Uma das maiores preocupações de um empreendedor com uma empresa em crescimento é o acesso ao capital. Além disso, ele precisa garantir que a quantidade captada seja adequada para que não aconteçam falhas durante o caminho. Para atender essa demanda, existem hoje no mercado diversas opções de financiamento disponíveis para startup como é o caso do venture capital e do venture debt. Mas você sabe qual a diferença entre elas?
Diferente do venture capital, modalidade onde investidores aplicam recursos em empresas com alto potencial de crescimento e elevada rentabilidade, o venture debt é uma opção de financiamento, através de uma dívida não conversível, para startups que não possuem garantias ou geração de caixa suficientes para obter empréstimos tradicionais.
“O venture debt permite aos investidores exposição à startups e negócios com alto potencial de crescimento, porém com menores riscos e prazos de retorno mais curtos do que os investimentos via fundos de venture capital”, explica Gabriela Gonçalves, CEO do Brasil Venture Debt.
Ela ainda conta que no Brasil essa classe de ativo ainda é nova, mas que nos Estados Unidos esse mercado chega a representar cerca de 20% a 25% da fonte de captação de recursos de empresas que se financiam através de instituições de capital de risco.
Gabriela Gonçalves, CEO do Brasil Venture Debt.
Uma outra dúvida que pode surgir ao falar sobre venture debt é de como ela se remunera em contraste a uma operação de crédito tradicional. Gabriela conta que as operações de uma dívida de risco são remuneradas através de uma taxa de juros fixa e de um componente variável atrelado ao sucesso da startup, enquanto uma operação de crédito tradicional retira sua remuneração unicamente através de taxas de juros fixas, e que, em alguns casos, pode ter uma taxa de estruturação de crédito e o oferecimento de outros serviços da instituição concedente, como folha de pagamentos e conta corrente como outros adicionais.
“Nesse sentido, vale ressaltar que os fundos de venture debt se remuneram tomando risco junto com o empreendedor, e que o mercado financeiro tradicional busca ao máximo minimizar esse componente restringindo potenciais candidatos e impondo condições como exigência de garantias reais, necessidade de histórico financeiro sólido e relacionamento de longo prazo com a instituição emissora”, complementa ela.
Como entrar no radar dessas modalidades de investimento
Marcelo Sato, sócio da Astella Investimaentos, conta que fundos de venture capital buscam empresas que tenham em seu propósito solucionar uma dor, seja do mercado local ou global, e que iniciem a jornada de forma focada e precisa.
Marcelo Sato, sócio da Astella.
Para chegar nelas, portanto, observa-se 3 indicadores: crescimento, eficiência de crescimento e eficiência de capital humano. “ O crescimento da empresa, traz um desafio intrínseco que é a necessidade constante de capital humano qualificado. Buscamos empresas que são um atrator de talentos, seja pela cultura ou pelo desafio de sua missão”.
Em complemento ao que Sato diz, Gabriela conta que outra questão avaliada, além das citadas acima, e a de mais importância para o Brasil Venture Debt, é a estrutura sustentável comprovada da empresa avaliada. “Se não levantar capital, continua lucrativo?”, segundo ela é uma indagação feita para escolher em quem investir.
“Além disso, buscamos empresas que já tenham recebido aportes de fundos de venture capital ou investidores institucionais, com perspectivas futuras de novas rodadas de equity e preferencialmente, com parte relevante da receita sendo recorrente e burn rate baixo”, completa.
Assim, uma startup com esses pontos bem definidos em seu mapa estratégico possui mais chances de fechar um financiamento tanto na modalidade de capital de risco, quanto de dívida de risco.
Como o empreendedor pode usar o debt para complementar o equity
Existe também a possibilidade de um empreendedor escolher as duas modalidades de financiamento para levantar capital.
Gabriela explica que os aportes vindos de venture debt podem entrar nas empresas investidas em dois momentos. “Um desses momento é entre os rounds de captação, fornecendo ao negócio capital para alongar seu runway e fortalecer sua estrutura de capital, permitindo que melhore seus números/indicadores e alcance um valuation maior na próxima rodada negociada. O investimento captado via venture debt também pode ser usado no próprio round, alavancando o montante captado e permitindo assim um investimento de maior volume com menor diluição total dos sócios existentes tendo em vista que o venture debt, por si só, não acarreta diluição dos sócios”.
“Além de trazer uma menor diluição em sua participação, é um capital que pode ser acessado para explorar uma nova derivada estratégica não mapeada anteriormente quando foi captado com venture capital, reforçar o caixa devido a um “pivot” estratégico durante a jornada ou completar o funding da jornada quando o capital do VC não for suficiente”, completa Sato sobre a estratégia.
Venture capital e venture debt diante da covid-19
Gabriela revela que o atual cenário tem aumentado a demanda por venture debt, tanto por parte dos empreendedores quanto dos investidores. “Por ser um capital não diluente de participação acionária e de liberação mais rápida do que o capital oriundo de fundos de venture capital, o venture debt vem sendo usado pelos empreendedores para aumentar o conforto de caixa e alongar suas runways nesse momento de crise”, explica.
Em relação ao fundos de venture capital, Sato conta que a Astella não sofreu alterações em suas relações primárias e que continua olhando o mercado ativamente na busca de novas empresas para investir. “Claro que provocamos em nossas interações quais são as medidas “defensivas” e “ofensivas” que foram e serão implementadas pela startups durante e após covid-19”, reforça ele.
“Acreditamos que períodos de grande crise são catalisadores para o nascimento de empresas que de alguma forma são impulsionadas na fase de recuperação da economia”, destaca. Para ele, um exemplo disso é o mundo de SaaS (Software as a Service) que teve alta ascensão após a crise de 2008.
É importante destacar que os investimentos em startups brasileiras vêm crescendo nos últimos anos. Um levantamento da consultoria em inovação Distrito apontou que, ao todo, as startups receberam US$ 2,7 bilhões em aportes no ano passado. “É um crescimento de 80% na comparação com 2018, quando o total foi de US$ 1,5 bilhão”, conclui Gabriela.
O Startupi vem acompanhando de perto e publicando matérias e entrevistas com informações úteis para o ecossistema de startups neste momento de crise. Quer saber mais? Clique aqui.