O Cubo Itaú convidou Jorge Paulo Lemann, economista, sócio da 3G Capital e acionista controlador da AB-INBEV; e Pedro Moreira Salles, presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, para falarem sobre o cenário do ecossistema brasileiro na live de encerramento do Cubo Conecta, evento que aproxima startups, investidores e grandes empresas.
Em uma retrospectiva sobre a evolução do mercado, Pedro começou falando de sua percepção sobre o empreendedorismo tecnológico nos últimos cincos anos. Para ele, o ecossistema tem tido uma evolução notável. Prova disso é o número de startups que, segundo levantamento da Abstartups, já passa de mais de 13 mil, e a conquista do 3º lugar em números de unicórnios criados em 2019, atrás somente dos Estados Unidos e da China.
Lemann também vê como positivo esse aumento de startups e empreendedores no Brasil e destacou o positivo cenário de investimentos em startups citando o exemplo de fundos como o Maya Capital, de sua filha, e a entrada de alguns fundos internacionais como o Softbank. “Alguns criticam, mas de uma certa forma deu um gás tremendo e animou muito os novos empreendedores. Se eu fosse jovem, eu me dedicaria totalmente a isso. Infelizmente, eu não sou tão jovem e tenho que carregar alguns negócios nas costas, se não eu estaria me jogando de peito aberto no ramo tecnológico”, brincou ele sobre criar uma startup.
Ainda segundo o empresário, atualmente o empreendedor tem uma dificuldade a menos que é o acesso a recursos. “Falou que é startup, que é novidade, tá cheio de dinheiro querendo encontrar um bom negócio”, disse.
Sobre os gargalos do mercado, Lemann destacou a burocracia, que dificulta o processo de criação de empresas, contratações, demissões, entre outras ações importantes dentro de uma organização. Mesmo assim, ele acredita em um cenário positivo, onde esse processo lento tem diminuído com o aumento de novos empreendedores, e o mercado de consumo no Brasil apresenta grande potencial . “Tem espaço para a criação de muitos novos produtos e tem um mercado bastante grande para quem encontrar a coisa certa ou a demanda certa”.
Pedro concorda com ele e adiciona mais um gargalo: talento. Para ele, o Brasil ainda não é um ponto de atração global, como, por exemplo, o Vale do Silício que reúne profissionais de diversos países. “Isso não deixa de ser uma desvantagem comparativa dado que talento é essencial para o sucesso e desenvolvimento dessas empresas e companhias”.
Os empresários também falaram sobre a adaptação de suas empresas nesses últimos anos, principalmente com a chegada de novas organizações, sejam elas startups ou não, no mercado. Para Pedro, a concorrência sempre existiu, porém, antigamente era mais fácil de entendê-la e observá-la pois era muito parecida com o próprio serviço que você oferecia. “Nesse sentido, o processo de tomar decisões para melhorar sua posição competitiva era um processo que tinha menos risco, porque ele era mais claro, porque você sabia melhor que direção ir e acho que isso mudou”.
Com essa maior incerteza, é preciso portanto aprender a lidar com a concorrência de maneira diferente. Nesse cenário, o ecossistema de startups pode auxiliar o empresário em uma tomada de decisão com menos risco. Entre as maneiras de estreitar essa aproximação, Pedro destacou as parcerias e até participação de equity. “Com isso tudo vai diminuindo as lacunas, as apostas são baixas e ao longo do caminho você aprende”.
Lemann também teve que passar por adaptações em suas organizações. “Nós éramos empresas basicamente eficientes, com produtos conhecidos, cortávamos custos, tínhamos logística boa e vivíamos bem. E esse novo mundo tecnológico trouxe um acesso maior do consumidor a tudo quanto é informação e produtos novos. Então, os nossos canais de distribuição e canais de prestar informações para os nossos consumidores mudaram muito”, contou.
Agora, com essa conscientização sobre a vontade do consumidor, ele contou que estão correndo atrás de contato digital direto com os clientes.
Sobre empresas que já fazem isso muito bem, o empresário citou Zara, Nike e Starbucks. “Eles sabem realmente como tratar bem o cliente ou o que o cliente quer”. Ele ainda destacou que a tecnologia é muito positiva. “O mundo tecnológico é maravilhoso, mas exige uma adaptação muito mais rápida e isso também afeta a cultura da empresa”.
Ele destacou também que mudar a cultura de uma empresa bem-sucedida é muito difícil e revelou que sua solução foi a criação de empresas diferentes, com remunerações e espaços diferentes também. “Elas tinham a obrigação de nos desruptar, quer dizer, porque dentro da própria empresa às vezes era difícil”. Segundo ele, o resultado foi positivo e trouxe progresso em relação a inovações e investimentos em coisas novas.
Para complementar o pensamento de Lemann, Pedro deixou um conselho: “quem está à frente de uma empresa tradicional tem que ter a humildade de entender que a performance passada não é garantia de futuro”, concluiu o empresário.