A crise do novo coronavírus (Covid-19) já provocou muitas mortes no Brasil. No mundo, o número de pessoas infectadas supera 340 mil. Com essa pandemia, nós tivemos um aumento na procura por máscaras e álcool gel. Nos hospitais, funcionários de unidades de saúde de São Paulo já denunciaram à ouvidoria do Sindicato dos Trabalhadores da categoria a falta de materiais de proteção individual para os profissionais realizarem seus trabalhos.
Na internet, uma foto de médicos usando saco plástico no lugar de equipamento de proteção no Hospital Salgado Filho, Zona Norte do Rio de Janeiro, viralizou.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a escassez desses materiais de proteção os põe em risco e pediu um aumento de 40% na produção global para fazer frente à demanda.
Uma das medidas anunciadas pelo Governador João Doria na última terça-feira foi que presos de São Paulo vão confeccionar 320 mil máscaras para proteção. “Serão produzidas 26 mil peças por dia, seguindo os critérios sanitários e de confecção para a produção destas máscaras, que terão um custo para o Governo de São Paulo de R$ 0,80 por peça. É uma atitude correta, solidária e possível de ser feita. Pode ser um exemplo também para outros Estados brasileiros”, disse Doria.
Além destes itens básicos, existe um aparelho fundamental no combate ao coronavírus: os respiradores. Um dos sintomas da doença é a dificuldade para respirar, por isso, pessoas contagiadas podem precisar de internação e passam a respirar com a ajuda de aparelhos. O que esses respiradores fazem é levar o ar por um tubo na traqueia dos pacientes para os pulmões. Sem esse procedimento, os pacientes podem morrer.
No Brasil, cerca de 60% dos municípios brasileiros — nos quais vivem 33,3 milhões de pessoas — não têm nenhum respirador disponível em suas unidades de saúde. A informação é resultado de um cruzamento feito pelo UOL com dados do DataSUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O levantamento mostra que o País tinha em janeiro 61.219 respiradores e ventiladores em funcionamento. De acordo o Ministério da Saúde, 43.733 deles estão à disposição de pacientes do SUS.
Tecnologia como aliada
Muitos empreendedores, startups e Universidades estão se juntando para tentar solucionar essa dor com a ajuda da tecnologia.
Thabata Ganga, Engenheira Biomédica, ativista pela ciência e maker, ficou sabendo que engenheiros italianos estavam se mobilizando para ajudar os hospitais durante a crise da Covid-19 com o auxílio da impressão 3D e pensou que poderia fazer o mesmo aqui no Brasil.
“Movimentei as minhas redes de contatos de makers, fablabs e cientistas e começamos a pensar em alternativas para ajudar a saúde do país nesse momento. Pensando na falta de respiradores artificiais para atender a população que pode vir a adoecer, criei uma rede de designers, engenheiros e pesquisadores para produzir peças para máquinas hospitalares”, contou ela em entrevista ao Startupi.
Hoje a iniciativa possui mais de mil pessoas cadastradas no formulário de apoiadores, 10 grupos no Telegram com mais de 100 pessoas em cada. Além de diversos outros grupos independentes da rede que estão desenvolvendo alternativas semelhantes.
Até o momento, foram mapeados dois principais tipos de equipamentos: Segurança e Ventilação. A Segurança inclui todo tipo de equipamento que pode proteger os profissionais da saúde como: óculos, máscaras, macacões e viseiras. Já existem diversos modelos de máscaras e viseiras sendo impressos no Brasil inteiro, todos baseados em modelos abertos (open source) e melhorados por equipes interdisciplinares.
Segundo Thabata, os projetos de Ventilação são os mais emergenciais, pois são extremamente necessários para os pacientes da U.T.I.
Existem vários grupos desenvolvendo projetos abertos de ventiladores, alguns em fase bem avançadas – como na USP, FIAP, UFMG e UEPB. Ela conta que também estão articulando dentro da rede para que esses projetos sejam adaptados para produção industrial e fabricado dentro do rigor necessário para um equipamento de saúde. Ela também está desenvolvendo um plano emergencial junto à Casa Civil da Presidência da Republica e discutindo com o Ministério da Saúde e com a Anvisa uma metodologia segura para a produção utilizando a impressão 3D.
Os equipamentos de EPI feitos por impressão 3D, como as máscaras faceshield, custam menos de R$ 10,00. Os ventiladores feito em fablab custam R$ 600,00, porém o projeto está em fase de adaptação para a produção industrial e ainda estão levantando os custos. Os financiamentos virão do Governo, do Ministério Público e de doações de empresas e dos voluntários.
Eles também estão desenvolvendo uma plataforma online para gerenciar a logística, desde o pedido do hospital, até a entrega dos equipamentos. Otimizando a distribuição geográfica da produção e entrega.
“É maravilhoso ver que as pessoas do Brasil inteiro estão se mobilizando voluntariamente para buscar soluções tecnológicas para combater a pandemia, isso é muito importante!”, destaca a Engenheira Biomédica.
Caso você queria ajudar como voluntário, basta acessar o formulário.
A Stratasys também anunciou uma mobilização global dos recursos e experiência em impressão 3D da empresa para responder à pandemia da Covid-19. A iniciativa, que envolve a Stratasys, a GrabCAD, a Stratasys Direct Manufacturing e a rede de parceiros com capacidade de impressão em todas as regiões, tem como foco inicial o fornecimento de milhares de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) descartáveis para os profissionais da saúde.
Nos Estados Unidos, a Stratasys estabeleceu uma meta inicial de produzir 5 mil máscaras do tipo escudo facial até sexta-feira, 27 de março, sem nenhum custo para os destinatários. Isso inclui uma moldura impressa em 3D e um escudo de plástico transparente que cobre todo o rosto. A capacidade de produção pode ser ampliada.
Um dos principais hospitais do mundo disse à Stratasys que eles usam 1.530 protetores faciais descartáveis toda semana, mesmo sem o surto criado pela Covid-19, e que, no momento, está com o estoque para menos de seis dias, com a pandemia ainda em construção.
A Stratasys na América Latina, através de seu escritório regional, também está trabalhando em iniciativas locais em parceria com seus clientes, revendas autorizadas e outros players do mercado de impressão 3D para atender à demanda de dispositivos médicos que possam ser úteis no combate contra a disseminação da Covid-19.
“Estamos orgulhosos com a oportunidade de ajudar nesse momento. Vemos a manufatura aditiva como parte essencial da resposta à epidemia global da Covid-19”, afirma Yoav Zeif, CEO da Stratasys. “Os pontos fortes da impressão 3D – em qualquer lugar, imprima praticamente qualquer coisa e adapte-se rapidamente – fazem com que ela se torne um recurso importante para ajudar a resolver a escassez de peças relacionadas a protetores, máscaras e ventiladores médicos, entre outras coisas. Nossos colaboradores e parceiros estão preparados para trabalhar o tempo todo para atender à necessidade de impressoras 3D, materiais, incluindo os biocompatíveis, assim como peças impressas em 3D.”
A empresa também planeja responder à crise de outras formas. Uma iniciativa liderada por residentes em anestesiologia do Hospital Geral de Massachusetts, chamada de CoVent-19 Challenge, planeja pedir a engenheiros e projetistas que ajudem a desenvolver um novo ventilador médico de rápida implantação e outras soluções inovadoras para a falta desse tipo de equipamento. A Stratasys apoia o desafio e irá promovê-lo através de sua comunidade GrabCAD, que tem mais de 7 milhões de designers, engenheiros, fabricantes e estudantes.
Quem também se mobilizou com a causa foi Helbert Paranhos, sócio-fundador da 3D Tech Brasil, situada em Joinville, que está utilizando impressão 3D para produzir máscaras. O equipamento, chamado de “face-shields”, redobra os cuidados no contágio do vírus ao proteger os médicos, socorristas e enfermeiros, para além da máscara hospitalar convencional.
Ele também criou uma rede de apoio entre os profissionais do setor. Quem tiver ou trabalhar com impressoras 3D, receberá os arquivos e instruções de impressão. A produção então será capitalizada e distribuída nos centros de saúde do Estado.
Um grupo multidisciplinar, formado por professores e servidores técnicos administrativos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), também se juntou para levantar, projetar, desenvolver, produzir e distribuir equipamentos médicos de emergência para combater a pandemia da Covid-19.
A partir da demanda de mercado, eles estão desenvolvendo ventiladores, aventais e máscaras a baixo custo através de impressão 3D ou métodos simples de confecção.
Se você possui equipamentos para sua unidade de saúde, possui maquinário para ajudar na produção de equipamentos ou possui insumos usados na produção destes equipamentos para doar ou vender, é possível entrar em contato com o grupo através deste link.
O STARTUPI está acompanhando as ações que o ecossistema de startups, incluindo as universidades, está fazendo para ajudar empreendedores a criarem soluções para hospitais, empresas e pessoas. Se você tem alguma informação e quer compartilhar com o mercado, fale conosco pelo contato@localhost