*Por por Rodrigo Arnaut e Henrique Prado, correspondentes Startupi em Austin
Com alguns números na cabeça, Sugawara falou um pouco da grandeza da Universidade de Tokyo, ao comparar as 612 invenções divulgadas por ano com as 795 do MIT, sendo que duas delas criadas pelo seu time foram compradas pelo Google: a Phyzios em 2013 e a Schadt no ano seguinte.Entre outros números que enriquecem o poder da Todai estão as 100 startups distribuídas nas categorias Hardware, Robótica, IoT, BioTecnologia, Software, Saúde e Transmídia (Media Art). Das 15 finalistas, escolheram os 8 “esquisitos” que se sagraram vencedores e foram selecionados para vir ao Texas nesta edição do SXSW: Otopot, Hotaru, Smile Explorer, Xenoma, Phonvert, Bubbly, Ubisnap e Aimedical.
Estes ganharam suporte do projeto, que incluí todas as despesas financeiras com a viagem, espaço para exibição no evento, logística e até um treinamento para demonstrações. Um outro dado interessante sobre o Todai é que das 10 startups que utilizaram o Kickstarter (plataforma de financiamento coletivo), 7 obtiveram sucesso. Sensacional, né?Mas por que eles são denominados “esquisitos”? A resposta está em um programa denominado “Erato” do Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia japonês, que tem investido em inovações científicas desde os anos de 1980 e dele surgiu o “weird research program”. Este é responsável por fomentar e fazer recomendações para encontrar os tais talentos “esquisitos” que buscam investir em pesquisas mais inusitadas.
Totalmente livres para fazer o que quiserem, os “esquisitos” se tornaram uma grande força motriz para as startups do Todai. Mais do que isso, fez com que grandes mercados voltassem seus olhos para o Japão como referência sobre empreendedorismo em terras orientais.
Apesar do Japão ter a imagem de um país tecnologicamente consolidado e futurista, após a reconstrução de seu poderio econômico nos anos de 1960 e 1970, a cultura de criar empresas startups surgiu recentemente. Por ter passado por algumas recessões, mas ainda assim conseguir ficar na crista da onda por tantos anos com empresas como Sony e Mitsubishi, o povo japonês passou a colocar sua confiança mais em grandes empresas e menos em pequenos empreendimentos. Os novos tempos, entretanto, forçam o povo japonês a rever seus velhos conceitos.
E como não poderia ser diferente, é na energia e vitalidade juvenil que surgem as propostas de mudanças nos modelos de negócios. Como o panelista Masaki Sugimoto, que iniciou uma startup pela comunidade do seu “Lab-Café” e também por suas pesquisas na Universidade de Tokyo.
O outro lado da história, porém, é mais dramático. O que pode ser verificado em empresas seculares como Sharp e Toshiba, que passam por dificuldades econômicas, além de terem de enfrentar a concorrência cada vez mais acirrada de outros países asiáticos como a Coréia do Sul e China. Mas nada impede que os japoneses recorram com mais firmeza à sua criatividade tecnológica. A mesma que por anos nos trouxe as lapiseiras e o nintendinho, agora terá de reconquistar sua relevância no mercado digital.
Felizmente é possível averiguar que os jovens japoneses ainda possuem um gene único para a tecnologia. Pequenos acessórios como Otopot, uma das startups selecionadas este ano espelham a sensibilidade e dedicação do espírito japonês. Trata-se de uma pequena jarra que grava um arquivo de áudio. Toda vez que a tampa é aberta, o áudio é reproduzido. Quando virado, à medida que se ouve o som da água caindo indica que a memória inscrita no recipiente fora apagada. Parece pueril, mas as aparências se enganam quando por trás de uma invenção carrega-se toda a leveza de um acessório pensado poeticamente e com o carisma oriental japonês.
Já o Phonvert, também em exposição neste SXSW, é um aplicativo que reutiliza smartphones velhos e esquecidos para “smartizar” a sua casa. Uma ideia que transparece o conceito de reutilização e consciência ambiental impregnada na cultura japonesa há milênios. Coloque-o na geladeira e ele lhe mostrará o que está em falta; coloque-o em sua porta e ele te transmitirá quem chegou.
O professor Yoshihiro Kawahara, da Universidade de Tokyo, concedeu um rápido depoimento para o Startupi logo após o painel:
Dentro das universidades japonesas existe uma grande força criativa vinda dos jovens, e que o sucesso das gerações anteriores ajuda muito principalmente aumentando a quantidade de ‘investidores anjos’ que colaboram com suas experiências de mercado. O resultado atraiu a atenção de maiores investimentos em startups nos últimos anos. Desta forma, credito que se aplicarmos o devido esforço, poderemos ver boas novidades vindo novamente do Japão.
Satisfeito com o resultado de um projeto de apenas três anos de vida, conseguir a seleção de 24 startups para o SXSW, o moderador do painel e professor Taketo Sugawara reforça o convite ao final de sua participação no painel: conhecer a Todai e também se colocar à disposição de qualquer comunidade do ecossistema de startups para falar da rede que possuí hoje com mais de 1600 ex-alunos. Eis o Sol Nascente sempre brilhando e disposto a trocar informações sobre suas experiências no mundo do empreendedorismo contemporâneo.