A separação existente entre o capital e o conhecimento científico e tecnológico está presente no nosso imaginário desde a infância. Tio Patinhas sempre pedia projetos ao Professor Pardal. Estes projetos nunca davam certos por algum detalhe, e sempre estremecia a relação entre os dois. O Tio Patinhas é visto como um senhor avarento e ganancioso. O Professor Pardal é o arquétipo do cientista, distraído, realizando invenções malucas e descompromissadas com a realidade.
Felizmente no Brasil já temos história de capital e conhecimento trabalhando lado a lado e dando excelentes frutos.
Em 1996, Victor Fernando Ribeiro, 27 anos, estudante de mestrado da UFMG sobre orientação do professor Nivio Ziviani, desenvolveu para a matéria Projeto e Análise de Algoritmos um projeto sobre desenvolvimento de robôs para navegação na internet. Este trabalho foi concluído em fevereiro de 1998 com a dissertação de mestrado intitulada “A Família Miner de Agentes para a Web“. O Miner foi foi lançado no mesmo mês de fevereiro e, com apenas 34 e-mails de divulgação, passou a receber 3.000 consultas por dia.
O Miner foi lançado como empresa em Fevereiro de 1998, pelo já mestre Victor Ribeiro e o seu orientador Nivio Ziviani. O crescimento vertiginoso do empreendimento levou os fundadores a procurarem sócios e em Janeiro de 1999 integraram a sociedade Guilherme Emrich (FIR Capital) e Ivan Moura Campos. Em Junho de 1999 a empresa foi vendida para o grupo Abril/Folha de São Paulo/UOL. Durante este período, os sócios sabendo da importância da Universidade no empreendimento procuraram negociar a participação dela, mas naquela época a velocidade do negócio, contraposta aos procedimentos de uma negociação em vários níveis na universidade não permitiram as partes chegarem a um acordo antes da venda da empresa. Os sócios, reconhecendo a importância da instituição na empreitada, realizaram uma doação de R$ 100 mil para a Universidade, em cerimônia ocorrida em 16 de Março de 2000.
Em 2000, com a experiência do Miner, foi criada a Akwan pelos professores Nivio Ziviani, Berthier Ribeiro Neto, Alberto Laender e Ivan Moura Campos. A FIR Capital entrou desde o primeiro instante na sociedade, aportando capital semente e viabilizando a sua criação. A fundação da UFMG (FUNDEP) também participou desde o primeiro momento. A Miner provou que aquele era um modelo vencedor. O empreendimento foi vendido para o Google em Julho de 2005. Os primeiros contatos para a venda foram realizados pelos fundadores que publicavam artigos nas mesmas conferências internacionais que os pesquisadores do Google. Segundo o vice-presidente de engenharia do Google “Não foi somente uma questão de escolher o Brasil. Escolhemos a Akwan, que por acaso fica no país. Nosso único critério é encontrar as melhores pessoas”.
Esta história de sucesso não aconteceu sem percalços. Em 2003 em uma reunião histórica ouve o reconhecimento de todos os presentes que a Akwan estava com o caixa extremamente limitado. Naquele momento, engenheiros da empresa toparam para realizar o sonho conjunto trocar salário por participação societária. O resultado disso é que alguns deles ficaram milionários na venda 3 anos depois. A UFMG ganhou um valor de sete dígitos. É aquela máxima: financistas se prendem a vírgulas, venture capitalists e empreendedores querem construir números com o maior número possível de pontos e de zeros.
O conhecimento deve ser privilegiado no nosso país, a aproximação do capital com o conhecimento é uma das principais formas de se criarem empresas com altíssimo valor agregado, que geram riquezas através de empregos, produtos, serviços e tecnologia e inovação.
Queremos mais “causos” como o que aconteceu em uma seleção para professor do Departamento de Ciência de Computação da UFMG. Quando um dos concorrentes foi questionado sobre a razão de querer fazer parte do departamento, ouviu como resposta: “Eu quero ser professor da UFMG e ficar rico”. Com o olhar de descrédito da banca, continuou, apontando para platéia: “ali está Professor Ziviani que não me deixa mentir”.
Obrigado ao Marcus Regueira e a todos os outros pelo relato.
Imagem de abertura: Jorge Franganillo/Flickr(CC)