* Por Sergio Roque
Eu falo palavrões. Um defeito que tenho.
Justifico dizendo que fui criado pelo ser com mais amor no universo, minha mãe, e que ela fala muito palavrão quando está feliz e mais ainda quando está nervosa. Meu pai, não tão amoroso, também fala palavrões. Pensando bem toda minha família fala bastante palavrão.
Outra justificativa que me dou constantemente é que palavrões são criações do homem, convenções sem sentido, que mudam com o tempo, língua, cultura, lugar e por aí vou solidificando em meu interior que eu estou certo e quem não quiser escutar que não fique do meu lado. Falo a mim mesmo que todo mundo fala palavrão hoje em dia e que é hipocrisia.
Porém, sei que não é verdade. Sei que meu temperamento me leva a ser autêntico e como gosto de enfatizar meus argumentos com palavrões faço isso constantemente.
Ou seja, como qualquer defeito, eu falo palavrões porque me dá prazer. Simples assim.
Mesmo quando nos prejudicam. Em várias ocasiões recebi retornos claros de que tinha me excedido, ou de que não era muito bom para minha imagem, ou de que prejudicaria meu trabalho ou simplesmente que não era bom exemplo.
Contudo meu mecanismo interno continua a agir, os códigos continuam a serem disparados, os estímulos continuam a serem gerados interna e externamente, as reações continuam as mesmas, as desculpas continuam funcionando justificando a mim mesmo meu comportamento.
É necessário esforço. É necessário querer mudar. Minhas justificativas vão por água abaixo quando penso nas pessoas que foram criadas de forma diferente por pais que tinham aversão a palavrões, por pessoas cujo temperamento valoriza toda e qualquer ordem e convenção, por pessoas que se sentem feridas quando ouvem.
Tudo isso veio à tona, depois de mais de cinquenta anos, sem o mínimo esforço da minha parte, por algumas razões:
A primeira foi alguns retornos sobre um trabalho que considero importante e quero divulgar. Eu preciso mudar.
A segunda, minha mãe já velhinha e doente, me disse outro dia, quando escutou um palavrão meu, que ela não me criou assim. Que eu não devia ser mal-educado. É claro que a culpa não é mesmo dela, é minha. Eu não tenho justificativas válidas para não mudar.
A terceira veio de um livro surpreendentemente bom. O Efeito Gatilho do Marshall Goldsmith (Companhia Editora Nacional). Nele ele descreve um processo de mudança no qual um cliente dele ficava com muita raiva com barulhos de pessoas tomando líquidos, principalmente com gelo, e sua esposa sempre fazia quando eles paravam para tomar algo e descansar no fim do dia. O que deveria ser prazer se tornava um tormento.
Enfim, ele usou da técnica, que agora também uso para mim mesmo e para meus clientes, e conseguiu mudar, até mesmo bem rapidamente. É possível mudar.
Eu tenho o mesmo problema. Não suporto os sons vindos das pessoas bebendo ou comendo do meu lado, principalmente quando está um silêncio em volta e outro dia, assistindo televisão com meu filho, ele veio comer sucrilhos do meu lado e eu estourei e mandei-o comer em outro lugar. Mas sou eu que tenho que mudar e não os outros.
Vejam a sequência de descobrimentos no processo de mudança, pois ela é similar a todos:
– Eu preciso mudar
– Não tenho desculpas para não mudar
– É possível mudar
– Sou eu que tenho que mudar
Mudar é um esforço de autoconhecimento, reflexão e tomada de ação contínua.
Eu imagino que você me pergunta: você mudou e não fala mais palavrões?
Eu dou risada e imagino que te respondo: Venha assistir meu próximo workshop e saberá.
Quem sabe pelo menos um de nós dois tente ser melhor a cada dia de vida.
Sergio Eduardo Roque é coach executivo e de vida com foco em processos de autoconhecimento na SerOQue Desenvolvendo Pessoas. Com formação em engenharia (FAAP) e marketing (ESPM) atua há mais de 25 anos no mercado como executivo e empreendedor.