além de traduzir palavras americanizadas, a Wakanda também oferece cursos, mentorias, consultorias e eventos de comercialização, todo o conteúdo oferecido é focado em empreendedores negros e periféricos que não tem acesso ao mercado, por este motivo a linguagem é mais acessível.
Karine comenta que o ecossistema de startups na Bahia é, em grande parte, branco e masculino: “Não recebi apoio nenhum. Eu tive que furar a bolha sozinha. Sou de Salvador mas recebi investimento do Brasil todo menos daqui, ou seja, o país inteiro consegue me encontrar menos o lugar que eu resido. Mas é o que eu sempre falo, se conseguimos empreender em Salvador, conseguimos crescer em qualquer outro lugar”, enfatiza.
Bate-Bola com Karine
1 – Como você vê o ecossistema de startups?
O ecossistema de startups é muito elitista, racista e branco, lógico que lugares como São Paulo, Rio de Janeiro e agora o Nordeste, estão cada vez mais olhando para a questão da diversidade, mas a mudança em si, está ocorrendo em passos de tartaruga.
2 – Como você consegue chegar até as pessoas minorizadas?
Identificação. Desde o primeiro momento, quando a gente consegue perceber que uma boa parte dessa galera, ( da nossa galera) quer aprender, quer se formar, quer crescer e todo o mercado de empreendedorismo basicamente grita dizendo que não é pra ela estar naquele lugar, a Wakanda vem trazendo um ambiente acolhedor para que cada uma daquelas pessoa enxergue a grandiosidade dela e do que ela já é. Até porque a pandemia só escancarou o que já estava na cara.
3 – Eleições 2022: O que muda para o ecossistema no quesito diversidade?
Agora, estamos trilhando um caminho onde podemos conversar, onde o legislativo que não te ouvia passa a te escutar. No antigo governo, que durou 4 anos, não tínhamos essa oportunidade de dialogar. Nós ,enquanto pessoas pretas periféricas, enquanto LGBTQI e mais de diversos indígenas, podemos pelo menos dizer o que queremos sem represálias.
4 – Além de educação, o que mais leva a igualdade?
Oportunidade. Competência nós já temos o que não temos é acesso. Acho que é importante dizer que tem pessoas pretas formadas e capacitadas em todas as áreas. O que essas pessoas não têm é oportunidade.
Forbes e Shark Tank Brasil
Com o trabalho revolucionário que Karine tem desempenhado através da Wakanda Educação, a Forbes, uma das maiores revistas americanas, elegeu a baiana como uma das mentes brilhantes abaixo dos 30 anos na lista anual Forbes Under 30.
Sobre esse acontecimento, Karine comenta: “Estar na revista da Forbes fez com o meu trabalho fosse validado, eu já estava no mercado há um tempo e as pessoas ainda duvidam do meu negócio, então com essa nomeação, consegui ter mais visibilidade e minha cartela de clientes aumentou de forma significativa”, comenta a empresária que também participou do Shark Tank Brasil e recebeu uma proposta de Camila Farani, que além de ser uma das suas maiores inspirações, agora faz parte do projeto Wakanda com investimento inicial de R$ 200 mil.
Próximos passos da Wakanda
Karine diz que a grande maioria das pessoas que buscam os serviços da Wakanda são mulheres pretas (90%), e ela ressalta que esse dado representa muito bem a realidade da periferia, já que essas mulheres são as que mais buscam empreender para adquirir uma fonte de renda nova ou extra. Os próximos passos da empresa incluem criar uma plataforma para vendas de cursos e mentorias, ainda focados em pessoas minorizadas, e abrir uma filial em São Paulo para se expandir geograficamente.
A Wakanda tem a previsão de faturar R$ 800 mil em 2022. Já para 2023 a startup projeta chegar à marca de R$ 1.5 milhão.