Quando soube que a Ana Paula Gaspar Gonçalves, fundadora do guia colaborativo de museus Mutz, ia passar seis semanas em uma imersão sobre economia criativa nos Estados Unidos, logo pedi que ela montasse um relato, para que os leitores do Startupi pudessem ter um gostinho. Ana é historiadora e especialista em mídias sociais e se define como “apaixonada por museus e empreendedorismo criativo”. Ela criou o Mutz com o objetivo de conectar pessoas e museus por meio da internet e das mídias móveis, ampliar e modernizar a visitação aos museus no Brasil.
Com vocês, a Ana, direto de Belo Horizonte!
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Uma série de condições sociais, econômicas, legais, políticas e tantas outras dificultam o casamento entre negócios e cultura no país. Apesar de todos os movimentos de incentivo ao empreendedorismo que assistimos neste momento no Brasil, quem já se arriscou em qualquer área a ter pelo menos um CNPJ sabe do que eu estou falando. Mas este não é um post sobre ceticismo, ao contrário, é sobre a construção de um campo de novas oportunidades no país.
Essa foi a visão que eu tive assim que comecei a trabalhar com comunicação digital e mídias sociais em um museu em Belo Horizonte. Se entre os grandes desafios dos museus na contemporaneidade estão o desenvolvimento de público, o relacionamento e a geração de recursos próprios, por que não transformar esses interesses em negócios inovadores?
Foi tentando responder a essa pergunta que comecei a transitar na área de startups há mais de dois anos com a ideia do Mutz, guia de museus na internet. A última aventura dessa jornada aconteceu nos Estados Unidos, onde percorri um caminho incrível em seis semanas e trouxe para o Brasil a melhor das impressões e práticas para executar negócios digitais para o campo da cultura.
Eu poderia conversar por horas contando a história dessa viagem, mas se eu pudesse introduzir alguns pontos principais, seriam três. Em cada um deles conto um pouco sobre importantes momentos dessa viagem que foi viabilizada graças aos esforços dos meus pais, algumas economias e o apoio do Edital de Intercâmbio de Difusão Cultural do Ministério de Cultura.
1. Museums and the Web 2013
Essa conferência acontece na América do Norte há mais de 16 anos para explorar questões tecnológicas, econômicas e organizacionais da cultura e do patrimônio. A conferência divulga pesquisas avançadas e aplicações exemplares da prática digital para o patrimônio cultural.
Formada por profissionais de destaque de todo o mundo, essa comunidade produz em suas reuniões e conversas conhecimentos, experiências e técnicas que representam recursos sem igual para trabalhadores de museus, tecnólogos, estudantes e pesquisadores, público que cresce a cada ano. Participar de eventos como esse é se conectar com uma rede de profissionais de alta performance e ter a oportunidade de fazer novos negócios internacionais.
2. Vale do Silício
Fiz uma passagem rápida pela região, visitando museus como o Computer History Museum em Mountain View e participando do Education’s Digital Future, um evento sobre educação e tecnologia em Stanford University. Conheci projetos inovadores na área da cultura e tecnologia como o “The History of Computing for Learning in Education Virtual Museum Project”, coordenado por Liza Loop, uma especialista da área, contemporânea de Steve Jobs e Wozniak, que tem um exemplar histórico do Apple II, com um manual manuscrito por um dos fundadores.
Apesar do pouco tempo, foi possível perceber como aquele ambiente propicia uma efervescência típica e impossível de se replicar. No entanto, noções básicas sobre produtividade, eficiência e modelos de negócios são aprendidas em um simples bate-papo de café.
3. Estágio voluntário no Santa Cruz Museum of Art and History
Nina Simon é a editora de um dos blogs mais influentes no campo das artes, o Museum 2.0, e diretora do Santa Cruz Museum of Art and History – MAH. Sua prática revolucionária sobre a participação do público nos museus tem sido objeto de interesse e desejo de profissionais de museus ao redor de todo mundo. Não foi diferente comigo e a oportunidade de ser voluntária no MAH foi uma das melhores experiências da minha vida. É possível ler sobre tudo o que ela faz internamente, pois ela escreve semanalmente no blog.
Mas ler o post e saber que você participou daquela reunião de equipe onde tal questão foi abordada é mesmo inexplicável. Resumidamente, esse novo jeito de pensar e gerir museus é o que empreendedores e instituições precisam aprender para gerar novos valores e fazer movimentar o empreendedorismo em torno dos museus e da tecnologia.
Com ajuda de especialistas, eu já estava trabalhando em um plano de negócios antes da viagem e pensando em uma proposta de valor para conectar os museus e as pessoas. Após essa breve passagem, fiquei com algumas questões: Qual o papel da tecnologia na promoção dessa conexão, já que para ela existir faz-se necessário, primeiramente, colocar em jogo o exercício de poderes existentes na condução dos museus? Até que ponto os museus estão prontos para uma visão de negócios que contemple a tecnologia e novos empreendedores como aliados na geração de valor para o público?
Sugestão de leituras complementares: Reprograme, Curadoria Educativa, Museum Next, Museum Geek, The Museum of the future.