O pagamento instantâneo (PIX) no Brasil será rival direto não apenas das transferências bancárias e dos cartões de débito, mas também das modalidades de pagamento a prazo, como o cartão de crédito, disse um executivo da empresa escolhida pelo Banco Central para fornecer equipamentos de segurança para o sistema.
“O sistema do pagamento instantâneo (PIX) permitirá que a liquidação de compras seja feita em 30 dias, por exemplo”, disse Marco Zanini, sócio fundador da Dinamo Networks, que venceu a licitação do BC para fornecer equipamentos para a implantação do PIX.
Segundo o executivo, o sistema também permitirá pagamentos de compras em parcelas. “Isso permite substituir o cartão de crédito”, afirmou.
Previsto para entrar em vigor em novembro, o PIX é uma das principais apostas do BC para incentivar o aumento da competição do sistema financeiro brasileiro, conhecido por praticar tarifas e taxas de juros elevadas.
Com a gradual inclusão de possibilidades adicionais de pagamentos, a concorrência com os meios tradicionais deve ser ainda maior, disse Zanini.
João Manoel Pinho de Mello, diretor do Banco Central, falou ainda, na abertura da 9ª reunião plenária do Fórum Pagamentos Instantâneos, que o Regulamento PIX, que integrará as regras do PIX Agendado, deve ser publicado em julho.
“Essa possibilidade de ofertar, facultativamente no primeiro momento, o agendamento do pagamento traz um incremento à experiência dos usuários finais e potencializa, ainda mais, o uso do PIX nos mais diversos casos de uso. Dessa forma, o Pix ganha amplitude e os usuários podem se beneficiar de suas características para transações planejadas. Tal possibilidade, desde seu lançamento, permite que o PIX se configure como um instrumento de cobrança efetivo, possibilitando seu uso para transações imediatas e programadas, existindo modelos tradicionais e possibilitando que surjam sistemáticas inovadoras, inclusive com modelos de crédito garantidos, aumentando a aplicabilidade do instrumento”, ressalta o executivo.
Segundo a Abecs, associação que representa as empresas do setor de meios eletrônicos de pagamento, no ano passado as compras pagas com cartão movimentaram R$ 1,84 trilhão, um crescimento de 18,7% sobre o ano anterior. Quase dois terços desse montante foram de pagamentos com cartões de crédito, modalidade que proporciona maiores oportunidades de receitas, como a de antecipação de recebíveis a lojistas, por exemplo. Só a líder do mercado, Cielo, teve receita líquida de R$ 11,34 bilhões em 2019.
O pagamento instantâneo, com similares já implementados em outros 34 países, funcionará 24 horas por dia, todos os dias do ano, e o custo por transação previsto é de unidade de centavos de real, o que tende a fazer as instituições a subsidiarem o custo no esforço para conquistarem clientes.
Segundo Zanini, essas aplicações de pagamentos a prazo ou em parcelas não estarão disponíveis de imediato quando o pagamento instantâneo entrar em vigor, mas a arquitetura do sistema já permite essas e outras adaptações, que serão gradualmente incluídas por entidades participantes, à medida que a concorrência crescer.
Embora o próprio BC não tenha ainda estabelecido se haverá teto para transações por meio do PIX, especialistas avaliam que é provável que o regulador imponha limites de valores no início do sistema até que o mercado se sinta mais confiante com o uso da plataforma.
Por ora, ainda há dúvidas sobre soluções para casos de eventuais estornos de transações ou como funcionará a responsabilização por fraudes, por exemplo.
Segundo o executivo, o PIX dará ao BC maior controle sobre a movimentação monetária do que nos meios tradicionais, porque terá maior visibilidade, por exemplo, sobre “moedas alternativas”, como cashback, a premiação dada a clientes em programas de fidelidade.