Marc Andreessen é um dos investidores mais conhecidos e influentes do mundo tech. Em maio de 2012 a Wired publicou uma entrevista[1] com ele e o qualificou como “o homem que constrói o futuro”. Depois de ter fundado várias empresas (a mais conhecida delas foi a Netscape), tornou-se um importante (fundamental?) investidor do cenário global de tecnologia, especialmente software e, mais do que isso, aplicações para a web e redes sociais – investiu no Twitter, Airbnb, Skype, Skype, Instagram, entre outros. Criada em 2009, a Andreessen Horowitz[2] é uma das mais badaladas companhias de venture capital do Vale do Silício.
Na semana passada tivemos uma conversa com Andreessen aqui na Singularity University. Ele tem pensamento e fala rápida, ideias claras e muita experiência acumulada. A conversa foi boa. Seguem algumas respostas dele às perguntas feitas pelo Peter Diamandis e a turma. Atenção: a síntese das respostas é minha.
Qual é a chave para o sucesso em empreendimentos de tecnologia?
80% do sucesso de um empreendimento de tecnologia depende de estar em um mercado que está pronto para crescer!
Os melhores empreendedores são aqueles que visualizam e compreendem uma oportunidade de mercado quando os outros ainda não viram.
Você investe fora do Vale?
Não investimos fora do Vale. Somos um ‘negócio boutique’.
Mas outros estão investindo, como o Accel[3]. Israel, China e Brasil estão aí, atraem investimento.
Para tudo o que fazemos há um enorme custo de oportunidade, por isso é difícil sair do Vale. Para cada investimentos feito há 10 que deixamos de fazer.
O grande problema de qualquer lugar fora do Vale do Silício é que você não tem a massa crítica de talento que há aqui.
Fazem investimentos em hardware?
É uma outra história. Também fazemos, mas bem menos. Investimos em impressão 3D.
A questão é que a empresa clássica de venture capital não está estruturada para financiar uma empresa que requer mais que US$ 75 mi, como pode ser necessário no caso de empresas de hardware.
Temos um foco em share economy, com empresa como airbnb e lyft, por exemplo. Essa área vai crescer.
Como um empreendedor deve se preparar para abordar investidores?
Se trata fundamentalmente de desenvolver a capacidade de mostrar para o investidor que há um processo pensado, montado para ir eliminando riscos ao longo do tempo, a cada rodada de investimentos.
Os passos para isso são: (i) mapear riscos, (ii) definir marcos críticos no processo de desenvolvimento do negócio, (iii) eliminar gradualmente os riscos a cada rodada de investimentos. Fazendo isso você deixará claro para o investidor os riscos que ele está correndo.
Se alguém me apresenta uma boa ideia e conta uma história convincente mostrando como irá eliminar os riscos e cumprir os marcos do projeto ao longo do tempo… eu topo investir.
O ponto é fazer as pessoas entenderem que você é tão bom que elas não podem não investir!
Qual é o segredo para bons projetos? Ou melhor… quais são os princípios para não falhar?
A primeira questão é que não existem ‘balas de prata’, não há ‘resposta mágica’. Tudo demanda muito trabalho, tem que construir o negócio.
As pessoas muitas vezes querem uma saída fácil. Não existe. É preciso trabalhar duro.
O segundo ponto é nunca deixar de desenvolver o negócio e ajustar o que for preciso. Mas não pode ser um desenvolvimento contínuo de algo que nunca fica pronto. Há um equilíbrio tênue entre ‘pivotar’ e desistir do negócio, não é fácil.
Há por aí um certo sentimento de que você pode ter uma companhia que fatura bilhões e pode ter apenas um time muito pequeno trabalhando lá. Isso é um erro… isso nunca aconteceu de verdade até agora. Olhe o Google e o Facebook, cada uma tem dezenas de milhares de pessoas hoje.
E como é tomar decisões de investimento?
Analisamos cerca de 3000 projetos por ano na Andreessen Horowitz, sendo uns 400 em seed, early stage mesmo. Então a questão do sucesso no investimento está muito associada a investimentos realizados ‘no tempo certo’.
Como disse, nossos custos de oportunidade são muito grandes.
Quais foram os principais erros que você cometeu como investidor?
Os principais erros que cometi foram quando subestimei coisas que são exponenciais.
Veja o Google, por exemplo…. tínhamos um modelo… ‘sabíamos’ que ‘busca’ era uma fonte de custos e não uma fonte de receita. O Google encontrou um modelo e cresceu exponencialmente.
Outros exemplos de coisas exponenciais que não vi como investidor: eBay, SpaceX.
Na gestão da empresa: é muito difícil visualizar os seus erros quando a sua empresa está crescendo exponencialmente.
Que tipo de pessoa vale contratar ou apostar em um time?
Eu presto atenção em três coisas: ética, curiosidade e drive. Procuro pessoas com essas três características.
Veja…. eu não disse QI, formação em Harvard ou Stanford, títulos etc. Outras companhias procuram por isso, eu não.
Note… alguém que atingiu 100% de desempenho em um lugar como Stanford precisa ser muito ajustado ao sistema, provavelmente não é um ‘inventor’, mas sim um ‘seguidor’. Há todo um sistema, é muito competitivo e você tem que seguir à risca para ter um super aproveitamento.
Existem outras escolas nos EUA, acho que as coisas estão muito desbalanceadas na busca de times para companhias de alto crescimento. Eu não iria recrutar somente em Harvard, na verdade iria para outros estados, outras escolas.
Quais são as mudanças no cenário de tecnologia e investimentos?
Crowdfunding. No futuro todo mundo do planeta estará fazendo crowndfunding de uma forma ou outra. A share economy emergindo, talvez em algum momento cheguemos a 100% de utilização de ativos como os carros e tenhamos uma disrupção nesse mercado, por exemplo; vamos ver o que acontece com a Lyft.
Uma mudança fundamental é que os times que trabalham com hardware e software estão se conectando. Há 10 anos atrás o pessoal de Harvard não entendia de software e vice-versa, o pessoal do Vale do Silício não entendia de hardware. Agora os mundos já conversam.
Também há uma grande mudança em como o capital está sendo alocado. Os fundos fechados/privados de seed e venture são um fenômeno novo.
Comentários ou opiniões expressados neste site são de responsabilidade do autor. As visões não necessariamente representam as da Singularity University, seus gestores ou colaboradores. A Singularity University não é responsável pela confiabilidade do conteúdo expressado pelo autor.
Singularity University, 10^9+, Ten to the Ninth Plus, marcas relacionadas e logomarca são de propriedade da Singularity University e são registrados e/ou usados nos Estados Unidos e em outros países.