Incluindo conexões de voo em Paris (França) na ida e na volta, pode-se dizer que estive em quatro países nos últimos dias, mas também interagi diretamente com pessoas de ainda outros países.
Passeio? Um pouco. Trabalho? Bastante. Uma imersão intensiva em duas capitais mais a profusão de línguas e backgrounds sociais provocou uma série de percepções e reflexões sobre inovação e empreendedorismo.
Na semana entre os dias 17 e 20 de junho, estive fora do país no que chamamos de Startup Europe Mission. Foi uma viagem de relacionamento e conteúdo: na primeira parte, dei a palestra Venturing the Brazilicon Valleys no evento La Red Innova, em Madri (Espanha) e entrevistei empreendedores; depois, graças ao patrocínio de Trindade Investimentos, segui para Berlim (Alemanha), onde também entrevistei empreendedores.
Sociedade e cultura
Os espanhóis acham que os brasileiros são legais e ricos, mas Madri é tão mais limpa, organizada, linda e menos tensa que as capitais brasileiras! Por menos tensa entenda-se: não há pessoas mal-encaradas nem de má vontade. E olha que eu estava hospedado a duas quadras da praça onde os jovens andavam acampando para protestar contra a situação e o governo. Mal sabem eles que, em geral, o Brasil dá muito mais medo e tem tanta miséria e falta de conhecimento por todos os lados. Mas ok, isso é uma observação genérica de turista, mas tem muito a ver com a sociologia e a economia.
Europeus podem ter menos recursos naturais, criatividade (digamos, mesmo que seja um mito, mas não fui pra lá julgar isso) ou lacunas a serem exploradas, mas, ao menos na Alemanha (não vou falar da Espanha porque está em crise), eles tem mais dinheiro e disciplina do que nós. Em Berlim, o dinheiro tem valor (paga-se, por exemplo, 8 mil euros em sedans Mercedes Benz com pouco uso, e 600 euros dá pro aluguel de um apartamento em região de qualidade invejável) e as coisas funcionam (o metrô, por exemplo, não tem catracas nem cobradores ou seguranças, mas todo mundo compra o bilhete e passa na máquina de validar – comportamento, cultura, respeito, disciplina, responsabilidade).
Ímpeto empreendedor
Isso tudo explica casos como os da Rocket Internet: chamam de incubadora, mas não é de empresas, e sim tipo uma equipe aceleradora de projetos. Eles pegam modelos de negócio testados geralmente no Vale do Silício para copiar rapidamente e com força – o que acaba prejudicando os competidores mais lentos e/ou mais fracos. Rapidamente e com força, para eles, equivale a investir muito dinheiro (tipo US$ 90 milhões) e botar muita gente a fazer de tudo para que a nova marca ocupe rapidamente a melhor posição: a de marca mais consumida. Eles querem e conseguem se tornar “o maior peixe do aquário”, mesmo em aquários considerados secundários.
Veja algumas fotos tiradas em Madri, especialmente durante La Red Innova.
Posicionamentos e vantagens competitivas sustentáveis
Na Europa, dizem que há menos green fields e blue oceans, áreas com poucos fornecedores competindo, pouco exploradas. Bem dizendo, novos mercados. E adivinha: nós, do Novo Mundo, dos países emergentes, especialmente do Brasil, somos o novo mercado para eles, a nova área de atuação! Alemães, principalmente, estão constantemente vindo ao Brasil e levando junto, na volta, profissionais brasileiros conhecedores do mercado local. Outros estão vindo para abrir novos negócios, outros para investir. Alguém poderia interpretar que isso tem um certo ar de colonialismo ou exploração, mas o fato é que faz tempo que nós, brasileiros, estamos fazendo força para atrair a atenção da comunidade inovadora internacional – inclusive nós, do Startupi, com conteúdo em inglês desde 2008, desenvolvendo relacionamento com empreendedores e investidores não apenas do Vale do Silício, mas de vários países europeus também.
Digital no dia a dia
O centro de Madri é repleto de prédios onde fazem projeção de imagens ou iluminações fantásticas. Há inclusive um prédio com um paredão coberto de leds e com uma câmera que, por exemplo, capta a imagem do pessoal jogando tetris humano e reproduz na fachada. E isso não como uma instalação temporária, mas como um hábito que já faz parte da cidade. Também em Madri existe um evento mensal (The AppDate) no qual desenvolvedores brincam com os limites dos aplicativos mobile, fazendo até jams musicais. Houve no evento até um portador de deficiência visual que entregou um aplicativo para ajudar outras pessoas com dificuldades parecidas!
Em Berlim, existe um museu permanente específico para jogos eletrônicos, que conta inclusive com banners publicitários nas estações de metrô. No metrô, aliás, bem como nas ruas, é muito comum ver links e QR codes em panfletos, adesivos, banners. Ou seja, o online está dentro do offline e o offline está dentro do online. E não estou dizendo que aqui não se faz isso; estou apenas relatando. Aliás, tanto em uma cidade como na outra vi gente usando tranquilamente seus Macbooks nas estações de metrô e durante os trajetos. Isso a gente não vê tão facilmente, certo? Possivelmente por causa do assédio aos iPhones, produtos da maçãzinha em geral e eletrônicos em geral.
Veja algumas fotos tiradas em Berlim.
Modelo de negócios do momento – vindo para o Brasil
Só para exemplificar, há um mercado imenso (só consigo entender desse jeito) de aluguel de quartos. Há o Airbnb.com, made in California, que comprou o player local Accoleo.com. Mas há mais dois sites alemães neste negócio: o Wimdu.de, que recebeu mês passado US$ 90 milhões da Rocket Internet e da Kinnevik, mais o 9flats.com. Um dos meus contatos em Berlin, o brasileiro Friedrich Neumann, aposta no seguinte:
“O que está por vir depois dos clubes de desconto virarem febre e um modelo de negócio extremamente lucrativo no Brasil? Quem estiver lançando a nova Airbnb.com no Brasil pode se dar bem! Será que gira? A Airbnb nos EUA acabou de receber uma nova rodada de financiamento de mais de 100 milhões de dólares, o que deixa a empresa hoje avaliada em mais de 1 bilhão de dólares. Esse investimento não vem à toa, tendo em vista o crescimento exponencial de estadias organizadas pela comunidade. Só em 2010 foram mais de 1.6 milhões de estadias marcando um crescimento de 800%.
Com a “9flats” na Alemanha, surgiu a primeira cópia, com um investimento de 10 milhões de Euros. A incubadora alemã “Rocket Internet” dos irmãos Samwer (Dafiti, Groupon, entre outros) não perdeu tempo, e lançou junto com o apoio de fundos de investimento a “Wimdu”, com um suposto investimento superior a 10 milhões de Euros. Resultado: a Airbnb acaba de comprar a Accoleo para entrar e proteger o mercado alemão. A luta promete ser interessante!
Fica no ar quem será o próximo concorrente à altura da Airbnb no Brasil! Analisando a estratégia da Airbnb na Alemanha, eu nao duvido de uma breve entrada no mercado Brasileiro para evitar a concorrência inicial da Wimdu ou de alguma startup local. Interessante é a agressividade na estratégia de internacionalização destas empresas, onde eu duvido que o Brasil possa ser deixado de lado. A Wimdu me parece estar com um pé na frente”.
Pensando a cena
- Deutsche Startups – “startups alemãs”: site com investimento do European Founders Fund (que tem por trás os irmãos Samwer, da Rocket Internet) e do Holtzbrinck Ventures;
- Gründer Szene – “Cena de Fundadores”: site com investimento do Team Europe Ventures;
- Business Punk – work hard, play hard: sediada em Hamburg, mas comprei em um dos aeroportos de Berlin e adorei! Sem querer puxar saco, mas é a mistura perfeita entre a HSM Management (pelo tamanho e qualidade) e a ResultsON (pelo frescor).
Interessante notar que os dois sites de startups recebem investimento de fontes diferentes, logo, que há investidores diferentes promovendo a inteligência “da causa” empreendedora.
Abaixo, imagens dos 15 posts que fiz durante e sobre a viagem, especialmente entrevistas com empreendedores brasileiros, espanhóis, argentinos e alemães.