* Por Elber Mazaro
Olá!
Inicio este artigo, confessando que não foi muito fácil escrevê-lo ou mesmo decidir qual deveria ser o tema.
Eu tenho vários conteúdos produzidos em diversos formatos e o mais comum, quando recebo o lembrete que já está na hora de produzir meu artigo mensal, é acessar o conteúdo existente e ver o tema que pode se encaixar na sequência dos últimos artigos e o que está relacionado com o momento do mercado executivo ou empreendedor.
Óbvio, que o momento de pandemia, isolamento social, etc, se destaca hoje e eu não tenho nada produzido sobre isto. Ao mesmo tempo, vejo dezenas, se não, centenas de artigos, vídeos, posts, de todos os tipos de empresas, “especialistas”, etc, pipocando em todos os meios, falando da situação atípica, que vivemos. Sendo assim, eu gostaria de evitar o tema, porque vai ser mais um artigo no meio de tanta coisa de qualidade, ou não, sendo apresentada às pessoas que estão em casa.
Depois de refletir, decidi compartilhar um pouco da minha experiência e visão, sem a pretensão de dar lição para as pessoas ou de falar o que deve ser feito, ou julgar o que está certo ou errado. Sendo assim, vou escrever um pouco, com uma abordagem pessoal, de dentro para fora (de mim), com propostas de reflexões pontuais em cada tema que estudo.
Uma parte da dificuldade de escrever este artigo é o fato de estarmos no olho do furacão, sem visibilidade de quando ele vai passar e do que vai sobrar, de bom e de ruim. Então leve em consideração duas semanas de vivência e observação.
Já que escolhi uma abordagem que eventualmente será útil para algum empreendedor ou executivo, tomo como ponto de partida, quem sou eu neste momento e apresento a mais recente revisão do meu pitch profissional:
Eu sou um agente independente de transformação a serviço de pessoas e empresas, nas áreas de gestão e planejamento; aproveitando uma carreira bem-sucedida e a transição de executivo para empreendedor e professor; especializado nas áreas de estratégia, marketing, tecnologia, empreendedorismo, liderança e carreiras.
Primeira reflexão para estes tempos: você tem um pitch pronto? Deveria revisá-lo em função de todas as transformações que estão ocorrendo no ambiente? Este não seria um bom momento para isto?
Bom, se não ficou claro no pitch (feedbacks são bem-vindos), então, eu posso falar um pouco sobre gestão e planejamento, em especial nas áreas destacadas.
O último artigo que escrevi foi sobre o planejamento estratégico e aqui vai a segunda proposta de reflexão, pois como destaquei naquele artigo, é neste momento Vuca (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade), que faz sentido termos um Planejamento Estratégico, fazermos uma boa análise do ambiente, considerarmos alternativas de caminhos e definirmos ações para explorar possibilidades que podem trazer os melhores resultados.
Tenho certeza que aqueles que possuem um planejamento, de qualquer tipo, podem estar mais preparados para este momento de turbulências e transformações, porque podem revisar este planejamento agora, enquanto para aqueles que não possuíam, este é um bom momento para pensar e fazer um. Isto vale para todo tipo de planejamento, não só o estratégico; vale para planejamento financeiro, de carreira, familiar, entre outros.
Podemos ter muitas e novas ameaças ao nosso negócio e até à nossa vida, assim como temos várias oportunidades que podem emergir da situação atípica e talvez disruptiva, que estamos vivendo.
Olhando um pouco para o lado da tecnologia, temos muito a agradecer, considerando-se todos os desenvolvimentos recentes que estão sendo aproveitados, nas conexões, videoconferências, nos supercomputadores com inteligência artificial, nos sistemas em nuvem que facilitam o acesso e segurança, nos sensores de IoT, etc. Tantos aprendizados, tantas ferramentas e tantas possibilidades que estão e podem ainda ser mais explorados por muitos de nós.
Há alguns anos eu venho dizendo que a tecnologia irá impactar e transformar todos os negócios e também a vida das pessoas, e agora temos um fenômeno que provavelmente irá acelerar esta transformação. Então, a conclusão para mais uma reflexão é que todos devemos aproveitar este momento para aumentar e acelerar nosso aprendizado tecnológico e nossa forma de usar, explorar e criar, com tecnologia. Que tal?
Exemplo: eu já fazia mentorias por videoconferência e já tinha feito cursos para EAD, e isto está me ajudando, ao mesmo tempo que estou descobrindo e experimentando novas ferramentas e possibilidades. Na área de marketing, não é muito diferente, existem agora situações que exigem sensibilidade e aproximação com o público-alvo e com os clientes, para endereçar necessidades e desejos, mas principalmente para criação de valor.
Dentre os acertos que percebo, existem marcas que estão trabalhando no conceito de comunidades e de proximidade com os seus clientes para primeiro entender o que pode ser entregue de valor, antes de sair propagandeando algo. Este valor, na minha opinião, deve estar relacionado ao que a empresa tem de competência, de capacidade e de propósito (razão social), para que possa ser relevante e diferenciado.
Estou vendo muitas empresas tentando aproveitar a crise ou pandemia para propagar mensagens de terceiros (“especialistas” ou “autoridades”), ou dar soluções em outras áreas de atuação, como a de saúde, dizendo o que as pessoas devem ou não devem fazer.
Exemplos: um banco falando para você lavar as mãos, ou uma rede de restaurantes dizendo para você ficar em casa, podem ser reforços de mensagens “unânimes” e importantes, mas será que existe esta verdade absoluta e que há propriedade e benefício efetivo para um negócio ou empresa propagar estas mensagens de chamadas de utilidade pública? Acho que é mais efetivo as marcas compartilharem o que efetivamente estão fazendo para a sociedade e seus clientes, e como estão criando valor, com seus produtos, serviços e ações sociais, no momento atual, ao invés de tentar se aproveitar e “surfar uma onda”
Exemplo: um restaurante pode doar refeições ou ingredientes às pessoas necessitadas e um banco pode oferecer linhas de crédito diferenciadas e outros recursos para apoiar pessoas e negócios impactados no momento e isto pode se iniciar em um diálogo com os próprios clientes.
Estou vendo muitos questionando e apontando o dedo no que diz respeito às lideranças. Escrevi, recentemente vários artigos sobre o tema e confesso que fiquei tentado a fazer um paralelo, do que descrevi como competências do líder do presente e do futuro e o que alguns estão exercitando no momento, mas resisto, porque acho inadequado usar este conteúdo para avaliar ou julgar os demais, principalmente com uma visão parcial (não completa) e na maioria das vezes distante.
Acho que as lições de liderança do momento, podem ser aproveitadas para sua própria utilidade, ou seja, o que você como indivíduo, empreendedor ou executivo está aplicando e o que você pode aprimorar ou desenvolver, nas condições adversas.
Já no que tange a carreiras profissionais, estamos acelerando algo que já estava ocorrendo, como a transformação do trabalho e do mercado: no caso de “home office”; projetos e trabalhos paralelos versus empregos e estabilidade; meritocracia e geração de valor com habilidades e competências (soft ou hard…) versus “job descriptions”, status, cargos e caixinhas “super definidas”.
É uma boa hora para tomar o controle da própria carreira, fazer a lição de casa e planejá-la, além de explorar, investigar e exercitar possibilidades ou alternativas, para o presente e para o futuro, com a certeza das transformações, de desafios, de mudanças e também de oportunidades, que serão mais frequentes.
Planejar, desenvolver e agir, sobre os capitais (financeiro, intelectual e social), com ações organizadas em uma rotina produtiva e prazerosa, com aprendizados e realizações constantes, pode ser um novo mantra, para quem está recolhido.
Vale lembrar do Alfredo (atitude, liderança, foco, resultado, empatia, disciplina e organização) descrito em outro artigo, para ser um “bom amigo”, neste momento e também para o futuro.
Finalmente, acho que este é o momento dos empreendedores, de todos os tipos, incluindo aqueles que são intraempreendedores ou empreendedores sociais, que possuem visão, propósito e buscam criar soluções e negócios para resolver problemas. Temos um ambiente fértil para primeiro, ativarem o seu melhor, aprenderem, entregarem e depois prosperarem.
Quero muito enfatizar a importância do relacionamento humano, o pensamento no coletivo e isto é mais uma constatação de um lado positivo que está sendo testado, mas também, lembrado, fortalecido e destacado, com o advento da Covid-19.
O nosso maior desafio coletivo, passada a pandemia e seus impactos diretos, principalmente pessoais e econômicos, será o de repensarmos o modelo capitalista, o modelo de consumo e um “mercado” que só pensa e só se mede com foco no indicador de “crescimento”. Na minha opinião isto não é sustentável (em todos os sentidos da palavra) e precisa ser repensado ou reinventado, por nós.
Precisamos nos adaptar para sobrevivermos. Estamos sendo testados.
Desejo que todos estejam, dentro do possível, bem de saúde física e mental, e que possam se beneficiar de alguma maneira deste momento de transformação, apesar dos sacrifícios e sofrimentos.
Elber Mazaro é assessor/consultor, mentor e professor em Estratégia, Tecnologia, Marketing, Carreiras/Liderança e Inovação/Empreendedorismo. Atua há mais de 25 anos no mercado, liderando negócios no Brasil e na América Latina. Possui mestrado em Empreendedorismo pela FEA-USP, pós-graduação em Marketing e bacharelado em Ciências da Computação.