O Brasil possui hoje cerca de 12.700 startups, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Esse número é 20 vezes maior do que em 2011, ano de fundação da entidade, que contabilizou 600 negócios. Apesar do constante surgimento de empresas baseadas em tecnologia, criar uma startup não é tarefa fácil: é preciso resolver um problema de maneira inovadora e ter o foco no cliente.
Com o objetivo de auxiliar quem gostaria de empreender em tecnologia, mas não sabe por onde começar ou o que priorizar, a investidora Lícia Souza, CEO da WE Impact, venture builder que investe e desenvolve startups lideradas por mulheres, separou algumas dicas. Confira:
1) A ideia e o problema
Startups procuram resolver dores de pessoas ou de empresas, e um dos principais motivos para a morte prematura dessas empresas é, justamente, o negócio não resolver um problema real: segundo a CB Insights, 42% das startups fecha as portas por falta de necessidade do mercado. “É comum que empreendedoras e empreendedores tenham uma ideia e acabem se apaixonando por ela, mas esse não é o caminho para criar uma startup de sucesso. É preciso se apaixonar pelo objetivo de solucionar um determinado problema, e não por uma solução específica”, aconselha a executiva.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas (ONU), podem auxiliar na identificação de problemas reais a serem resolvidos: eles reúnem 17 objetivos interconectados que buscam superar os principais desafios de desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo.
2) A pesquisa de mercado
Segundo a investidora, uma pergunta importante a ser feita é “o que eu sei sobre o mercado em que gostaria de atuar?”. Sem entender o mercado de atuação, será muito difícil elaborar hipóteses sobre ele e prosseguir com a criação do negócio. “É preciso saber quais são as tendências da área, quem são as principais empresas atuando no segmento, quem é a referência no setor e o que as soluções disponíveis ainda não resolvem. Também pode ser interessante analisar os pontos fortes e fracos do setor em que se almeja atuar e os nichos explorados”, diz.
3) A validação do problema
“Depois de ter desenvolvido a ideia do negócio, é preciso validar o problema. Isso pode ser feito por meio de uma entrevista com clientes em potencial, ou seja, pessoas com o perfil que a startup deseja atender. O objetivo desta etapa é conhecer o público-alvo do negócio e entender as principais dores geradas pelo problema em questão, a fim de conseguir desenvolver uma solução ancorada em dados reais, sem depender de achismos”, revela Lícia.
4) A geração de hipóteses
Na etapa de geração de hipóteses, é preciso responder a algumas perguntas sobre o produto ou serviço que está sendo desenvolvido: quem é o cliente, qual a melhor prova de valor, quem são os parceiros, quais são os canais de venda, quando vai custar, quando haverá lucro etc. “Isso pode ser feito por meio da aplicação do Business Model Canvas, uma ferramenta de planejamento de modelo de negócios que facilita a visualização das conexões entre o que está sendo proposto pelo negócio e as partes envolvidas”, orienta a investidora.
5) MVP
A criação do MVP, “Minimum Viable Product” ou produto mínimo viável, é essencial para que, antes de investir tempo e dinheiro na criação de algo, a startup possa validar a solução. Ele consiste em uma versão simples do produto lançada com uma quantidade mínima de esforço e desenvolvimento. É uma maneira de prevenir gastos precipitados, coletar feedbacks do público alvo e verificar a aceitação do produto ou serviço antes da versão oficial.
Por exemplo, o Facebook, hoje uma das redes sociais mais utilizadas no mundo, surgiu em 2004 sob o nome de Thefacebook. O MVP da rede social era um modelo básico do produto, com funcionalidades mínimas. Os testes foram feitos com um pequeno grupo de usuários iniciais e, a partir disso, o produto se expandiu em 2006, para além do uso nas universidades de Stanford, Columbia e Yale.
“Nessa fase, é essencial deixar o mercado falar para entender se o produto realmente propõe uma solução efetiva. Essa troca permite encontrar o melhor preço e perceber alguma eventual mudança de demanda no mercado”, comenta Lícia.
6) A captação de recursos e os parceiros certos
Nas fases iniciais da startup, é comum que o empreendedor tenha que investir do próprio bolso. Já depois do produto validado e em circulação, mesmo que em uma versão mais enxuta, suas lideranças podem começar a avaliar o melhor momento para captar recursos externos e, se for o caso, entender qual tipo de investimento faria mais sentido para fazer o negócio crescer. “Os principais tipos de investimento para startups em fases iniciais são o investimento-anjo, geralmente uma pessoa física que acredita no potencial e está disposta a arriscar, e empresas ou fundos de investimento de seed capital, como é o caso da WE Impact”, finaliza Lícia.