Algumas pessoas dizem que para cada 10 startups no mercado brasileiro, apenas 1 irá atingir o sucesso. Eu tenho certeza absoluta que essa taxa é muito menor do que 10%. Sendo bem otimista, eu diria que menos de 2% das startups no Brasil duram mais de 2 anos, encontraram um modelo de negócio lucrativo e retornaram lucro para seus primeiros investidores (afinal o sucesso tem que ser para todos os envolvidos não é mesmo?).
Os motivos para a falha dos outros 98% são muitos e é impossível listar todos. Mas da mesma forma que o cinto de segurança reduz em 45% a chance de morte em uma batida de carro, quais iniciativas poderiam reduzir o risco de “quebra prematura” de algumas startups?
Documentos certos, nas horas certas
Vamos pensar juntos: quantas startups vocês conhecem que morreram na beira da praia porque não tinham dinheiro? Sem capital, co-founders não aguentaram a pressão e não se dedicaram 100% ao negócio, membros da equipe foram demitidos, produto ficou abandonado e o momento foi perdido. Em muitos casos, esse dinheiro não veio porque essas startups:
- Não estavam legalmente preparadas para participar de programas como Startup Brasil, Seed, Startup Rio etc
- Fecharam um acordo ruim com Investidores amadores e não captaram novas rodadas de investimento por amarrações em contratos anteriores
- Não estruturaram corretamente a entrada de sócios na empresa e enfrentaram longas e desgastantes brigas societárias
- Não receberam investimento por terem uma estrutura societária bagunçada ou passivo legal
- Perderam um possível investimento na fase de due dilligence
- Desfocaram demais do negócio para atender a alta burocracia da captação e perderam o tesão dos investidores
Muito poderia ter sido evitado se essas Startups tivessem os documentos certos nas horas certas.
Que documentos são esses?
Estamos falando de documentos que formam a “certidão de crescimento” dessa startup por trás do CNPJ, se ela operar no Brasil. Serão importantes em diferentes momentos da Startup e do empreendedor, como por exemplo quando a startup for receber aporte financeiro. São documentos escritos por advogados, requeridos pelos investidores e importantes para a base legal da empresa.
Documentos que se fazem necessários desde quando a empresa se regulariza (Contrato Social, NDA com desenvolvedores externos), quando a empresa recebe um investimento anjo (TermSheet, MOU, Contrato de vesting) até quando a empresa começa a crescer (Planilha financeira, Contrato de acionistas, e por aí vai)
Por que a maioria das Startups erra nisso?
Por preço, dúvida, desconhecimento ou falta de tempo, sendo este último o motivo principal deste artigo. Na prática, percebo que a preparação legal de uma startup não é NADA importante, comparada à validação e execução recorrente do negócio. Mas infelizmente ela existe e não tem como fugir. Preparar a sua startup para receber um investimento por exemplo, toma muito tempo, é muito chato e tira o seu foco do negócio geralmente no momento que ele mais precisa.
Se é importante para investidores, mas toma o tempo do empreendedor, tira o foco do negócio e ainda é caro, eu me pergunto: porque não juntarmos os principais agentes presentes na linha do tempo de uma startup (advogados, anjos, aceleradoras, fundos e empreendedores) e criar uma série de documentos padrões, com boas práticas para o eco-sistema, reconhecidos e aceitos por todos?
Documentos padronizados Open Source para Startups
Se empreendedores querem focar e precisam aproveitar o seu tempo ao máximo, investidores anjos querem garantias legais de seus investimentos, aceleradoras querem startups sem legado legal desgastado e sem esqueletos no armário e o mercado de venture capital quer agilidade na due dilligence, vamos tornar todo o processo mais ágil, mais barato e mais focado, diminuindo o esforço exponencialmente.
Vamos imaginar que acabou a era dos custos com advogados no início de uma startup e que os documentos open source padronizados são uma ótima forma de empreendedores se basearem e se prepararem para quando eles forem necessários. Diminuiríamos o custo inicial das startups (que estão sempre precisando economizar), a complicação e tempo gasto, evitaríamos os famoso investidores-anjos escondidos por trás de documentos de gaveta, os dezenas de contratos sociais mal feitos com sócios-laranja de empresas limitadas, os investimentos perdidos por toda a lentidão interminável da buracracia e do vai-e-vem dos advogados, por exemplo.
Os benefícios são gigantescos. Isso poderia ser um marco na história do nosso ecosistema de startups com milhares de novas startups se beneficiando disso. – É sonhar alto demais?
Deu certo lá fora
Nos Estados Unidos isso funcionou. Hoje é possível achar diversos modelos de documentos importantes para uma startup, nos sites das principais aceleradoras de lá. Brad Feld, famoso investidor de startups nos EUA escreveu um post em seu blog “Feld Thoughts” falando sobre a padronização desses documentos (The Proliferation of Standardized Seed Financing Documents) e a verdade é que hoje isso virou padrão no Vale. Alguns exemplos:
- TechStars Model Seed Funding Documents (by Cooley)
- Y Combinator Series AA Equity Financing Documents (by WSGR)
- Founders Institute Plain Preferred Term Sheet (by WSGR)
- Series Seed Financing Documents (by Fenwick & West)
Esses exemplos funcionam para empresas americanas e em quase nada se aplicam para as startups com foco no Brasil, mas não deixa de ser uma inspiração.
Quem poderá fazer isso?
Esse não é um trabalho para uma pessoa só ou para um segmento do ecosistema. Precisa ser feito em comunhão com os principais players. Um bom começo seria uma discussão entre a ABS – Associação Brasileira de Startups, as aceleradoras do Startup Brasil (21212, Wayra, Papaya, Pipa, Outsource Brasil, Aceleratech, Start You Up, Acelera MG – Fumsoft, Acelera Brasil – Microsoft Participações), alguns investidores mais ativos, experientes e com cases bacanas (Bedy Yang, Anderson Thees por exemplo), e uma seleção de advogados. Em um final de semana poderiam sair alguns documentos extremamente simples e eficientes.
As startups de sucesso do futuro, agradecem.
Amure Pinho (@amurepinho) é CEO no Blogo, blogging made easy. Investidor anjo, conselheiro na ABS, curador da Campus Party, mentor nos programas de aceleração da Wayra e Papaya Ventures e palestrante.
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Imagem de abertura: Eric Gjerde/Flickr(CC)