* Por Ana Debiazi
O conceito de Open Innovation, ou inovação aberta, em português, surgiu para ampliar o a colaboração entre empresas, órgãos públicos e pessoas de fora da organização para a criação de novos produtos e serviços. O termo foi cunhado por Henry Chesbrough, professor da universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, que lançou um livro homônimo.
A definição exata dada pelo autor é a seguinte: “Inovação aberta é o uso de fluxos de conhecimentos internos e externos para acelerar a inovação interna e expandir os mercados para o uso externo de inovação, respectivamente”.
O mundo conectado que vivemos traz mudanças de paradigmas até para as grandes corporações. Unir forças, trabalhar em conjunto, trocar ideias, experiências e experimentos faz as empresas se beneficiarem de várias formas, inclusive com a redução de custos e riscos. Olhar apenas para dentro da companhia, sem se conectar com os demais atores do mercado, pode custar caro. A organização pode perder tempo de lançamentos e alavancagem de negócios.
Henry Chesbrough elenca as maiores vantagens de trabalhar conectado: redução de tempo entre desenvolvimento e comercialização, novos mercados, diminuição de custos em diversas etapas, maior chance de aprovação do público-alvo e ampliação da base do conhecimento.
Com o acesso às informações em escala global, em velocidade nunca vista antes, o consumidor anseia por novas maneiras de consumo, novos produtos e serviços, rapidez na entrega, facilidade e simplicidade na compra. A sociedade está o tempo todo conectada e tem expectativas cada vez maiores quando escolhe uma empresa para adquirir itens ou soluções.
Ou seja, a inovação aberta está totalmente ligada ao futuro da economia. Para as organizações atenderem às necessidades de seus consumidores e andarem no ritmo da transformação digital, é preciso adotar formas de inovar sempre.
Por que apostar em Inovação aberta?
O negócio que opta por não adotar o modelo de inovação aberta precisa lembrar que os investimentos em P&D podem ser altíssimos, e as ideias, as pesquisas e os desenvolvimentos necessários para colocar um produto no mercado são gerados dentro da própria organização. Assim, o limite de criação pode acontecer devido ao número de pessoas envolvidas.
Fazer inovação fechada demanda muitos indivíduos qualificados, o que é custoso para a empresa e escasso no mercado. Por isso, centros de inovação fomentados por companhia de forma colaborativa estão cada vez mais crescentes. O ambiente inovador está se tornando cada vez mais importante para a sobrevivência da organização e a qualidade e quantidade de know-how externo está em constante crescimento.
É claro que não estamos falando em entregar o core da empresa, ou sua fórmula do sucesso para o concorrente. A troca típica que a inovação aberta prega não significa acesso livre ao conhecimento e à tecnologia de uma empresa, o termo se refere apenas a redes colaborativas. O conceito parte do princípio de que pode aproveitar o melhor que existe, enquanto a inovação fechada se dá apenas com recursos do próprio empreendimento.
De acordo com a consultoria americana IDC, o investimento mundial em tecnologia será de US$ 2,3 trilhões em 2023. As companhias estão se movimentando para criar laços com universidades, centros de inovação, empresas que possuem metodologia para inovação aberta, entre outros. Essa mobilização é essencial para se manterem competitivas.
As universidades e instituições de ensino estão antenadas nesse movimento e muitas já incentivam seus alunos ao empreendedorismo e ao desenvolvimento de novas ferramentas que auxiliem o mercado global tanto na redução de riscos e custos quanto no aumento de eficiência e expansão.
As incubadoras que são criadas pela iniciativa pública, com ajuda do mercado privado, nascem com o propósito de trazer inovação para os processos mais repetitivos dentro das empresas, para melhorar a rotina dos colaboradores, promover mais eficiência em sua jornada de trabalho, produzir mais ideias e desenvolver seus conhecimentos. As startups nasceram com este propósito: tornar o fenômeno da transformação digital mais simples e barato.
Quando adotamos políticas de inovação aberta, também podemos citar a oportunidade de criação de mercados. O processo tradicional não costuma gerar valor agregado ao produto, isto é, não envolve novidades que façam o consumidor perceber as mudanças. A inovação é apenas incremental.
Mas quando a empresa consegue integrar outros parceiros externos, pode trazer novas funcionalidades e abrir novos mercados, fomentando a inovação disruptiva. Por meio da inovação aberta, é possível aproveitar várias fontes externas e internas de ideias e conhecimentos para levar o gerenciamento a um novo nível.
Inovação aberta e cases de sucesso
Há diversos cases de sucesso de companhias que adotaram o conceito para o crescimento. Em 1991, o sistema operacional Linux foi desenvolvido de forma colaborativa, tanto por indivíduos interessados em performance, estabilidade e segurança quanto por empresas como Intel, Amazon, Google e Canonical. Hoje, o Linux é o coração de plataformas como o Android e se consolida líder nos mercados de computação na nuvem e IoT. Está ainda presente em cerca de 70% da base de servidores no mundo. A empresa foi adquirida pela IBM pelo valor de US$ 34 bilhões e é um importante player desse segmento.
Outro case de sucesso é a Cisco, que em competição com a Lucent optou pelo modelo aberto de inovação. Enquanto a Lucent gastava fortunas com suas pesquisas, a Cisco escolheu a forma colaborativa. O viés da empresa era fazer aquisições, buscar parcerias, realizar licenciamentos ou mesmo investimentos em startups. Dessa forma, criou um dos mais relevantes departamentos de P&D do mundo, mesmo com boa parte da pesquisa sendo desenvolvida externamente.
O Brasil também está aderindo com força à onda da inovação aberta. De acordo com a Forbes, o país conta com 1,6 mil empresas e acumula 2.018 startups que fizeram inovação aberta no último ano, realizando 12.436 negócios. A revista aponta ainda que as startups que se relacionam com grandes empresas captam 85% mais investimentos do que aquelas sem nenhum tipo de relação.
A publicação se baseia em uma pesquisa da 100 Open Startups, empresa que conecta startups com grandes companhias. A organização lançou um ranking que avalia o engajamento das corporações brasileiras com o ecossistema de inovação do país. Um dos cases de sucesso é a Natura. A iniciativa Natura Startups, por exemplo, criada em 2016, já recebeu propostas de 5 mil empresas nascentes e fechou parcerias com cerca de 40.
Se sua companhia ainda não começou a fazer inovação aberta, sugiro buscar no mercado as metodologias existentes que possam ajudá-la para que o processo seja mais eficiente e menos custoso. Aqui, no Brasil, temos alguns bons parceiros para as empresas, como a FCJ Venture Builder, que trabalha com a metodologia de corporate venture builder; a Ventiur, que ajuda as organizações com a metodologia do corporate venture capital; e a Distrito, que possui um hub de conexão entre as empresas e startups.
Ainda sugiro pensar em inovação aberta sempre como um ganha-ganha, em que a companhia pode se tornar sócia estratégica da startup, conquistando vantagens competitivas em curto prazo e retorno financeiro em longo prazo; e as startups podem escalar seus produtos com a parceria e aproveitar o ecossistema para crescer.
Porém, nem todas as empresas que ajudam as organizações com inovação aberta geram esse apoio sólido. Então, procure metodologias e organizações estratégicas que realmente envolvam vantagens.
Ana Debiazi é CEO da Leonora Ventures, corporate venture builder com DNA inovador e com proposta de trazer soluções para os setores de educação, logística e varejo e promover a aproximação entre organizações já consolidadas e startups.
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