“Apesar do Silicon Valley Bank historicamente ser o banco das startups e ter colaborado muito nos últimos 40 anos para o desenvolvimento desse mercado, esse episódio não é fim do mundo e tampouco é o fim das startups”. É assim que João Kepler. CEO da Bossanova Investimentos, analisa o colapso do Silicon Valley Bank, o principal banco para startups dos Estados Unidos.
Na última sexta-feira, o SVB entrou em uma crise financeira e faliu em menos de 48 horas, na maior quebra de banco nos EUA desde a queda do Washington Mutual, em 2008, e outros grandes bancos. Fundado na década de 1980, o SVB era um dos maiores bancos do país, e um pilar dos financiamentos de risco para startups de tecnologia não só nos Estados Unidos.
Hoje, as ações dos bancos norte-americanos na Bolsa de Nova York despencaram depois da queda do Silicon Valley Bank. Instituições como Bank of America, Citi, Wells Fargo e JP Morgan registraram baixa. O destaque foi o First Republic Bank que viu seus papéis nesta segunda-feira despencarem mais de 60%; a segunda maior queda foi do PacWest Bancorp, que contabilizou queda de 43,97%.
O que houve com o Silicon Valley Bank?
Uma série de fatores se combinou para que a tragédia do SVB se concretizasse. Entre os motivos estão o disparo da taxa de juros americana e a redução dos investimentos em capital de risco, o que fez com que startups precisassem resgatar seus fundos mantidos pelo banco. Na quarta-feira, 8 de março, o banco anunciou que venderia cerca de US$ 2 bilhões em novas ações para reforçar seu balanço, o que assustou o mercado.
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A partir daí, fundos de investimento e startups iniciaram uma onda de saques no SVB. Os reguladores foram forçados a fechar o SVB para proteger seus correntistas após uma avalanche de saques. “Esse evento de liquidação de um banco afeta todo o sistema financeiro, colocando em xeque a qualidade dos critérios dos reguladores; como aconteceu em 2008, após a falência do Lehman Brothers. Para garantir que não haja uma quebra em cadeia de diversas empresas que mantinham seus depósitos no Silicon Valey Bank, o FED por intermédio do FDIC(equivalente ao nosso FGC), garantiu a possibilidade de saque pelos clientes do banco; os titulares de dívida e acionistas não estão cobertos por este mecanismo”, explica Ricardo Veles, CIO do Futurum Capital.
Thiago Godoy, head de Educação Financeira na Rico, plataforma de investimentos da XP Inc, comenta sobre a fuga de capital intensa que aconteceu e que, imediatamente, derrubou o banco. “Os preços das ações entraram em colapso, e isso acabou levando os preços de outros bancos pra baixo também. Acabou que as negociações de ações foram interrompidas, o banco precisou abandonar esses esforços para angariar capital ou encontrar um comprador, e o FDIC entrou no controle”, diz.
“A Bossanova tomou a decisão de sacar parcialmente os seus recursos deste banco na última quinta-feira e sacar totalmente na sexta feira após o almoço, pouco antes do anúncio da intervenção do fundo garantidor do sistema financeiro e bancário americano”, comenta João Kepler. “Conseguimos sim sacar uma parcela significativa dos nossos recursos depositados e o restante, estamos aguardando ainda hoje (13 de março) a liberação do Federal Reserve e do fundo garantidor, FDIC. Até porque o Governo dos Estados Unidos quer evitar uma crise sistêmica. Ou seja, não haverá impacto nas nossas operações e nos nossos investimentos lá nos Estados Unidos”, garante o CEO.
Desdobramentos da queda do Silicon Valley Bank pelo mundo
Nesta segunda-feira, o HSBC anunciou a aquisição do Silicon Valley Bank UK por 1 libra, em um acordo de resgate confirmado em um comunicado do Tesouro do Reino Unido. Isso significa que os clientes do SVB UK poderão acessar seus depósitos e serviços bancários normalmente a partir desta segunda-feira.
O HSBC assumirá as contas dos 3.500 clientes do SVB UK com depósitos no valor de mais de 6,7 bilhões de libras. O balanço patrimonial total da SVB UK totaliza 8,8 bilhões de libras. “O setor de tecnologia do Reino Unido é genuinamente líder mundial e de enorme importância para a economia britânica, sustentando centenas de milhares de empregos. Eu disse ontem que cuidaríamos de nosso setor de tecnologia e trabalhamos com urgência para cumprir essa promessa e encontrar uma solução que proporcionará confiança aos clientes da SVB UK”, afirmou em comunicado o chanceler Jeremy Hunt.
Para Wlado Teixeira, diretor-executivo e membro do conselho da GVAngels, a falência do banco trará uma série de consequências para os próximos anos, assim como aconteceu com crises anteriores. “O banco que, em condições normais, daria crédito para uma startup ou funding pra um venture capital, provavelmente vai se recolher”, analisa.
Depois da grande crise de 2008 nos EUA, 92 segurados pelo governo federal fecharam suas portas em 2011, em comparação com 157 em 2010 e 140 em 2009. “Daquela vez, assim como agora, a crise foi rápida, mas os efeitos duraram”, diz Wlado. “O que acaba acontecendo é que o índice de basileia – que mede a relação entre os capitais próprios e os capitais de terceiros de uma instituição financeira – acaba aumentando. Isso afeta, direta ou indiretamente, o ecossistema de tecnologia. Acho que o crédito para startups, de modo geral, vai ter uma retranca”, finaliza.
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