* Por Dimas Dion – Correspondente Startupi em Austin
Austin, Texas – Estamos à beira de uma nova era pós-proibição em que novas oportunidades florescem para as startups. No entanto, para que se alcance o sucesso, startups que se utilizam do uso de cannabis devem navegar num emaranhado de novas regulações para que esse modelo de negócio emerja.
Um tema polêmico, sem dúvida, cujas preposições foram discutidas no painel – Enabling Cannabis Innovation with Law and Policy com moderação de Timothy Yim, diretor da Startup Policy Lab.
Os riscos, recompensas, diferentes abordagens regulatórias e os obstáculos de inovar em um mercado considerado “negro” que está movendo-se rapidamente para legalidade foi um dos assuntos discutidos pelos debatedores.
O investidor Geoff Lewis, especialista em mercados em estágio embrionário e em crescimento de softwares, afirma que as empresas que se utilizam da cannabis atualmente têm profissionalizado seus negócios nos processos de cultivo, apuro, qualidade e avaliação química, assim como na destinação.
Já o executivo Brendan Kennedy, da empresa de finanças Private Holdings, especializada no estudo de Mercado voltado para a cannabis, falou do levantamento de 82 milhões de dólares feito por sua equipe para empresas que desejam investir exclusivamente em cannabis. “O cenário para a comercialização, principalmente na Califórnia, é propício, tanto nacionalmente e internacionalmente, uma vez que o mercado de produtos medicinais tem aceitado e aprovado muitos produtos ao redor do mundo”, concluí, mesmo com a ressalva de que anda existe muita polêmica e preconceito em algumas culturas.
Lewis responde que a questão sobre a comercialização, esbarra na regulação e em barreiras políticas, o que ainda demandará um tempo longo para a possível comercialização em lugares mais habituais e de convivência familiar, como restaurantes por exemplo. “Para se ter uma ideia, Pepsi e Coca-Cola já esperam usar cannabis em suas fórmulas, o que pode gerar um aumento enorme na escala de produção, mas por enquanto nada disso ainda é possível, sem contar o longo estudo prévio e pesquisas de marketing para aferir a aceitação”.
Na prática – e sem o uso intensivo da cannabis por empresas – um mercado extremamente promissor já colhe frutos maduros nos Estados Unidos. É o que demonstra o Estado do Colorado, o primeiro americano a legalizar o uso recreativo da planta. O impacto positivo da decisão popular já gerou US$ 70 milhões em impostos sobre a comercialização no ano fiscal encerrado em junho de 2015 – quase o dobro dos US$ 40 milhões previstos.
O resultado é fantástico para a economia local, no entanto, como explica Kennedy, ainda há dificuldade de se conseguir crédito para desenvolvimento de uma empresa com essa natureza. “O Federal Reserve e bancos privados tem algumas linhas de créditos, mas são poucas, ao contrário do Canadá, cujos investidores se mostram mais amigáveis que os americanos. Acho que os bancos não querem ver seus dinheiros investidos em negócios que parecem viver de brisa”, brinca
Por outro lado, o executivo ressalta um procedente perigoso que envolve a ilegalidade, principalmente na figura dos cartéis de drogas no México. “Não conseguimos medir o quanto essa indústria, que vive na ilegalidade, consegue lucrar. Mas sabemos que é dinheiro na casa dos milhões, quem sabe bilhões. E o que será dela quando a cannabis legal se tornar uma realidade maior para diversos negócios, no sentido de enfurecer os traficantes pela perda da produção e, consequentemente, do extenso mercado, além da imigração dos mesmos para uma outra área de atuação”.
O momento, porém, é importante para parcerias estratégicas e aprimorar as pesquisas com foco em todos os usos disponíveis da cannabis, seja por ingestão medicinal por pílulas, spray ou mesmo creme para aplicar sobre a pele.
Sobre a venda de cannabis em qualquer praça, Kennedy é categórico sobre a necessidade de regulações nos Estados Unidos, assim como já ocorre com a proibição do uso e a venda de álcool nas ruas. “Antes de chegarmos em como e onde comercializaremos em larga escala, – como já ocorre em coffes shops em Amsterdã ou lojas especializadas no Colorado – é preciso debater ainda mais de que forma ocorre a propaganda sobre uso dessas drogas legalizadas e, num futuro próximo, com a entrada da cannabis em larga escala. A minha experiência me diz que podemos vender um produto melhor do que álcool e o tabaco, com todo o rastreamento do produto e certificados de qualidade”, diz.
Lewis ressalta que existe a dificuldade de colocá-la no mercado em modelos de vendas que ele estuda, como lugares fechados. “Enquanto as agências reguladoras estão procurando saber o que as pessoas desejam consumir, existem muitos lobbys conservadores endurecem o processo e não permitem que essas questões sejam discutidas mais seriamente”. O que trava o processo de uma legalização mais ampla e um impacto econômico positivo e assim, consequentemente, permita que startups gerem novos negócios.