Conheça um dos mais brilhantes talentos brasileiros no Vale do Silício. De empreendedor a investidor, agora de olho no mercado brasileiro.
Pedro Sorrentino já foi empreendedor e vice-presidente da Associação Brasileira de Startups, mora no Vale do Silício há mais de 5 anos e atualmente é investidor pela FundersClub, ou seja, conhece o segmento de novos negócios como ninguém. O Startupi conversou com Pedro para entender sua visão de mercado e sua opinião sobre as startups brasileiras.
Seu interesse pelo empreendedorismo surgiu quando ainda era criança. Durante o intervalo de aula, enquanto seus amigos brincavam com Pokemon Magic the Gathering Cards, ele apenas vendia os seus. “Foi aí que eu percebi que podia ganhar meu dinheiro trabalhando, isso ficou tão claro que eu decidi que era isso que eu queria fazer para o resto da minha vida”, conta ele.
Formado em Jornalismo pelo Mackenzie, seu momento pivotal foi quando conseguiu um trabalho na área dele, mas optou por uma outra oportunidade em uma startup de mobile. Mais tarde Pedro criou sua própria startup, a Recomind, que ajuda na organização e compartilhamento de contatos de prestadores de serviços de confiança, vendida mais tarde para o Buscapé Company.
Como era a primeira vez que estava empreendendo, Pedro conta que precisou aprender e entender como lidar com investidores e negociações. Todo o processo garantiu-lhe muito aprendizado, o que o ajuda a ter uma simpatia muito maior com qualquer empreendedor que conhece.
Com a venda de sua startup, todos seus sócios continuaram na operação, menos ele, que decidiu morar nos EUA e entrar para o SendGrid, empresa norte-americana de serviço de gerenciamento de e-mails.
Diversos empreendedores e investidores precisam tomar decisões muito importantes, e certas decisões são a chave para o futuro promissor. Pedro, por exemplo, optou por deixar sua própria empresa, pois a oportunidade de aprendizado que teria dentro da Sendgrid seria única.
Para se ter ideia, Pedro trabalhou na expansão da Sendgrid para a América Latina e, segundo ele, foi uma experiência fantástica. Ele afirma que poucas pessoas tem a chance de trabalhar em alguma coisa que seja tão Hyper Growth, tenha um hiper crescimento. Quando entrou para a SendGrid, trabalhava com uma equipe de 15 pessoas, e quando saiu eram mais de 300 pessoas com 6 escritórios. “Aprendi muito com essa experiência e durante um bom tempo eu estava perto de pessoas que eram melhores do que eu, e isso é uma coisa que motiva a minha vida pessoal e profissional”, conta ele.
Pedro conta que se hoje ele está no Vale do Silício não é por acidente ou por coincidência, mas sim por que lá estão os melhores do mundo do seu mercado. Pedro destaca uma metáfora: “se você quer ser piloto de carro, você precisa entrar na Fórmula 1, se você quer ser jogador de basquete, você precisa jogar na NBA e se você quer jogar futebol, precisa jogar na liga espanhola ou italiana”. Então para o mercado de tecnologia, o Vale do Silício é o mercado mais competitivo, mais exigente e onde surge a grande maioria das inovações do mundo.
Hoje Pedro é Venture Associate da FundersClub, fundo criado há 3 anos e meio. Segundo Pedro, seu objetivo é fazer o business de venture capital mais eficiente. “Assim como Marc Andreessen, Fundador da Netscape afirmou que o Software está comendo o mundo, nós estamos comendo o Venture Capital”, completa ele.
Ao mesmo tempo que o Funders Club é um dos fundos mais ativos de early stage e no seed stage market globalmente, ano passado fizeram 1% do mercado de seed global, foi investido 25 milhões de dólares. No total já foi investido 65 milhões de dólares em 163 startups como Istacart, Slack, Coinbase, entre outras.
O cheque médio para investimento é de 300 mil dólares, ou seja, cerca de 1 milhão de reais. Pedro conta que eles investem em Seed serie A, mas sempre gostaram de fazer o follow one tanto para B e C. Seu foco são empresas de tecnologia. “Ao analisar startups para investimentos, focamos muito mais em analisar o estágio em que a startup se encontra do que pelo mercado específico em que atua, contanto que seja algo ligado com tecnologia”, destaca Pedro.
Se ele está de olho no mercado brasileiro? Sim! Pedro contou com exclusividade para o Startupi que já investiu em 2 empresas brasileiras, são elas Pipefy e Glio. “Temos dois investimentos no Brasil e pretendemos fazer muito mais”, comenta ele.
Pedro conta que está bem interessado em várias empresas do ecossistema brasileiro. “Essa diferença de moeda atual dá uma agilidade muito interessante para os investimentos. Não acho que essa condição macroeconômica do Brasil irá durar para sempre, é o que espero, então agora é um momento interessante para entrar nesse mercado”, destaca o investidor.
Pedro cita o investidor Warren Buffett e sua famosa citação: “Surtos ocasionais de duas doenças super contagiosas, medo e ganância, será sempre muito comum na comunidade de investidores. Simplesmente tenha medo quando os outros são gananciosos e seja ganancioso quando os outros estão com medo”.
Pedro conta que estão olhando muitas startups por aqui e devem fazer mais investimento no País ao longo do ano. O importante é a startup ter tração e growth. “Se investirmos em uma empresa brasileira a cada dois meses, é legal. Eu diria que temos espaço para fazer de 4 a 6 investimentos até o final do ano no Brasil”, completa ele.
Vale do Silício X Brasil
Para Pedro é uma bobagem acreditar que para sua startup ter sucesso você precisa estar no Vale do Silício. Para ele, o empreendedor precisa entender onde está o seu cliente e resolver o seu problema. Pedro cita o exemplo de uma das startups brasileiras em que investiu. A empresa fica no Brasil, os empreendedores levantaram capital com investidores dos EUA e seus clientes são globais. “Se você é uma empresa que vende para brasileiros que moram no Brasil, você precisa operar no Brasil, se você vende para Alemanha, não faz sentido ir para o Vale do Silício. O que se pode fazer é ter um pé lá, levantando capital, o que muitos empreendedores fazem”, argumenta Pedro.
“As vezes as pessoas acabam dando muita atenção para empresas que parecem muito interessantes no papel, mas que não necessariamente estão fazendo algo extraordinário. O Vale tem um filtro muito bom de qualidade, você só consegue vencer aqui se você for bom”.
Para Pedro, existem várias startups brasileiras incríveis e empreendedores fantásticos com visão global, as vezes melhor em business do que vários empreendedores do Vale do Silício. Ele destaca que não existe diferença entre o Brasil e Vale do Silício, a diferença está apenas na cultura do Vale com a do resto do mundo, a nacionalidade não importa.
Pensar grande
O mercado potencial do Brasil é enorme, por isso alguns founders ficam confortáveis. Pedro comenta que no momento eles querem investir em pessoas com uma visão grande. Ele conta que existem founders brasileiros que já poderiam estar operando um produto global, mas não estão, pois optam por fazer algo que é mais familiar, ou seja, pensar primeiro no mercado local para só depois pensar globalmente. Ele destaca que hoje nada impede que você monte uma empresa global do Brasil e levante dinheiro no Vale, vários empreendedores fizeram isso. Vários fundos dos top 30 do Vale, incluindo o Funders Club já investiram em startups brasileiras.
Empreendedor ideal
Pedro brinca dizendo que se tivesse que escolher o melhor founder, pensando em termos de nacionalidade ele seria metade argentino, metade israelense, com faculdade nos EUA e com a simpatia dos brasileiros. Os founders argentinos tem uma resiliência muito grande, pois sabem que seu mercado potencial no seu país não é o suficiente para criar um business global. A mesma coisa acontece em Israel, onde a sociedade é totalmente militarizada. Uma coisa importante para os empreendedores é a capacidade de resiliência. “Citando apenas como um exemplo, se vc tem 17, 18 anos em Israel, você é obrigado a saber como operar um (fuzil) m16, pois todos os países que fazem fronteira com o seu querem explodir o seu país e sua família. A perspectiva de determinação da sua vida muda. Sou fã dos empreendedores israelenses pois essas nacionalidades, onde é impossível construir uma empresa global só dentro do seu país, força as pessoas a pensarem grande, a nível global”, completa Pedro.
Diferença no mercado de Venture Capital Brasil X Vale do Silício
Quando questionado sobre a maior diferença entre os mercados, Pedro destaca a competitividade. “No Vale do Silício, se você piscar, acaba perdendo um deal, você precisa ser super rápido. Aqui o ecossistema é ultra competitivo, sensitivo e menos colaborativo. O Brasil tem fundos incríveis, mas por ter menos capital, todos os investidores acabam vendo os deals e todo mundo pode coinvestir, raramente você verá os fundos competindo entre eles. No Vale do Silício é ao contrário, todo mundo compete e muitas vezes é preciso ter uma boa relação para não ser prejudicado e poder cooperar de uma forma produtiva para todo mundo”, conta ele.
Curiosidade
Pedro tem um manifesto chamado 1% better, uma lista de princípios, crenças e pensamentos para as pessoas que acreditam na melhoria constante. Ele conta que a ideia surgiu quando estava morando sozinho em Golden, no Colorado. Durante essa época ele lia muito e certos livros foram fundamentais para sua formação como empreendedor, investidor e principalmente, para sua ética de trabalho. Um dos livros que ele leu foi Delivering Happiness, de Tony Hsieh, CEO e fundador da Zappos.
Um dos destaques do livro, segundo Pedro, é para você pensar quando estiver fazendo qualquer coisa na sua vida, ou no emprego: será que eu não consigo melhorar isso 1%? Pedro comenta que parece ser pouco desafiador e que várias vezes as pessoas já usaram esse mecanismo, mas a verdade é que, se você melhorar 1% todos os dias (poder do compound effect), você consegue ficar 37 vezes melhor de quando você começou depois de 1 ano. “A mentalidade é que ganha a constância. Os melhores do mundo, os vencedores de qualquer coisa na vida tem disciplina, e isso conta muito”. Clique aqui para ver a lista completa do manifesto.
Para finalizar, Pedro deixa um conselho para os empreendedores que estão buscando investimento:
1) Foque em aumentar o seu runway o máximo possível, ou seja, reduza o tempo para ter receitas recorrentes e despesas estáveis, atinja o break even mais rapidamente.
2) Busque investimento fora do Brasil – “Faz muito sentido buscar um round de investidores fora do Brasil, pois aí você está exposto ao câmbio. Se você conseguir levantar um round com investidores tanto americanos como europeus, a chance de você estar exposto as variações cambiais são menores e isso diminui o risco para uma série de coisas”.
3) Aperte o cinto de burn rate – “Faça isso para que você tenha um runway saudável e consiga operar a sua empresa mesmo se não entrar nenhum investimento. Todos os founders deveriam ter essa opção em mente e ter um foco em lucratividade muito claro”.
Outro ponto importante destacado por Pedro é pensar o que você precisa para conseguir levantar uma próxima rodada de investimento e se de fato você precisa levantar essa rodada. “Muitas vezes os founders não fazem essa programação e eles precisam levantar uma rodada intermediária entre aquelas que seriam as maiores e nesse momento de mercado é mais difícil encontrar investidores”.
Pedro se mostrou interessado no mercado brasileiro durante toda entrevista, ou seja, existem muitas oportunidades para os empreendedores. Vamos aguardar as próximas novidades sobre seus investimentos. Quem sabe não pode ser na sua startup?