* Por Dimas Dion – correspondente Startupi em Austin
Austin, Texas – A China não é simplesmente um país conhecido pelo seu baixo custo de fabricação. Longe do famigerado estigma estampado com o selo “Made in China” ligado à pirataria e a produtos de baixa qualidade, a segunda maior potência econômica do mundo possui também uma nova geração de investimento voltada exclusivamente para o capital intelectual chinês – tema este em que se ocupou uma mesa formada por instituições de financiamento de startups chinesas.
Em uma verdadeira aula de como usar a lógica interna do país asiático em escala global, o palestrante Harry Wang, fundador da Linear Venture, afirmou que atualmente os investidores estão correndo atrás de portfólios de companhias chinesas de sucesso. “No setor de startups, 75% dos investimentos estão ocorrendo na China, contra 20% da Silicon Valley. Desse montante, 40% são investidos em Big Data, Inteligência Artificial e Robótica, seguido de 30% e 20% de VR/AR”, esclarece. Para ele, a discrepância com outros mercados se dá na lógica do investimento em empreendedores que combinam novas mídias com inovação em algo que será colocado no mercado num futuro próximo.
Ele explica também que na China já existem muitas empresas locais especializadas em manufaturas e que startups vem sendo criadas para atender as demandas dessas empresas. O lado negativo é que boa parte delas falharam, justamente por não seguir a lógica de usar primeiramente a inovação e depois leva-la às fábricas.
Os pontos chaves para aumentar o percentual de vendas, segundo Veronica Wu, presidente da CSS Venture Capital, passa pelo consumo interno chinês e não somente o foco na produção já bastante estabelecida. “Temos um potencial enorme crescendo e ainda há muito para ser explorado internamente longe de Pequim, com 650 cidades consideradas menores, mas com um contingente de 1 milhão de habitantes sedentos por novos produtos e serviços”.
Wu ainda explica que “por outro lado, há o desafio de mostrar a relevância destes novos produtos nos Estados Unidos e mercados emergentes, para isso acompanhamos as startups desde seus estágios embrionários, mentoramos seus modelos de negócios junto com os empreendedores para gerar um produto de alto valor agregado a longo prazo. Espera-se que apareçam mais casos como as startups que rendem bilhões como Alibaba e Baidu.“
O moderador e CEO da plataforma digital WigWag, Ed Hemphill, preferiu focar na diferença da China para os outros Países quanto ao consumo de escala. Ele demonstra que, surpreendentemente, o país asiático por ter a maior população do mundo vem diminuindo sua necessidade de produzir alimentos e aumentando suas necessidades de consumo voltadas para educação, recreação, e infraestrutura em transportes e comunicação.
Para Wu, as empresas de tecnologia e entretenimento sediadas na China conseguem se habituar à cultura típica do país oriental, mas, por outro lado, esbarram em questões legais conservadoras oriundas da política ainda comunista para integrar o mercado. “A regulação na China é muito rígida, como é o caso da entrada do Uber no país. Porém, ainda pensando no ecossistema local, existe um esforço muito grande para financiar essas empresas, mesmo sabendo que uma parcela de apenas 9% das startups conseguem gerar lucro”.
Ao olhar indiretamente para o Brasil, recai-se no fato de que é preciso entender nossa vocação interna de produção. O que é explícito na potente indústria chinesa e o quanto esta é capaz de atuar numa escala de produção de bens de consumo gigantesca. Deixando de lado o Modus Operandi desta indústria, muitas vezes desleal e avassaladora em sua política de mercado além-mar, a lógica se aplica às startups.
Ao mesmo tempo que estas estão criando soluções de serviços, as startups têm de lidar com vários empreendedores que desenvolvem soluções similares, o que gera uma concorrência saudável e com possibilidades de parcerias. E os investidores devem estar sempre antenados nas tendências para que surfem nas próximas ondas e assim, não percam tempo com concorrências tão fortes globalmente falando. É o capitalismo de mercado na sua forma mais pura. E, por ironia do destino, conduzido pelo faroeste chinês.