* Por Guilherme Cavalcante
O ano de 2022 chegou e, com ele, uma reflexão sobre os principais desafios da nova mobilidade elétrica brasileira. Já podemos apontar que o principal deles continua sendo o investimento em infraestrutura para a popularização de uma frota eletrificada. O lado positivo é que já existem opções de carregamento de veículos em casa e em alguns pontos semipúblicos como shoppings e supermercados, facilitando o acesso. No entanto, proprietários de EV’s ainda encontram dificuldades para encontrar um local para recarga fora de grandes centros urbanos, isso porque, mesmo que algumas cidades do País já tenham projetos de recarga de veículos elétricos em curso, muitas outras ainda engatinham nesse quesito. É preciso ter em mente que o crescimento desse setor está diretamente ligado ao aumento do investimento em locais de recarga.
Outro ponto que interfere na eletrificação da frota no Brasil, é a valorização do setor de biocombustíveis. É verdade que etanol e biodiesel, de certa forma, emitem uma menor taxa de gases do efeito estufa, porém nada comparado a entrega de benefícios de veículos elétricos. No entanto, o setor da combustão ainda é muito forte, e a falta de DNA associativo pode afetar a difusão rápida dos veículos elétricos e híbridos ou novas alternativas de mobilidade 100% elétricas.
Vale lembrar que o Brasil anunciou durante a realização da COP26, Conferência do Clima das Nações Unidas, em Glasgow, Escócia, que até 2030 irá reduzir em 50% as emissões de gases poluentes. E apostar na eletrificação da frota ainda é o um dos melhores caminhos para isso, já que, o setor de mobilidade urbana é responsável por 25% das emissões globais de gases de efeito estufa, sendo 45% causadas por veículos leves. As parcerias entre startups e indústria se fazem necessárias no ecossistema de mobilidade em 2022 para que essa meta vire realidade.
E por isso que a New Mobility, ou a nova mobilidade brasileira, vem crescendo exponencialmente em diferentes setores da economia, principalmente o automotivo e é, de fato, que irá ajudar a popularizar a frota elétrica no país. E isso já está acontecendo, pois o Brasil vem dando respostas positivas. De janeiro a novembro de 2021, foram vendidos 30.445 veículos eletrificados no país, o que representa um aumento de 57% em relação ao mesmo período de 2020. Em 2013, quando esse mercado começava por aqui, a venda de carros elétricos fechou o ano com 0,013% do total de automóveis comercializados.
Hoje, o percentual saltou para 2,462%, com dados até novembro/21. A expectativa é de que o crescimento venha a se multiplicar ano após ano e os preços fiquem mais acessíveis. Só agora em 2022 já temos mais de 17 novos modelos de veículos 100% elétricos anunciados pelas principais montadoras, semelhante ao que ocorre na Europa, onde, em média, são lançados 20 modelos anualmente e a venda de carros eletrificados representa 25% do total.
Os avanços tecnológicos e regulatórios também são importantes conquistas. Na cidade de São Paulo, a lei 17.336, em vigor desde março de 2021, obriga os novos empreendimentos imobiliários, comerciais e residenciais a serem entregues com pontos de recarga e energia limpa para veículos elétricos e híbridos. Isso possibilita a expansão de serviços de carsharing e assinatura de veículos elétricos em condomínios comerciais e residenciais.
Outros pontos positivos da transição energética para a descarbonização da economia são a adesão de vários estados à isenção do Imposto de Importação (que era de 35%) e a redução do IPI de carros 100% elétricos de 25% para até 7%. Temos de levar em consideração, ainda, o crescimento do uso de motos, bicicletas e patinetes elétricos, pois mostra um bom exemplo de transição de frota.
Por isso é bom reforçar: “Estamos no jogo!” e não podemos tirar os olhos das barreiras e obstáculos para a popularização e transição da frota atual para a elétrica. Para colocar o Brasil na rota da eletrificação se faz necessária a aposta e o investimento massivo em infraestrutura, pois essa será a nova realidade global da mobilidade dos grandes centros urbanos rumo às metas de redução das emissões de CO2.
* Foto de destaque/ Créditos: Photograph of MIT technology review.
Guilherme Cavalcante é CEO e fundador do app UCorp. O executivo tornou-se especialista em desenvolver modelos de negócios e produtos digitais com foco em mobilidade. É formado em formado em Tecnologia e Mídias Digitais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), e possui pós-graduado em Design de Projetos Especiais pela BAU-Barcelona e Inteligência de mercado pela Universidade de São Paulo (USP).