* Por Adam Patterson
O sistema de Open Banking (ou “banco aberto” em tradução literal para o português) é uma prática bancária que fornece a prestadores de serviços financeiros de terceiros acesso aberto a dados bancários, transações e outras informações financeiras de bancos e instituições financeiras não bancárias por meio do uso de interfaces de programação de aplicativos (APIs).
O sistema Open Banking é um novo modelo de negócio que promete otimizar os processos no mercado financeiro e permitirá a criação de redes de contas e dados entre instituições para uso de consumidores, instituições financeiras e provedores de serviços terceirizados por meio do uso de tecnologia de código aberto e está se tornando uma importante fonte de inovação para reformular o sistema bancário, a indústria de fintech e as experiências dos consumidores nos mercados financeiros à medida que a indústria se compromete a se abrir para maior colaboração digital.
Fluxos de investimento crescentes
Com base em uma pesquisa realizada por uma organização de Open Banking, a Tink, o gasto médio em bancos abertos em instituições financeiras europeias na Europa fica entre €$50 e €$100 milhões, com quase metade dos executivos financeiros indicando que seus orçamentos de investimento serão maiores para os anos futuros.
Segundo a pesquisa, quase dois terços das instituições indicam que seus gastos aumentaram em comparação a 2019. E o crescimento médio anual dos gastos em bancos abertos é entre 20-30%. Os principais objetivos foram para melhorar a experiência do cliente, modernização da TI e otimização de processos.
Isso indica que, embora o sistema bancário aberto seja reconhecido como uma oportunidade para melhorar as margens operacionais, as instituições entendem que é necessário aprimorar seus serviços existentes e adotar uma abordagem mais centrada no cliente. Os principais desafios são em infraestrutura de TI desatualizada, prioridades de negócios mais importantes e restrições regulatórias.
Open Banking no Reino Unido
O Reino Unido pretende liderar o mundo na promoção da concorrência entre os provedores de serviços financeiros. Sua abordagem baseia-se em uma parte da legislação de referência denominada Open Banking Standard. Na sua essência, o Open Banking existe para beneficiar os consumidores de serviços financeiros através do uso da tecnologia de código aberto.
Mas seu impacto foi igualmente profundo entre os que construíram novos produtos fintech. Em 2013, o Ministério Britânico de Finanças começou a investigar APIs bancárias como uma maneira de abordar questões antitruste e promover a concorrência no setor de serviços financeiros.
Em agosto de 2016, a Autoridade de Concorrência e Mercados do Reino Unido (CMA) emitiu uma decisão que exigia que os nove maiores bancos do Reino Unido – HSBC, Barclays, RBS, Santander, Banco da Irlanda, Allied Irish Bank, Danske Bank, Lloyds e Nationwide – permitir que as startups licenciadas acessem diretamente seus dados até o nível de transações de conta de transação.
Hoje, o Reino Unido possui mais de 200 provedores de serviços bancários abertos regulamentados, acima dos 100 no final de 2018. Os clientes de bancos abertos do Reino Unido estão gerando mais de 200 milhões de ‘chamadas’ mensais, cada um representando uma única solicitação de dados feita por fornecedores terceiros a um banco ou sociedade bancaria.
O número de pessoas no Reino Unido que usam a tecnologia de “banco aberto” atingiu um milhão. O sistema bancário aberto também está se movendo para pagamentos. Em dezembro do ano passado, as pessoas fizeram 50 mil pagamentos em sua conta atual por meio de um aplicativo que não é do banco.
As autoridades governamentais no Reino Unido também estão investigando o tema mais amplo de “finanças abertas”. Vários outros países lançaram iniciativas bancárias abertas baseadas nos modelos britânico e europeu, incluindo o Brasil.
Open Banking no Brasil
Neste mês, o Banco Central divulgou as principais diretrizes que vão orientar a regulamentação do Open Banking no Brasil seguindo a mesma premissa visto no UK e Europa com APIs disponibilizadas por uma instituição financeira para que organizações e aplicativos possam prover serviços integrados às contas de clientes.
Essa é uma grande transformação no mercado financeiro. A implantação do Open Banking deve ser realizada a partir do segundo semestre deste ano. O projeto será conduzido e dividido em fases. A expectativa é que eles se sintam motivados a oferecer produtos e serviços financeiros inovadores, com a melhor relação custo-benefício, para melhorar a experiência do cliente. Bancos e fintechs brasileiros do segmento já estão atuando no mercado, tal como Banco do Brasil, Conta Azul, Bradesco, Stark Bank, e Gorila.
De acordo com Flavia Oliveira, cofundadora da consultoria britânica de Open Banking, a OpenVector, “no Reino Unido, desempenhamos um papel fundamental junto a OBIE e no Brasil, estamos realizando um trabalho bem próximo ao ecossistema local no intuito de apoiá-los nos vários níveis da implementação do OB e na sua evolução para o Open Finance”.
Segundo a OB Opportunity Index, desenvolvida pela consultoria global EY, sediada em Londres, o Brasil tem um cenário favorável para a implantação do open banking. O estudo “analisou ambiente regulatório, potencial de adoção, sentimento do consumidor e ambiente de inovação. Esses são quatro fatores centrais para a implantação do Open Banking.
Por fim, o estudo concluiu que o Brasil se destaca à frente de países como Holanda, Canadá e Alemanha, sendo o 7º mais receptivo ao modelo. Esse acesso deve revolucionar a estrutura do mercado bancário. Hoje, no Brasil, os cinco maiores bancos oferecem 70% do crédito. O Open Banking chega para viabilizar a oferta de serviços e produtos financeiros a um número maior de clientes graças ao compartilhamento dos dados”.
Open Banking: casos, tendências e melhores práticas do mercado britânico aplicado à realidade brasileira será o tema da próxima edição do Business in Motion (BiM), iniciativa de PG Advogados dedicada à inovação e atualização profissional para seus clientes e parceiros sob o comando do sócio de Corporate Finance, Fintechs e Venture Capital, Rodrigo de Campos Vieira . O evento contará com palestras de Flavia Oliveira, Bruno Diniz, sócio fundador da Spiralem Innovation Consulting e será realizado dia 11 de agosto, a partir das 11 horas.
Adam Patterson é economista britânico, graduado em Ciências Políticas e Estudos Parlamentares pela Universidade de Leeds e pós-graduado em Economia e investimentos pelas universidades de Londres e o Instituto Real de Investimentos do Reino Unido. Trabalhou na equipe de valuation do HSBC, escritórios de investimentos e cofundou o primeiro portal online de valuation de startups & PMEs no Brasil. Adam tem foco na modelagem financeira e valuation de empresas-early stage. Atualmente trabalha com M&A e financial advisory para Redirection Corporate Development que faz parte da IR Global.