* Por Erik Nybo
No mês de abril deste ano, a JusBrasil levantou uma rodada de investimento série C no valor de US$ 32,5 milhões. Isso não é só um sinal importante para o mercado de tecnologia e para as startups brasileiras. Essa rodada traz um sinal importante para uma vertical que tradicionalmente não é a favorita ou sequer nem aparece entre as teses dos investidores de venture capital: legaltech.
Aos poucos, alguns venture capitalist começaram a entender a importância desse segmento e passaram a investir em algumas startups que representam o setor. Alguns exemplos são a Canary, Monashees, DGF, Valor, Astella, Igah Ventures e One VC.
Esses fundos passaram a enxergar que, nos últimos anos, uma série de empreendedores começou a se aventurar dentro da área jurídica para criar tecnologias que pudessem resolver problemas dessa área muito tradicional. Muitas vezes, problemas que esses próprios fundos ou investidas já vivenciaram.
No entanto, a grande maioria dessa primeira geração de empreendedores que entraram na área de legaltechs no Brasil não tinham formação jurídica. Sequer possuíam advogados no time inicialmente. E isso diz muito sobre o setor que tradicionalmente se mostra muito resistente à inovação e introdução de tecnologia.
No entanto, agora esse cenário mudou. Cada vez mais advogados entendem a necessidade e a importância de entrarem nesse segmento e/ou utilizarem essas tecnologias e inovações no dia a dia. Isso acontece ao mesmo tempo em que boa parte da economia se digitaliza e, por essa razão, os próprios clientes dos advogados requerem serviços capazes de atendê-los dentro dessa nova realidade.
É nesse sentido, por exemplo, que surgem estruturas diferentes dos tradicionais escritórios para suprir as necessidades que a digitalização impõe para as empresas e empreendedores. A Nós 8, que este mês completa 5 anos, acompanha essa atualização e apresenta novas formas de se organizar nessa nova dinâmica de mercado. Em vez de se denominar como um escritório, se apresentam como um coletivo de advogados e, mais do que isso, uma plataforma de compartilhamento de conhecimento jurídico. Não só isso, adotaram o modelo freemium para atender clientes – tal como faz o Spotify, Youtube, dentre várias outras empresas de tecnologia que representam essa nova forma de fazer negócios.
No exterior, já vimos diversos desses modelos surgindo e suprindo necessidades que de alguma forma escritórios sozinhos tinham dificuldade de suprir. Com o aumento de tecnologia e inovação nesse segmento começam a surgir novos modelos de serviços, estruturas e plataformas que acabam ajudando as pessoas a terem mais acesso aos seus direitos. Agora, o que falta para que esse segmento em transformação possa gerar mais impactos é apenas a sua expansão e conhecimento do resto do mercado sobre a existência dessas soluções. Quando isso acontecer, podemos esperar uma mudança profunda na forma como as pessoas se relacionam com seus direitos e obrigações.
Erik Fontenele Nybo é fundador da BITS Academy. Foi gerente jurídico global da Easy Taxi. Autor e coordenador do livro “Direito das Startups” (Saraiva) e “O Poder dos Algoritmos” (Enlaw) e coordenador do curso “Direito em Startups” no INSPER. Advogado formado pela Fundação Getúlio Vargas.