Atualmente existem diversas startups que resolvem problemas específicos por meio da aplicação de tecnologias e soluções inovadoras para determinado segmento, como as fintechs (setor financeiro), edtechs (educação) e healthtechs (saúde). Já as govtechs fazem parte do ecossistema que envolve o Poder Público e as compras públicas de inovação, como pilares estruturais do sistema, elas utilizam tecnologia e inovação para melhorar serviços e processos públicos, solucionando problemas sociais e gerando impacto positivo na sociedade.
Segundo um estudo divulgado pelo BrazilLAB – hub de inovação que acelera soluções e conecta empreendedores com o Poder Público -, em 2019, o número de startups que atuavam no cenário nacional federal eram 80. Agora, de acordo com Diogo Catão, CEO da Dome Ventures (corporate venture builder de govtechs, que tem como objetivo contribuir com o avanço digital do setor público), desde 2021, esse número vem aumentando.
“Somente no nosso processo seletivo já conversamos com mais de 150 govtechs, cada vez mais novas startups surgem com soluções inovadoras para o setor público, que tem diversos desafios que precisam ser superados, como desigualdade econômica e social e complexidade na comunicação”, comenta.
O que diferencia uma govtech de outras startups?
“No caso das govtechs, o cliente é o governo, que tem como objetivo final implementar as políticas públicas e prestar serviços públicos ao cidadão, o grande beneficiário da sua atuação. Assim, as soluções ofertadas pelas govtechs têm como objetivo gerar impacto positivo para toda a sociedade”, diz Letícia Piccolotto, fundadora do BrazilLAB. Ela também ressalta que o foco dessas startups é melhorar a vida do maior número possível de pessoas, com contrapartidas que viabilizem o negócio e atraiam investidores privados.
Por mais que as govtechs possuam autonomia e atuem de forma independente, o Brasil possui uma estrutura legal e institucional que formaliza a atuação dessas organizações junto ao governo, desde o processo de compras públicas até o monitoramento e avaliação dos resultados obtidos pelas soluções implementadas. Porém, a ação entre ambas as partes deve ser a mais clara possível, para que juntos ambos os setores (público e privado) consigam vencer os desafios que estão sendo enfrentados por meio da parceria.
Empresas que investem em Govtechs
O BrazilLAB é o primeiro hub de inovação privado e sem fins lucrativos dedicado a acelerar startups que desejem trabalhar com o setor público. Inspirado em referências internacionais, tais como o MIT Solve e o Mayors Challenge, o programa de aceleração do BrazilLAB seleciona govtechs do Brasil e do mundo que tenham soluções inovadoras, tecnológicas e que possam ser implementadas nos mais diversos contextos da gestão pública, para os mais diferentes problemas.
“Nosso objetivo é conectar as startups e o setor público com a crença de que essa sinergia pode potencializar a atuação desses atores. Temos, portanto, 2 públicos-alvo: empreendedores das startups e gestores públicos no governo”, comenta a CEO.
“Considerando o setor público, atuamos prioritariamente com os municípios. É nesse espaço que ‘a vida acontece’: as pessoas utilizam os serviços das Unidades Básicas de Saúde (UBS), as crianças e adolescentes vão à escola, são realizadas ações para coleta do lixo, para a gestão do trânsito e para o tratamento de água e esgoto”, complementa
Para atingir ao objetivo de promover a agenda de transformação digital a partir da conexão entre startups e setor público, as estratégias do BrazilLAB incluem a promoção de boas práticas, iniciativas de advocacy, a qualificação do debate público na agenda de transformação digital, a certificação de startups, através do Selo GovTech, e a realização de eventos com especialistas.
Já a Dome Ventures é uma Corporate Venture Builder Govtech. Fundada em setembro de 2021, contribui com o avanço digital do setor público, selecionando e desenvolvendo de forma contínua, inovações aplicadas e startups que possuam soluções para impactar positivamente a sociedade e a vida de toda a população.
“Auxiliamos nos processos administrativos, mentorias de quem é referência no setor, visibilidade no ecossistema e apoio na captação de recursos de investimentos, se for necessário então temos diversas parcerias com plataforma de crowdfunding e de redes de investidores, anjo venture capital, auxiliando no crescimento desenvolvimento da startup”, comenta o CEO da Dome Ventures.
Desafios enfrentados pelas govtechs
“Um dos desafios está relacionado ao baixo conhecimento dos servidores públicos sobre o mercado de tecnologia, como melhor solução para atender sua demanda específica, ou como mensurar os resultados obtidos. De forma semelhante, o ecossistema das govtechs também precisa avançar em seu conhecimento sobre o contexto do setor público, suas demandas, particularidades e desafios”, comenta Letícia.
Já para Diogo Catão, os desafios enfrentados pelas startups que atuam nesse mercado é o excesso de burocracia e formalidade em diversas organizações. “Essas barreiras acabam afastando empreendedores, com mentes brilhantes que preferem atender a iniciativa privada ao invés da pública”, relata.
O que é necessário para criar uma govtech?
“Sempre vão surgir novas tecnologias e novos problemas e também novos desafios. Então cabe ao empreendedor govtech identificar quais são as dores do poder público que precisam ser sanadas, assim, novas ferramentas e soluções podem ser desenvolvidas para resolver esses problemas e assim impactar a sociedade, possivelmente. Então, a dica é essa: entenda quais são os canais de acesso ao seu mercado governamental, qual o seu modelo de receita, de precificação e mapear os períodos adequados para cada uma dessas soluções. De uma forma geral, essas são as principais dicas para o desenvolvimento de startups govtechs, que querem desenvolver soluções para o governo”, aconselha Catão.
Eleições 2022 e expectativas para 2023
As eleições para eleger Presidente, Governadores e os seus respectivos vices, além de Senadores, Deputados Estaduais e Federais no Brasil, irão acontecer no próximo dia 2 de outubro, e durante este período as govtechs tem atuado de maneira estratégica ao lado de órgãos públicos e Big Techs no combate à desinformação e fake news.
Por exemplo, a Robbu, startup focada em soluções de atendimento digital omnichannel, junto com o Supremo Tribunal Federal (STF) e WhatsApp firmaram uma parceria para implementar atendimento digital por um canal oficial de mensagem via chatbot no WhatsApp.
Já a Fasius, startup da área de inteligência artificial, criou uma plataforma exclusiva para o STF chamada “TORS” (Tecnologia de Otimização de Redes Sociais), a fim de capturar publicações de interesse da Corte através de palavras-chave nas redes sociais, inicialmente no Twitter. “De maneira geral, podemos dizer que as startups estão atuando como grandes aliadas para ampliar o acesso à informação de qualidade, contribuindo para a transparência do processo”, ressalta a CEO da BrazilLAB.
“Desde que fundamos o BrazilLAB, em 2016, a ascensão das startups que desejam atuar com governos se consolidou como um fenômeno constante e, em 2022, o ecossistema GovTech está muito mais maduro e vem crescendo exponencialmente”, comenta a CEO.
Letícia acredita que em 2023 haverá uma atuação ainda mais relevante dessas empresas na construção de soluções greentech, já que temos menos de uma década para resolver a crise climática que assola o planeta. “Estou convencida de que esse desafio coletivo jamais será vencido sem o uso intensivo de tecnologias disruptivas e de alto impacto”, finaliza.