* Por Lucia Torres
O relatório Education at Glance 2019, divulgado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), nos mostra um dado interessante: 18% dos homens brasileiros de 25 a 34 anos têm ensino superior; essa porcentagem sobe para 25% entre as mulheres da mesma faixa etária. Porém, ao analisar o mercado de trabalho, a conclusão é que mesmo sendo maioria nas universidades brasileiras, as mulheres têm mais dificuldade em encontrar emprego.
A empregabilidade das mulheres brasileiras de 25 a 34 anos com ensino superior é de 82% e cai para 63% entre mulheres com ensino técnico e para 45% entre mulheres sem essa capacitação. Entre homens brasileiros, esses índices são todos mais altos: a taxa de empregabilidade dos que têm ensino superior é de 89%; de 76% dos que têm ensino técnico e 76% dos que não tem nenhuma formação superior. Contraditório!
Outro dado significativo foi divulgado na Pesquisa Seade, de março de 2020, que revela que 39% das famílias da região metropolitana de São Paulo são chefiadas por mulheres. Entretanto, a renda média das famílias chefiadas por mulheres corresponde a R$2.646, um rendimento cerca de 30% inferior ao das famílias chefiadas por homens.
Penso que as diferenças entre homens e mulheres devem e precisam ser vistas como complementaridades, pois vão além da questão de gênero; envolvem questões de idade e raciais; ou seja, todo nosso arcabouço de experiências, que refletem a variedade da vida humana.
Homens e mulheres pensam e agem de forma diferente e é este o grande desafio e grande oportunidade dos líderes de hoje, usar estas diferenças, que são, na verdade, complementaridades, para que haja um ambiente mais rico; da mesma maneira que colaboradores com mais de 40 anos podem e devem conviver com os jovens da geração millenium sem precisarem provar a todo momento que ainda são capazes.
Como gestora, acredito que ainda há muito para se chegar a patamares de reconhecimento por competência, independentemente de gênero. Participei e participo até hoje de reuniões no Brasil ou fora dele, em que mais de 90% dos integrantes são senhores bem-sucedidos.
Existe a necessidade de reconhecer o positivo que há nas complementaridades. São as diferenças entre homens e mulheres, diferentes faixas etárias com pensamentos diferentes, sentimentos diferentes e ações diferentes que contribuem para o enriquecimento da vida em diversos setores, como numa empresa, nas instituições públicas e na sociedade.
Mulheres precisam fazer sempre um algo a mais para serem consideradas; profissionais acima dos 40 anos precisam provar a todo tempo que ainda podem. O mérito está nas competências e é por elas que cada colaborador deve ser avaliado.
Se vamos para locais mais periféricos, essa complementaridade fica ainda mais distante e o que vemos é a diferença e a discriminação. Se a mulher for mãe, multiplicamos em muito este desafio, pois muitas empresas ainda veem a idade da mulher, o fato de ser jovem ou recém-casada, como um ponto de atenção nas entrevistas.
É importante estarmos atentos à esta questão e levarmos estes pontos de análise para dentro das Universidades e Organizações. É preciso falar, abertamente, sobre este tema e é preciso que todos sejam conscientizados dos grandes benefícios para todas as esferas, inclusive a Corporativa, da complementaridade do trabalho de homens e mulheres, diferentes gerações e modelos de pensamento diferentes. É a pluralidade que traz a complementaridade e torna todas as experiências e atividades ainda mais ricas.
* Lucia Torres é gestora de carreira, com mais de 20 anos de atuação em gerência e reorganização de departamentos e áreas comerciais e de marketing, sendo os últimos, como gerente Comercial e de Marketing para a América Latina em empresa multinacional japonesa. Hoje, atua com Gestão de Carreira e ajuda profissionais e empresas a se reorganizarem, neste momento de mudanças exponenciais do mercado de trabalho. Já capacitou mais de 700 executivos, entre diretores e gerentes de diversos segmentos de mercado. Ministra cursos e palestras presenciais e online, na USP, FAAP, Universidades São Judas, escola Conquer e Udemy, entre outras. Embaixadora Gowork.