* Por Dimas Dion – correspondente Startupi em Austin
Austin, Texas – A China não é simplesmente um país conhecido pelo seu baixo custo de fabricação. Longe do famigerado estigma estampado com o selo “Made in China” ligado à pirataria e a produtos de baixa qualidade, a segunda maior potência econômica do mundo possui também uma nova geração de investimento voltada exclusivamente para o capital intelectual chinês – tema este em que se ocupou uma mesa formada por instituições de financiamento de startups chinesas.
Em uma verdadeira aula de como usar a lógica interna do país asiático em escala global, o palestrante Harry Wang, fundador da Linear Venture, afirmou que atualmente os investidores estão correndo atrás de portfólios de companhias chinesas de sucesso. “No setor de startups, 75% dos investimentos estão ocorrendo na China, contra 20% da Silicon Valley. Desse montante, 40% são investidos em Big Data, Inteligência Artificial e Robótica, seguido de 30% e 20% de VR/AR”, esclarece. Para ele, a discrepância com outros mercados se dá na lógica do investimento em empreendedores que combinam novas mídias com inovação em algo que será colocado no mercado num futuro próximo.
![SXSW: O velho oeste agora é na China! DSC_0101_3](https://startupi.com.br/wp-content/uploads/2016/03/DSC_0101_3-600x338.jpg)
Ele explica também que na China já existem muitas empresas locais especializadas em manufaturas e que startups vem sendo criadas para atender as demandas dessas empresas. O lado negativo é que boa parte delas falharam, justamente por não seguir a lógica de usar primeiramente a inovação e depois leva-la às fábricas.
Os pontos chaves para aumentar o percentual de vendas, segundo Veronica Wu, presidente da CSS Venture Capital, passa pelo consumo interno chinês e não somente o foco na produção já bastante estabelecida. “Temos um potencial enorme crescendo e ainda há muito para ser explorado internamente longe de Pequim, com 650 cidades consideradas menores, mas com um contingente de 1 milhão de habitantes sedentos por novos produtos e serviços”.
Wu ainda explica que “por outro lado, há o desafio de mostrar a relevância destes novos produtos nos Estados Unidos e mercados emergentes, para isso acompanhamos as startups desde seus estágios embrionários, mentoramos seus modelos de negócios junto com os empreendedores para gerar um produto de alto valor agregado a longo prazo. Espera-se que apareçam mais casos como as startups que rendem bilhões como Alibaba e Baidu.“
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O moderador e CEO da plataforma digital WigWag, Ed Hemphill, preferiu focar na diferença da China para os outros Países quanto ao consumo de escala. Ele demonstra que, surpreendentemente, o país asiático por ter a maior população do mundo vem diminuindo sua necessidade de produzir alimentos e aumentando suas necessidades de consumo voltadas para educação, recreação, e infraestrutura em transportes e comunicação.
Para Wu, as empresas de tecnologia e entretenimento sediadas na China conseguem se habituar à cultura típica do país oriental, mas, por outro lado, esbarram em questões legais conservadoras oriundas da política ainda comunista para integrar o mercado. “A regulação na China é muito rígida, como é o caso da entrada do Uber no país. Porém, ainda pensando no ecossistema local, existe um esforço muito grande para financiar essas empresas, mesmo sabendo que uma parcela de apenas 9% das startups conseguem gerar lucro”.
Ao olhar indiretamente para o Brasil, recai-se no fato de que é preciso entender nossa vocação interna de produção. O que é explícito na potente indústria chinesa e o quanto esta é capaz de atuar numa escala de produção de bens de consumo gigantesca. Deixando de lado o Modus Operandi desta indústria, muitas vezes desleal e avassaladora em sua política de mercado além-mar, a lógica se aplica às startups.
Ao mesmo tempo que estas estão criando soluções de serviços, as startups têm de lidar com vários empreendedores que desenvolvem soluções similares, o que gera uma concorrência saudável e com possibilidades de parcerias. E os investidores devem estar sempre antenados nas tendências para que surfem nas próximas ondas e assim, não percam tempo com concorrências tão fortes globalmente falando. É o capitalismo de mercado na sua forma mais pura. E, por ironia do destino, conduzido pelo faroeste chinês.