* Por Elber Mazaro
Após escrever artigos sobre a relação simbiótica da tecnologia com os negócios e uma perspectiva sobre o contexto e a evolução da tecnologia, com base em 3+1 demandas contínuas e na lei de Moore, é hora de olharmos um pouco mais detalhadamente para as megatendências digitais. Já as mencionei em um artigo sobre as tendências de marketing digital, mas aqui podemos nos aprofundar com foco na relação da tecnologia com o mundo dos negócios.
Este também é um modelo que criei há alguns anos, para ajudar no entendimento da evolução da tecnologia, e no olhar para o futuro.
Podemos identificar possíveis caminhos de adoção da tecnologia no mundo dos negócios, que possam gerar transformações, oportunidades e desafios para as organizações e também para os profissionais.
Volto ao conceito de evoluções tecnológicas que embasam revoluções para o mundo e possibilidades de crescimento, disrupção e inovação.
O que são as Megatendências Digitais?
São movimentos do mercado e do desenvolvimento tecnológico que evoluíram por muitos anos, na sua maioria por décadas, mantendo o seu propósito / função básica, mesmo que com diferentes formatos, produtos e até com novos nomes.
As megatendências digitais, sinalizam o que podemos esperar dos próximos anos, como desdobramentos da evolução tecnológica mais pura, demonstrando a adoção e aceitação pelos clientes e pelo mercado, de novos produtos ou modelos de negócios, em alguns casos disruptivos, ou seja, como inovações que transformam de maneira significativa a sociedade e o ambiente.
Entender as megatendências digitais permite a pessoas que não são técnicas ou profissionais com formação em tecnologia:
- Criar visão organizada e integrada de como a tecnologia pode ser aproveitada no mundo dos negócios;
- Compreender para se preparar e se possível antecipar movimentos de mercado que tragam novas dinâmicas, situações e mudanças no contexto e no ambiente;
- Identificar oportunidades e ameaças e momentos chave para inovações e posicionamentos das organizações e dos profissionais;
- Criar situações que permitam experimentar e inovar na busca por crescimento, impactos e melhores resultados para todos os “stakeholders”.
É importante dizer que essas megatendências tecnológicas ou digitais, representam um ponto de vista, ou seja, uma forma de organizar a minha leitura do mercado, com base no meu histórico e na minha própria relação com a tecnologia.
Com certeza existem outras formas de ver e organizar as tendências tecnológicas e seus usos, funções/aplicações etc.
Estou inserido e atuante na área de tecnologia, há mais de trinta anos, desde quando pedi para meu pai me dar um microcomputador (TK-85 da Microdigital – 16KB de memória) ao invés de um videogame (Atari). Isso é só para os dinossauros entenderem, mas saiba que foi na década de 80.
Tive a oportunidade de cursar técnico em processamento de dados, bacharelado em ciências de computação, de iniciar como estagiário no CPD da Volkswagen e de trabalhar por 15 anos na Intel, e assim fui construindo ao longo dos anos, esse entendimento que compartilho aqui.
Inicialmente defini sete megatendências ou movimentos com base tecnológica, de evolução e aplicação no mercado, e depois adicionei mais uma, para que ficasse mais completo e representativo do contexto atual do mundo em relação a adoção de tecnologia por pessoas e nos negócios. Você provavelmente vai conseguir imaginar alguma megatendência que me escapou.
As oito megatendências digitais, que desejo destacar para que do momento são:
1) Mobilidade: começou com o laptop e evoluiu para: notebooks, smartphones, tablets, vestíveis (wearable) e IoT.
As pessoas sempre quiseram ter a tecnologia a sua disposição e poder estar em movimento com ela, desde o primeiro laptop que pesava uns 25 quilos, até os implantes de chips sob a pele.
Somos seres móveis e desejamos contar com os benefícios e produtos da tecnologia conosco.
Já temos a tecnologia presente nas roupas, nos acessórios, nos carros e estamos evoluindo para tê-la no nosso próprio corpo, sempre buscando estar conectados.
2) Big Data: Inteligência no tratamento de dados, estruturados ou não, com grande volume e velocidade (normalmente, em tempo real). A evolução do banco de dados.
Este termo está cada vez mais popular e tem expressado tecnologias e produtos que fazem todo tipo de tratamento de dados e informações. Estamos falando de aplicações que envolvem hardware e software.
É um grande repositório, ou podemos dizer que uma enorme biblioteca digital para se disponibilizar dados e informações para aplicações e usos variados.
Há muito tempo chamávamos de banco de dados, e discutíamos se eram melhores, centralizados ou distribuídos. Agora estamos tratando tipos diferentes de dados, como imagens, sons e outros, que não são estruturados, ou seja, não são em princípio simplesmente dados digitais, zeros e uns.
Além de lidar com tipos diferentes de dados, o big data, também precisa fazê-lo com enormes volumes / quantidades e dar respostas, praticamente em tempo real (velocidade), e são essas as principais características no momento, dessa megatendência, cada vez mais importante, com tudo (pessoas e coisas) ficando conectados e integrados.
3) Cloud: Nuvem, informação a qualquer momento em qualquer lugar e com segurança. Normalmente, não sabemos onde se encontra o armazenamento físico da informação, só acessamos.
A nuvem, ou como muitos estão acostumados a usar o termo em inglês, cloud, na verdade é fruto do fato dos usuários estarem cada vez mais móveis, e da precisarmos acessar as informações, em um sistema big data, de qualquer lugar, ou melhor, de onde elas são necessárias e importantes.
No final das contas, existem grandes centros (datacenters), espalhados ao redor do mundo, como fazendas de servidores, com enorme capacidade de processamento, armazenamento e conectividade (lembrando as 3+1 demandas contínuas de tecnologia).
Os dados e informações ficam espalhados nesses centros, e existem sistemas que permitem aos usuários acessá-los, utilizá-los e voltar a armazená-los quando preciso.
Eu costumo perguntar às pessoas e às organizações, se elas sabem onde algumas das suas informações estão armazenadas, fisicamente (em qual servidor e onde está esse sistema).
A resposta é não, sabe-se que está em um sistema, como iCloud, ou o Google Drive, ou na AWS, mas não se faz ideia de onde estão os equipamentos desse sistema e se diz então que estão na nuvem (cloud), em algum lugar por aí.
Usamos o termo computação na nuvem para descrever a distribuição organizada, e de preferência segura, de dados e informações, por sistemas e redes computacionais, acessíveis sob demanda.
Normalmente são vários datacenters, espalhados nos lugares mais remotos, com baixo custo e amplo acesso a espaço físico e principalmente energia elétrica e conexões de alta velocidade.
Esses locais, que podem ser de serviços públicos ou exclusivos de empresas / organizações privadas, costumam ter as informações, espalhadas (não fica necessariamente tudo no mesmo local), replicadas / espelhadas (cópias e backups), protegidas e acessíveis ao mesmo tempo.
4) Ecommerce: Varejo digital e integrado ao físico, 360, omnichannel.
Não precisamos explicar muito, pois desde que criamos ambientes virtuais, para troca e acesso a informações, desejamos aproveitar esses ambientes, e no caso, principalmente a internet, para fazermos negócios e termos comércio.
A pandemia só acelerou o comércio eletrônico, aumentando os investimentos nas plataformas que suportam esse ambiente, desde sites privados até marketplaces (shoppings virtuais).
No momento assistimos a integração entre o ambiente de comércio digital e online, com o off-line – lojas físicas, e grandes investimentos em busca de diferenciais, como a agilidade na entrega.
Buscamos experiências equilibradas e equivalentes tanto no mundo digital como no varejo físico, e a tecnologia está tornando isso possível.
5) Social: Interação entre pessoas, redes, voz do indivíduo, capacidade de super segmentação.
Temos o hábito de viver em sociedade, e buscamos ter essa condição de relacionamento também no meio digital.
As redes sociais, não são “modinha”, e sim, plataformas poderosas para integração de pessoas e organizações, incluindo empresas.
Existem redes sociais para todos os gostos, permitindo cada pessoa escolher qual vai usar, para qual finalidade e por quanto tempo, mas sabemos que essas redes devem continuar evoluindo e explorando os avanços tecnológicos, como uma das megatendências mais recentes, nesta lista.
As redes sociais, estão aproveitando a evolução para se apropriarem de vídeos, para contar histórias, explorar os micro momentos, criar ambientes amigáveis e bem humorados, com espaço para fotos, imagens e memes.
Existem soluções especializadas e multimídias, permitindo cada vez mais interações, suportando a criação de comunidades e viabilizando conversas entre muitas, ou apenas, duas partes, podendo ser pessoas e também empresas / organizações.
6) Interfaces: entre humanos e máquinas, como as multitelas, biometria, gestos e voz (teclados ficando para o passado).
Essa megatendência, se refere a como interagimos com as máquinas e os produtos que nos conectam ao mundo digital.
Partimos de um início complicado, com teclados (que não fazem sentido para nós) e telas monocromáticas, para comandarmos as tecnologias com a voz, com gestos e até, quem sabe no futuro a nossa interface possa ser o pensamento.
Hoje temos muitas telas, e passamos os dedos sobre elas para indicar o que desejamos / buscamos. Usamos sistemas de biometria, com a nossa digital ou a imagem da nossa face, para sermos identificados e validados em transações.
Temos câmeras cada vez mais sofisticadas, algumas já medem sua temperatura, além de ajudar a te identificar, e outras já permitem que você faça compras sem precisar passar no caixa, pois registram que produto você pegou nas prateleiras e está levando para casa.
Aqui também temos muitas preocupações com segurança e privacidade, pois as linhas estão ficando tênues, entre o que é uma ferramenta de comodidade, proteção e segurança coletiva e o que é invasão da privacidade individual a que todos devem ter direito.
7) Materiais: Novas possibilidades e usos, como condutores e conectores (ex.: grafeno). O substituto do silício, vem aí.
A megatendência de materiais, aponta para as evoluções das matérias primas para os produtos tecnológicos.
Estamos há décadas explorando o silício como elemento com ótima capacidade de condução elétrica, e mais recentemente a fibra-ótica para transmissão de dados.
Esses materiais, têm seus limites físicos e já começamos a buscar novas soluções que permitam que continuemos avançando a ritmo acelerado com as inovações, as demandas contínuas de tecnologia e as próprias megatendências.
Uma das inovações, com maior destaque nessa megatendência de materiais, é o grafeno, derivado do carbono, que traz inúmeras possibilidades no seu uso, indo desde telas flexíveis, transparentes e táteis, à conectores para sistemas óticos, muito mais eficientes (com menores perdas).
São tantas as possibilidades para o grafeno, que a indústria e o mercado não sabem muito bem o que é mais importante e deve vir primeiro na sua implantação / utilização. Seriam aparelhos médicos para microcirurgias ou componentes para supercomputadores e satélites?
Outro exemplo associado a essa megatendência é que estamos usando cada vez mais o ar, principalmente na área de conectividade, para transmissões sem fio.
8) IA – Machine Learning / Computação Cognitiva: Aprendizado e interação, a partir de bases de dados e algoritmos.
Essa oitava megatendência foi a última que adicionei. O desenvolvimento de algoritmos, no campo matemático, que pudessem suportar a inteligência artificial, vem desde a década de 60, se considerarmos os que são baseados em redes neurais (imitam o cérebro) e embasam o Machine Learning.
As interfaces representam apenas a nossa forma de conversar com as soluções e os produtos digitais, principalmente do ponto de vista dos sentidos, mas a inteligência artificial trata do conteúdo, da aplicação e da evolução da capacidade dos equipamentos em nos ajudar com o processamento de muitas informações, armazenadas, de maneira a nos dar respostas e soluções, mais rápidas e precisas, para questões complexas.
Os sistemas computacionais estão adquirindo a capacidade de receber dados de várias formas, e de identificarem padrões e modelos, que podem ser refinados e aprimorados seguindo-se uma lógica, programada a partir de um algoritmo (matemática) e assim apontarem os resultados mais prováveis, mais comuns e mais aplicáveis a situações e necessidades. Isso vem da evolução das demandas contínuas em linha com a outras megatendências.
Estamos descobrindo todas as possibilidade e aplicações, para tal capacidade, da inteligência artificial, de aprender e criar uma base de conhecimento para responder e endereçar questões em muitos casos melhor do que nós, humanos.
Já vimos sistemas baseados em inteligência artificial, ganharem campeonatos de xadrez, de curiosidades e de pôquer, como demonstração da sua capacidade.
Então apesar do meu dilema, sobre se a inteligência artificial é derivada das demais megatendências, como as criptomoedas e a robótica são no meu ponto de vista, ou se é uma megatendência em si, me dei por vencido e chegamos a oito megatendências.
Conhecer as megatendências e entender como elas vem avançando, em função dos desenvolvimentos de tecnologia, pode fazer toda a diferença no desenvolvimento de projetos e negócios.
Existem muitas oportunidades e novos mercados que vão surgir com o avanço das megatendências, que diferente das “modinhas” são, movimentos duradouros e impactantes, mesmo que troquem de nome, com o passar dos anos e com a adição de novas funções e capacidades, sempre derivadas do desenvolvimento tecnológico.
Já vi empresas que perceberam migrações no mercado, por exemplo de sistemas que precisavam ser instalados em equipamentos que ficavam dentro dos escritórios, fábricas e casas, para serviços e soluções, que estão na nuvem (cloud).
Isso gerou uma redução de custos importante para os contratantes, e aqueles que primeiro ofereceram o novo tipo de solução, prosperam com um diferencial de mercado, ampliando e inovando os negócios, enquanto aqueles que não entendiam o movimento e apontavam problemas, no caso, de segurança ou coisas do tipo, ficaram para trás.
Você pode imaginar quantas oportunidades existem, na relação simbiótica de negócios com a tecnologia, envolvendo todas as megatendências, em cada segmento de mercado?
Como já falei, esse ponto de vista não é único, e nem melhor ou pior do que outras perspectivas possíveis, assim como não tem a pretensão de ser definitivo e perfeito ou cem por cento acurado.
Curiosamente ainda não criei um acrônimo para facilitar a memorização das oito megatendências, mas isso deve ocorrer em breve e você também pode fazê-lo.
Então, aproveite o que achar válido desse conteúdo e mãos-a-obra!
Elber Mazaro é assessor/consultor, mentor e professor em Estratégia, Tecnologia, Marketing, Carreiras/Liderança e Inovação/Empreendedorismo. Atua há mais de 25 anos no mercado, liderando negócios no Brasil e na América Latina. Possui mestrado em Empreendedorismo pela FEA-USP, pós-graduação em Marketing e bacharelado em Ciências da Computação.