* Por Elber Mazaro
No ano de 2021, escrevi um artigo com tema de Transformação Digital na Prática, aproveitando um conjunto de conteúdos digitais que preparei para um curso online, com base na minha experiência de mais de 30 anos na área de tecnologia.
Agora, retomo ao tema, usando a experiência de ter sido o condutor de um workshop sobre o tema de transformação digital, desenvolvido junto à liderança da américa latina de uma grande multinacional do setor químico.
Originalmente, fui convidado para dar uma palestra e depois de conversar com os organizadores (gestores que comandam o processo de transformação digital na empresa), mudamos para a participação em dois eventos, um como alguém para provocar reflexões e trazer algumas conclusões sobre palestras e conteúdos apresentados por outros experts; e depois sendo efetivamente o condutor de um conjunto de atividades com os líderes, a partir do conteúdo do primeiro evento. Ambos os eventos foram online, em uma plataforma de colaboração, já que os líderes da empresa estavam em diferentes países e fizemos tudo em inglês.
Entendi que os meus aprendizados desses eventos, seriam uma sequência muito apropriada para o artigo de Transformação Digital na Prática, e por isso compartilho-os, aqui, como lições e insights.
Como este artigo tende a ficar muito longo, vou tentar ser mais objetivo e direto.
O primeiro insight foi a conexão do tema de transformação digital com o papel da liderança. A liderança de todas as áreas de negócio e gestão de uma empresa precisa estar comprometida, dar o exemplo e se responsabilizar para que a transformação digital atenda seus objetivos e para isso precisa se capacitar / educar. Esse foi o esforço louvável que vi, nos eventos.
A transformação digital precisa ser conceituada e algum modelo deve ser adotado para que se definam objetivos e processos claros e depois esses possam ser atingidos / executados. Existe muito conteúdo e muito ruído sobre o tema, no mercado.
Eu fiquei surpreso ao ver que muitos dos executivos não tinham total visibilidade das iniciativas que já estavam sendo desenvolvidas na própria região e até na própria área, sem perceber o quanto já se trabalhava com o assunto. Muitas vezes somente não se classificava a atividade como parte dos esforços de transformação digital. E na empresa em questão, muita coisa já estava sendo feita, desde automação industrial, digitalização comercial e até apps internos para otimização de processos.
Uma vez que todos entendam o significado e todas as fases da transformação digital buscada, fica mais fácil identificar, alinhar e comunicar as iniciativas, que podem ter um roadmap de um grupo central / gestor, onde muitas iniciativas pulverizadas em diversas unidades de negócio, precisam ser consideradas.
Outro elemento de conhecimento relevante foi o entendimento da evolução da tecnologia, e das oportunidades para a tal transformação digital, ou seja, é papel do líder promover um mindset tecnológico e construir uma cultura de aprendizado contínuo, inclusive no tema tecnologia, portanto, conhecer blockchain, inteligência artificial, internet das coisas, scrum, etc, não é opcional.
Uma coisa que não estava tão presente nas apresentações e chamou minha atenção é o fato de se reforçar constantemente o “porquê” da transformação digital. Nesta empresa é uma diretriz global, que faz parte do discurso do CEO e do seu staff, com investimentos etc. Concluímos que toda oportunidade deve ser aproveitada para se reforçar o porquê de se buscar a tal da transformação digital e quais os benefícios e impactos desta para a corporação, mas principalmente para as pessoas.
Nós pudemos exercitar a conexão dos pilares do planejamento estratégico, com foco em 2030, com as ações e a própria alocação dos executivos ao redor das iniciativas de transformação digital. Cada pilar tinha profissionais alocados para detalhar o planejamento geral do negócio e aí a transformação digital precisa ser incluída e não ficar em um item à parte, isolado. Os pilares do caso estavam relacionados a crescimento, inovação, sustentabilidade e pessoas.
No reforço do tema inovação e crescimento, foi bacana, poder conectar a transformação digital tanto no porquê, ou seja, como objetivo, mas também como viabilizador e principalmente como condição “sine qua non” para o sucesso. A transformação digital, na maioria das vezes, ocorre pela necessidade de inovação (todos os tipos), que se dá para a própria sobrevivência e competitividade da organização no mundo (VUCA / BANI….)
A evolução dos processos, implica com certeza em mudanças importantes em diversos níveis do negócio e por isso a capacitação geral, a partir das lideranças em “Change Management” se mostrou importantíssima e prioritária.
Interessante foi observar a percepção sobre o tempo. O sentimento de se estar atrasado ou ficando para trás e a consequente ansiedade ou necessidade de se acelerar. Isso normalmente traz para o jogo, do tema e os processos de agilidade (agile), com os squads multidisciplinares, as missões etc. Prazos claros, associados a ganhos de curto, médio e longo prazos, do tal roadmap de transformação digital podem ser relevantes para o alinhamento das expectativas. Estamos falando de uma transformação que em grandes empresas pode superar uma década para acontecer.
Na área de gestão do conhecimento, já destaquei a importância de se compreender o que já está acontecendo, o entendimento da evolução de tecnologia em si, e de um método a ser adotado. Isso pode ser complementado pela consciência de que na essência da transformação digital está a gestão de dados/informações, para que efetivamente se realize a transformação do negócio em digital (e não há como fazê-lo sem essa gestão dos dados que serão a base de produtos e serviços digitais).
Outro insight é que, sem dúvidas, a jornada de transformação digital para uma empresa, especialmente no caso de um segmento tradicional de extração e transformação, não será solitária, e deve contar com muita ênfase em integração e parcerias em todos os níveis possíveis, dentro e fora da organização.
No final, as pessoas devem estar no centro do processo de transformação digital, considerando a necessidade de evolução da cultura, e o consequente desenvolvimento de novas habilidades e novos comportamentos. A boa definição de objetivos, papéis, expectativas para cada indivíduo, com reforço nos aspectos da liderança é fundamental. Todos devem aprender muito, constantemente, mas o fundamental será o conjunto de ações de cada pessoa.
Ficou claro que não há uma receita perfeita para ser seguida, que garanta o sucesso na transformação digital, mas sim, muitas lições, e insights / aprendizados que devem ser apropriados pela organização durante a jornada, organizada e planejada, mas também flexível e ágil.
Realmente acredito que não há opção, todos os negócios e todas as organizações, terão de passar por sua própria transformação digital, que nos moldes da “Revolução 4.0”, deve integrar, mais cedo ou mais tarde, o mundo digital, ao físico e ao biológico, com amplitude, disrupção, impacto sistêmico e agilidade/velocidade. E assim, todas as pessoas serão impactadas, direta ou indiretamente, inclusive você!
Portanto o caminho é: mãos à obra!
Caso você ache que algo neste artigo pode ser útil na sua própria transformação, gostaria de saber e receber uma mensagem? Que tal?
Elber Mazaro é assessor/consultor, mentor e professor em Estratégia, Tecnologia, Marketing, Carreiras/Liderança e Inovação/Empreendedorismo. Atua há mais de 25 anos no mercado, liderando negócios no Brasil e na América Latina. Possui mestrado em Empreendedorismo pela FEA-USP, pós-graduação em Marketing e bacharelado em Ciências da Computação.