* Por João Kepler
Desde que a pandemia e a quarentena começaram em março, fomos bombardeados por diversos comentários, textos e matérias com expectativas catastróficas para investimento em startups. Daquele ponto em diante, foi dito através de algumas pesquisas mal formuladas que era senso comum que o mercado de venture capital sofreria uma surra desastrosa, que se recuperaria em não menos de dois anos, incluindo o estágio anjo, pré-seed e seed. Investidores estavam parando de investir, valuations sendo reduzidos, menos deals, menos apetite, enfim, uma enxurrada de notícias e matérias negativas como os títulos abaixo:
Por outro lado, eu e alguns outros investidores no mercado, ficamos fiéis aos nossos fundamentos e continuamos investindo, sendo até mal interpretados como otimistas demais e fora da realidade em relação as mortes e o caos, pois afirmávamos exatamente o caminho contrário. Como as matérias positivas como os títulos abaixo:
Pois bem, agora que acabou o primeiro semestre de 2020, em breve conheceremos os dados reais formatados dos deals registrados e divulgados, ou não. Tenho certeza que veremos um mercado de venture capital e investimento-anjo muito ativo. Os primeiros números já estão sendo divulgados e apontam um aumento nos números de negócios e transações, exatamente o oposto do que os alardeadores do caos esperavam inicialmente.
Pode até ter sido um primeiro semestre menor que 2019 em relação a valores investidos em estágios mais avançados de investimentos, como mostrou o recente Report da Distrito, por exemplo. No ano passado, foi investido US$ 681 milhões em três grandes rodadas da Loggi, Creditas e Gympass, lideradas pela gigante fundo bilionário Softbank.
Ou seja, esse volume leva em conta rodadas de centenas de milhões de dólares com entrada de dinheiro externo que pesam também na conta final dentro do Brasil. De qualquer forma, o ponto positivo é que os investimentos pré-seed e seed seguem crescendo também em relação a valores, por exemplo. Foram investidos US$ 58 milhões nesses estágios até agora, contra os US$ 45 milhões do primeiro semestre de 2019.
Seguem abaixo as as minhas 10 razões para defender porque sempre acreditei que o investimento em startups continuaria crescendo:
1) As casas de venture capital levantaram fundos antes da pandemia e o trabalho deles é exatamente alocar os recursos dos LPs (Limited Partners). Se tiveram oportunidades interessantes no primeiro semestre, certamente o fizeram, pois era exatamente esse o trabalho: investir com mais cautela nesses negócios. Os VCs não são pagos para acumular dinheiro na conta bancária e sim para investir.
2) O mercado de ações das empresas de tecnologia sofreu uma ruptura nos últimos meses e isso pesa na mente dos investidores. Um mercado de ações em alta mesmo com volatilidade, levam investidores a pensarem sobre essa oportunidade e na nova economia.
3) A Taxa SELIC menor, o dólar subindo e mercado muito incerto em todos os sentidos, o investimento em negócios inovadores que resolvem problemas existentes e urgentes, teve um aumento de procura por ter aparecido como um investimento alternativo, ou seja, o que era antes um ilustre desconhecido, definitivamente se tornaria uma ótima oportunidade de investimento.
4) A pandemia mostrou que negócios baseados em software e tecnologia, as chamadas startups, são resilientes e atraentes no momento. As startups se consolidaram como solucionadoras para os diversos problemas da velha economia. Aliás por conta disso, tivemos uma forte atividade de Fusões e Aquisições envolvendo as startups.
5) Como a startups são negócios de alta aderência a conexões, integrações, adaptações ao mercado e de baixo endividamento, baixo custo e alta performance, as startups já estavam adaptadas a trabalhar em home office, por exemplo, e a lidar com equipes reduzidas, orçamento mensal enxuto, entre outras características.
6) No geral as startups de tecnologia já mostraram que crescem em meio a todas as crises, multiplicando o número de clientes e investidores a procura de múltiplos a longo prazo.
7) Investimentos nos estágios anjo e pré-seed são feitos com valores e aportes menores, pulverizados em grande parte por investidores pessoas físicas que têm mais disposição ao risco, com independência de decisão e também mobilidade financeira e por isso foi mais rápido a adaptação na pandemia e na volta a alocarem os investimentos para as startups.
8) Se observar o que aconteceu na recessão de 2008 nos Estados Unidos, a curva de recuperação dos investimentos pós recessão no estágio de investimento SEED, teve muito mais velocidade de recuperação que os demais estágios de investimentos.
9) Ativos de capital intangível tendem a apresentar performance melhor em momentos de crise, sem contar que o ciclo e jornada de uma startup (do zero ao bilhão) é de, em média, 8 anos. Ou seja, os investidores entendem que a crise logo iria passar e estão aproveitaram o momento para entrar em boas oportunidades.
10) Ficar em casa o dia todo, não poder viajar, não poder socializar, criou também um ambiente de trabalho eficiente para muitos (mas certamente não para todos). As startups já trabalhavam everywhere, ou seja, não é somente home office, é em qualquer lugar, em espaços colaborativos, em cafés, em casa, no escritório do clientes ou até mesmo em um escritório próprio.
E, finalmente, apareceram ótimos empreendedores, apresentando excelentes ideias de negócios. A pandemia não diminuiu a velocidade deles. Se alguma coisa aconteceu com as startups, foi a aceleração.
Alguns negócios de setores específicos como Turismo e Entretenimento foram desacelerados. Óbvio, que foram impactados negativamente pela pandemia, mas por outro lado, muitos outros setores foram impactados positivamente.
Concluindo, olhando para o segundo semestre de 2020, o que vejo é um mercado de venture capital disparando em todos os sentidos e estágios. E isso sim é uma boa notícia para os fundadores de startups, investidores, e claro, para o mercado e o tão esperado desenvolvimento econômico do Brasil.
João Kepler é reconhecido como um dos conferencistas mais sintonizados com Inovação e Convergência Digital do Brasil. É especialista em empreendedorismo, startups, marketing e vendas, é investidor-anjo desde 2008, participa em mais de 100 Startups, Lead Partner da Bossa Nova Investimentos, Escritor e autor e coautor dos Livros O vendedor na Era Digital, Vendas & Atendimento, Gigantes das Vendas e Educando Filhos para Empreender; Premiado como um dos maiores Incentivadores do Ecossistema Empreendedor Brasileiro.