* Por Sergio Roque
Certa vez tive um cliente, um empreendedor extremamente inteligente. Logo descobri que este era o seu maior problema. Ele sabia muito sobre muita coisa, por isso, se achava sempre com razão e com argumentos afiados para derrubar qualquer de seus liderados. Porém, ele era terrivelmente incompetente em várias áreas de sua empresa, por exemplo: marketing e comunicação.
Contudo, nada superava sua incompetência em lidar com pessoas. Todos os dias, ele tomava decisões erradas ou decisões que revogavam outras muito mais acertadas de seus liderados sobre contratações, dispensas, parcerias, comunicação interna e tudo que se referia aos seus times e recursos humanos.
O “Efeito Dunning-Kruger” é o fenômeno pelo qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais que outros que conhecem bem mais sobre o assunto, fazendo-os tomar decisões erradas e chegar a resultados muitas vezes desastrosos.
A própria incompetência restringe estas pessoas da habilidade de reconhecer os próprios erros.
Estas pessoas sofrem de superioridade ilusória.
O mecanismo da ilusão de superioridade foi demonstrado numa série de experiências realizadas por Justin Kruger e David Dunning, pela Universidade de Cornell.
Eles partiram da premissa: “Se você é incompetente, você não consegue saber que é incompetente (…) As habilidades necessárias para fornecer uma resposta correta são exatamente as habilidades que você precisa ter para ser capaz de reconhecer o que é uma resposta correta. No raciocínio lógico, na educação dos filhos, na administração, na resolução de problemas, as habilidades que você usa para obter a resposta correta são exatamente as mesmas habilidades que você usa para avaliar a resposta”.
Dunning e Kruger propuseram, portanto, padrões de comportamento em que pessoas que sofrem de Superioridade Ilusória irão incorrer perante determinadas situações:
– falhar em reconhecer sua própria falta de habilidade;
– falhar em reconhecer as habilidades genuínas em outras pessoas;
– falhar em reconhecer a extensão de sua própria incompetência e estupidez;
– mas podem reconhecer e admitir sua própria falta de habilidade depois que forem treinados para aquela habilidade.
Em um mundo onde não podemos admitir fraqueza em nenhum momento com o risco de cortarem nossas cabeças e todo conhecimento superficial está ao alcance de um click, os líderes nas empresas tendem a sofrer desta ilusão pelo menos em algumas áreas.
Se você é o chefe e detecta uma pessoa no seu time com este problema (de preferência antes de um erro catastrófico), prepare e marque urgente um feedback para o executivo. Melhor ainda se usar o conceito de feedfoward, que significa orientar e promover meios visando o aperfeiçoamento de competências e habilidades.
E quando você sofre desta ilusão? Como saber antes de cometer algum erro grave? Vai ficar aguardando o feedback ou feedfoward do seu chefe (se você tiver chefe)?
Para isso existe a Lei do Lacerda. Lacerda foi um gerente muito velho e muito nordestino que tive em um negócio. Ele dizia:
“Roque, se uma pessoa lhe disser que tu és burro, desconsidere. Se duas pessoas disserem que tu és burro, desconsidere também. Porém se três pessoas disserem que tu és burro, pode comprar a sela e o cabresto porque tu és burro mesmo”.
Brincadeiras à parte, se puder siga alguns dos passos a seguir:
– Escute as pessoas de confiança que tem a sua volta;
– Se cerque de pessoas em que confia lhe dizer sempre a verdade e faça perguntas sobre seu desempenho;
– Se não tiver, contrate e crie seu círculo de confiança. Se nunca consegue ter pessoas em que confia a sua volta o problema está em você (terapia pode resolver);
– Se ainda assim precisar de mais referências sobre sua habilidade ou desempenho, contrate um consultor ou coaching de performance.
Afinal, todos nós somos incompetentes em uma ou algumas áreas e, às vezes, pode ser essencial para o sucesso ou fracasso do nosso negócio ou carreira. E não precisamos sofrer de um mal ilusório de comportamento para buscarmos ajuda.
Treinamento nunca é demais. Para os líderes isso é uma verdade crucial.
Os resultados dos estudos de Dunning e Kruger foram publicados no Journal of Personality and Social Psychology em dezembro de 1999.