Segundo dados da Associação Brasileira de Startups, cerca de 70% do território nacional já conta com startups voltadas para o mercado agrícola – as Agtechs. Deste número, mais de 40% delas são responsáveis pela implementação do sistema IoT (Internet das Coisas), com o desenvolvimento de drones, sensores e softwares para as lavouras.
Apesar dos números animadores, a inovação ainda está em fase embrionária no Centro-Oeste brasileiro, sendo que 92% das startups voltadas à agricultura ainda não receberam nenhum tipo de investimento para alavancar seus negócios.
Pensando em uma solução para ajudar esses empreendedores, nasceu o Orchestra Innovation Center, um centro de inovação acelerador do crescimento de startups em escala, que dá acesso à transformação digital no agronegócio.
Com programas de aceleração para startups em fase de scale, como o Startup Connection, e realização de eventos em parceria com agricultores, indústrias e stakeholders do setor, a iniciativa pretende também investir R$ 1 milhão em startups.
Um case da iniciativa é a startup C6Bio, de Curitiba, que participou da primeira edição Startup Connection. Foram 3 meses de conexões estratégicas, consultorias, eventos de inovação e execução de estratégias comerciais, os colocando em contato com os maiores produtores rurais da região. Como resultado, ela gerou mais de R$ 1,5 milhão em contratos comerciais.
“A ideia de criar o Orchestra surgiu enquanto estudava tecnologia e inovação na Universidade de Stanford, no Vale do Silício. Foi lá que entendi como é o ecossistema inovador, quem são os players e fui apresentada às tecnologias desenvolvidas no principal centro de inovação do mundo. A partir disso, nasceu a ideia de transformar regiões como a minha, que são polos do agronegócio, mas não desenvolvem tecnologia e têm pouco acesso à variedade de tecnologias que estão disponíveis no mundo”, destaca Nathália Secco, CEO do Orchestra.
O centro está localizado estrategicamente em Rio Verde (GO), o segundo maior PIB agropecuário do País e zona de influência que abrange mais de 30 municípios. A iniciativa é pioneira na região, que hoje é um dos principais polos do agronegócio no Brasil.
O município também conta com o Instituto Federal Goiano e o Embrapii, responsáveis pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e inovação para o agronegócio, dando suporte para indústrias e empresas da região e do Brasil inovarem na produção agrícola. Além disso, também está em andamento a construção do parque tecnológico do IF Goiano para receber e desenvolver tecnologias junto à startups em fases de pesquisa, desenvolvimento de MVP e adaptação para o mercado regional.
Mudanças do setor
Segundo Nathália, alguns negócios mudaram completamente nos últimos anos. Um bom exemplo são as revendas agrícolas, que deixaram de ser um negócio atrativo como era no passado, com os custos aumentando e as margens de lucro caindo. Com isso, empresas que não inovaram em seu modelo de negócios e portfólio de serviços e produtos, acabaram entrando em recuperação judicial e fechando.
Diante desse cenário no setor, as empresas que quisessem continuar prosperando no mercado tiveram que buscar com muita rapidez soluções inovadoras e tecnológicas, a fim de trazer mais eficiência e otimização de custos.
A otimização de recursos naturais e insumos para o agronegócio, além de um manejo muito mais eficaz com análises de indicadores que a tecnologia permite, a digitalização do campo vem trazendo resultados expressivos, como uma maior preservação do meio ambiente e o aumento de lucratividade. Por isso, a busca por inovação tem sido uma constante, demonstrando que a tecnologia têm se tornando indispensável na indústria do agronegócio.
Como a agricultura é uma necessidade primária na vida da população, o setor tem sido um dos menos impactados durante a pandemia, já que não parou por ser essencial para a sociedade. Contudo, é possível perceber uma mudança de comportamento das empresas e de agricultores que passaram a buscar mais soluções digitais para o dia a dia das operações.
“Não acreditamos em modelos tradicionais de inovação no agronegócio, que no final das contas não agregam valor para o produtor rural ou para quem está na ponta. Nossa atuação é a longo prazo e na economia do futuro, ou seja, uma forma mais sustentável e eficiente de inovação. Queremos fazer toda a roda do ecossistema agro girar com resultados concretos e mais engajamento de todos os stakeholders. Entregamos eficiência, transparência e sustentabilidade para esse setor, impactando a forma de fazer negócios e transformando a produção de alimento à nível mundial”, destaca.
Sua expectativa é atingir aproximadamente 250 mil hectares no sudoeste goiano com técnicas que proporcionam redução de custos e otimização de recursos no curto prazo, como tecnologias para o manejo de ervas daninhas por aplicação em taxa variável de herbicida. Para o segundo semestre, é projetado cerca de R$ 2,5 milhões em negócios.