Você já ouviu falar em halving? Se está por dentro do mundo dos bitcoins, a famosa moeda virtual, certamente já deve ter visto alguma coisa sobre o assunto, pois este tema voltou a ser pauta no mundo dos negócios no início desta semana, mas já estava sendo debatido há cerca de um ano.
Em português, halving significa “reduzir pela metade”. Ou seja, a cada quatro anos, em média, a oferta de criptomoedas cai pela metade, porém, sem afetar a quantidade de quem já as possui.
Mas antes de entrar no assunto propriamente dito, é preciso relembrar como funciona o bitcoin. Criado em 2009 por Satoshi Nakamoto, inicialmente, a moeda foi disponibilizada em uma quantidade finita, de 21 milhões. Atualmente, temos 18 milhões e 375 mil em circulação. Porém, essa quantidade não estava disponível imediatamente e precisava ser “descoberta”.
O modelo de recompensa em bitcoins é baseado em POW (proof-of-work, ou prova de trabalho, em português), onde os interessados em conseguir a moeda doam poder computacional para garantir a segurança da rede como um todo e recebem a recompensa em bitcoin. Para isso, precisa resolver cálculos matemáticos para encontrar blocos e então, receber suas criptomoedas. Os primeiros usuários (chamados de “early adopters”) são premiados e esse prêmio, entretanto, vai diminuindo com o tempo.
“Assim o sistema calcula de acordo com o poder computacional disponível e vai ajustando a dificuldade do algoritmo para que, em média, a cada 10 minutos, “ache” um bloco com uma recompensa que inicialmente era de 50 bitcoins. Pelo fato do bitcoin ser finito, a cada 210 mil blocos a oferta dentro desses blocos caem pela metade”, explica João Canhada, CEO da Foxbit, corretora de bitcoin brasileira.
O halving foi pensado como uma forma de garantir esse prêmio aos “early adopters”, determinando o corte, pela metade, do valor de recompensa a cada 210 mil blocos emitidos, o que leva, em média, 4 anos.
O primeiro halving ocorreu em novembro de 2012 e a oferta, que era de 50 bitcoins a cada 10 minutos, caiu para 25. No segundo, em julho de 2016, foi para 12,5, que é o valor atual. No halving de 2020, que ocorreu nesta segunda (11), caiu para 6,25 bitcoins a cada bloco. “Com isso, temos uma inflação conhecida, atual de 3,67% caindo para 1,8% pós halving. Em números absolutos de bitcoins, hoje eram “minerados” 1800 e agora em 2020, serão “minerados” cerca de 900 bitcoins por dia após o halving”.
O que é mineração?
O termo mineração é um processo em que os computadores são usados para gerar novos bitcoins. Para isso, essas máquinas precisam ter uma alta capacidade de processamento. “Diante da dificuldade de minerar bitcoin, atualmente não é mais possível fazê-lo com seu computador caseiro. Os mineradores compram máquinas que foram feitas especialmente para minerar, como as ASICS”.
O papel delas é encontrar uma sequência que torne um bloco de transações de bitcoin compatível com o bloco anterior. Para isso, o computador precisa efetuar milhares de cálculos por segundo para encontrar a combinação perfeita e por isso, precisam ser extremamente potentes.
Ao encontrar a sequência compatível, o minerador recebe uma recompensa em bitcoin para cada bloco que ele minerar. Essa recompensa foi criada com a intenção de pagar as pessoas que emprestam poder computacional para manter a rede do bitcoin funcionando de forma segura. “Dada essa situação, não significa que não se pode fazer em casa, mas definitivamente não é mais lucrativo fazer isso. Hoje temos “fazendas” de mineração de bitcoin enormes, grandes galpões com milhares dessas máquinas com investimento inicial mínimo na casa de milhares de dólares”, explica João.
Para quem já possui bitcoins comprados, pode perder?
Segundo João, o halving não afeta carteiras ou custódias, mas apenas a recompensa futura dos blocos aos mineradores. “O grande efeito em quem já tem bitcoin e que o torna mais escasso está relacionado à diminuição da quantidade disponível para esses mineradores, que diariamente era 1800 bitcoins/dia e passou para cerca de 900 bitcoins/dia. Provavelmente, isso pode resultar em uma maior valorização do ativo no futuro, pois diminui a força vendedora dos mineradores na formação de preço do ativo, ao mesmo tempo que a maior popularização do bitcoin atrai novos compradores e aumenta a demanda”, ressalta.
Assim, para garantir que todas as informações sobre transações sejam devidamente registradas, em segurança, é usada uma tecnologia chamada de blockchain. “Nada mais é do que um livro de razão pública (ou livro contábil) que faz o registro de informações como: a quantia de bitcoins (ou outras moedas) transacionadas, qual carteira enviou, qual recebeu, quando essa transação foi feita e em qual lugar na história do livro ela está registrada de forma pública e auditável. Isso mostra que a transparência é um dos principais atributos da blockchain”.
Pandemia do novo coronavírus e alta do dólar: como isso pode impactar o mercado de bitcoins?
João afirma que os efeitos do novo coronavírus para a economia foram sentidos no mundo inteiro, mas que o bitcoin não parou suas atividades. “A pandemia afetou o mercado financeiro como um todo. Assim como todos os outros ativos, houve uma queda no bitcoin, mas já foi possível recuperar 13 de março, além de acumular lucro. Portanto, o bitcoin continua firme como um ótimo ativo para se manter em carteira dado sua recuperação rápida em 2020 e todo seu potencial futuro”. A data citada pelo CEO se refere ao dia em que o bitcoin chegou a perder 50% do seu valor, resultado do pânico causado pela covid-19.
Já em relação ao dólar, Canhada espera que, com a alta da moeda americana no Brasil, o preço do bitcoin supere o preço de três anos atrás, quando alcançou sua maior cotação. “Historicamente, o halving alcançou seu valor mais alto um ano após a data em que ele ocorreu. Em 2012, houve o primeiro halving e o preço recorde foi batido no ano seguinte. O mesmo ocorreu no halving de 2016, alcançando sua maior cotação em 2017. Levando isso em conta, estávamos otimistas com o preço em dólar, esperando um novo recorde de valor em 2021. Mas dado os patamares atuais da moeda americana no Brasil, é provável que o bitcoin supere o preço histórico de 2017 muito mais rápido em nosso país do que no restante do mundo”, acredita.
Ele destaca a importância de se investir na moeda virtual, sobretudo neste momento econômico em específico. “Se você acredita que o mundo vai continuar caótico e o governo vai continuar interferindo na economia, com decisões políticas que você discorda, impactando todos seus investimentos e sua vida pessoal e profissional, você deveria considerar em ter um ou mais ativos livre dessa interferência arbitrária de políticos na sua carteira de investimento em no mínimo 1%. Compre bitcoin!”, finaliza.