Por Bruna Galati
O Brasil tem mais de 65 mil pessoas reconhecidas como refugiadas, segundo um levantamento do Comitê Nacional para Refugiados (Conare) e da Acnur, agência da ONU. Em abril, a nacionalidade que mais solicitou o reconhecimento da condição de refugiado foi a venezuelana, com 2.227 pedidos. Os cubanos vêm em segundo lugar, com 1.014. Eles saem de seus países por inúmeras razões, como situações de pobreza, violência, fome e vulnerabilidade social.
Ao deixarem seus países em busca de escapar dos problemas, muitas vezes, ao chegarem ao Brasil, percebem que a nova realidade não difere tanto daquela que deixaram para trás. A empregabilidade dessas pessoas no país é uma das principais dificuldades.
“As pessoas saem dos seus países em busca de oportunidades no Brasil, mas, na maioria das vezes, continuam em situação de vulnerabilidade e subempregos por barreiras linguísticas e preconceitos em processos seletivos por conta de seu perfil”, afirma Bruna Amaral, CEO da Toti Diversidade, startup que trabalha com ensino e inclusão de pessoas refugiadas e migrantes no mercado de trabalho de tecnologia.
E a escolaridade não representa um obstáculo significativo, visto que 34,4% dos refugiados entrevistados pela ONU concluíram, no mínimo, o Ensino Superior. “Esses dados demonstram que a falta de escolaridade não é o empecilho para a contratação desse grupo de pessoas no Brasil. O que falta é o preparo e políticas dentro das empresas para absorver essa força de trabalho desperdiçada”, diz a CEO. Em busca de uma solução para o problema, a equipe da Toti Diversidade encontrou uma saída na área da tecnologia.
Surgimento da Toti
A Toti Diversidade é uma startup carioca que surgiu da visão de alunos enquanto ainda estava na faculdade. A equipe de fundadores é composta por seis membros com formações diversas, como Relações Internacionais, Administração, Engenharia de Produção e Engenharia Elétrica.
A ideia do projeto começou a ser desenvolvida em 2017, quando o Brasil se destacava internacionalmente no acolhimento de pessoas refugiadas e imigrantes, chegando a acolher quase dois milhões de pessoas. O primeiro curso de tecnologia do programa foi lançado em 2018.
Segundo Caio Rodrigues, Diretor de Negócios da startup, a área da programação e TI é uma grande oportunidade para migrantes e refugiados no Brasil. “Esse é um segmento que está em crescimento exponencial, muitas vezes com mais vagas do que profissionais para preenchê-las. Além disso, a faixa salarial é significativa, proporcionando assim uma renda suficiente para que essas pessoas tenham uma vida digna.”
Em fevereiro de 2022, a startup recebeu um aporte do programa Semente Preta do Nubank. O aporte foi destinado para estruturar a empresa, aumentar a equipe e ampliar o impacto. Já em agosto deste ano, a startup finalizou a formação da sua primeira turma de alunos realizada com o cliente Itaú Unibanco.
Ao todo, 50 estudantes foram selecionados para a oportunidade gratuita de formação em generalista em tecnologia, um curso de conteúdos introdutórios na área. “A pessoa formada neste curso pode desempenhar qualquer função inicial em programação. Depois disso, se escolher, ela pode ingressar em outros cursos da Toti Diversidade para se especializar em outras vertentes do universo da programação”, afirma Bruna Amaral.
A turma foi formada por alunos de sete diferentes nacionalidades (Angola, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Haiti, Tunísia e Venezuela) que residem atualmente em nove estados brasileiros: Amazonas, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina e São Paulo.
Aulas da Toti Diversidade
As formações da Toti são estruturadas para abordar conteúdos alinhados com as demandas do mercado atual, incluindo técnicas, metodologias ágeis soft skills, python, front-end, back-end, ciência de dados, suporte técnico e etc. O foco central é a empregabilidade e garantir que os alunos alcancem sucesso na área de tecnologia.
Atualmente, o time de educação da Toti Diversidade conta com cerca de quarenta e cinco professores, muitos são desenvolvedores sêniores em grandes empresas de tecnologia. Eles recebem remuneração por seu trabalho e passam por treinamentos específicos de didática e pedagogia para aprimorar suas habilidades como educadores.
Os programas de formação da Toti Diversidade têm duração que varia de 2 a 5 meses e são compostos por aulas semanais online, e a execução de projetos práticos. Essa abordagem prática permite que os alunos construam seus portfólios ao longo do programa.
Para participar dos cursos, os alunos passam por um processo seletivo com alguns critérios:
- O momento de vida dos candidatos é avaliado. Por exemplo, alguns ainda não estão fixos em uma residência e precisam mudar de estado em um período próximo, isso pode afetar o acompanhamento do curso, considerando que ele tem duração de cinco meses;
- A Toti Diversidade procura candidatos com estabilidade e acesso à internet, garantindo que eles possam concluir com sucesso o curso;
- Embora a diversidade não seja um critério de aprovação, a startup valoriza candidatos de diferentes origens, raças, gêneros e orientações sexuais, buscando criar uma comunidade inclusiva e representativa no campo da tecnologia.
- A renda dos candidatos também é avaliada para garantir que a startup atenda àqueles que mais precisam de apoio financeiro.
A startup também criou uma comunidade de ex-participantes e novos aluns para manter relacionamentos contínuos, criando uma rede sólida de apoio, desenvolvimento e compartilhamento de conhecimento.
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Empresas parceiras da Toti Diversidade
Além da formação gratuita na área de tecnologia para refugiados e imigrantes em situação de vulnerabilidade, a Toti Diversidade opera no modelo B2B em dois formatos. O primeiro é para auxiliar empresas que desejam contratar profissionais com foco em diversidade, a indicação é feita de forma gratuita e de acordo com a demanda da companhia. O segundo formato é monetizado e as empresas financiam a formação de um número de pessoas com o objetivo de contratá-las no final do curso, como aconteceu com o Itaú.
“Já impactamos mais de 660 pessoas diretamente e mais 3 mil indiretamente, desde nossa fundação. Com atuação em todo Brasil, já trabalhamos com pessoas vindas de 35 nacionalidades, conseguimos gerar o aumento médio de renda para os profissionais contratados de 200%”, comemora Bruna.
Segundo a CEO, já são 40 empresas no portfólio da Toti Diversidade, como o Instituto Nu, a agência da Organização das Nações Unidas para Migrações (OIM), em parceria com o escritório do Québec em São Paulo; Grupo Globo; Banco Neon; Banco Itaú, Albert Einstein.
A Toti Diversidade tem como meta para 2023 impactar a vida de 13 mil pessoas e para isso, criará sua própria plataforma virtual de aprendizagem – no momento o ambiente não é proprietário. Esse novo espaço será projetado para oferecer aos alunos uma experiência de aprendizado adaptativa e personalizada de acordo com as necessidades de cada aluno.
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