* Por Elber Mazaro
Continuando a desenvolver o tema de equilíbrio entre carreira profissional e vida pessoal, vamos refletir um pouco sobre o que muitos chamam de o ativo mais valioso de uma pessoa, o seu tempo.
Lembrando da posição do nosso primeiro artigo dessa série, onde foi destacada a nossa vida como única (pessoal, profissional… tudo junto e misturado) e integrada. O tempo é apontado, como o nosso principal ativo, porque ele não pode ser comprado ou recuperado e, pelo menos por enquanto, ele é finito, mesmo com as pessoas vivendo cada vez mais (na média).
Quando as pessoas se arrependem, em situações terminais, é comum, que o tema seja uma frustração de como o tempo foi alocado até ali. Ouve-se os desejos de que gostaria de ter passado mais tempo com minha família, ou tal pessoa, ou eu deveria ter passado mais tempo, viajando, “vivendo a vida”, etc. Também há a questão de que deveria ter treinado mais, ou gasto mais tempo naquela atividade ou função profissional, ou até naquela empresa.
O conflito, tão comum, apontado entre a vida pessoal e a carreira profissional, envolve a principalmente, a questão de quanto tempo é dedicado a cada uma destas dimensões da vida. Temos a perspectiva, bem quantitativa, de se buscar “mais tempo” para um ou outro lado, e a isto chamamos de conquistar o equilíbrio.
Vivemos com padrões para a medição de tempo e quando falamos em equilíbrio muitas pessoas pensam em divisão de partes iguais, então considerando o desafio entre vida pessoal e profissional, isto pode significar que seria 50% para cada um, mas na prática, isso não funciona bem assim.
Considerando que as dimensões citadas estão integradas, ou seja, é possível que haja alguma coisa de pessoal no seu trabalho e algo de profissional na sua vida pessoal, pode ser muito difícil uma separação, e portanto, muitos especialistas pregam que não haja separação radical, cronometrada, e sim uma mescla.
Exemplo: você pode estar em um casamento de um membro da família (antes ou após a pandemia), algo que seria parte natural da dimensão da vida pessoal e de repente, em uma conversa animada, surge uma oportunidade profissional, a qual pode ser abordada no momento ou encaminhada para depois, com naturalidade, o que só será possível se ambos os lados da vida estiverem ativos o tempo todo.
Outro exemplo: tenho muitos amigos que são apaixonados por corridas, e participam constantemente de provas e treinamentos em grupos. Segundo o testemunho desses amigos, eles conseguiram muitos contratos profissionais a partir de contatos feitos nas atividades de corrida, onde as pessoas estão mais “abertas” e já demonstram um interesse em comum (a corrida). Isso mais uma vez é uma forma de integração entre as duas dimensões de uma vida só e um bom uso do tempo.
Recentemente, li um depoimento de uma pessoa que se sentia muito feliz e realizada, e como era alguém muito metódico, media o tempo dedicado a cada atividade. No seu ponto de vista, o equilíbrio foi encontrado com aproximadamente 70% de alocação ao que chamava de atividades profissionais, e 30% a questões classificadas como pessoais, descontado o tempo em que dormia, de aproximadamente 6 horas por dia.
Cada pessoa pode encontrar o seu equilíbrio, com proporções diferentes, em momentos distintos ao longo da vida.
Acredito que não existe fórmula ideal/mágica, e sim um sentimento de satisfação, de realização. Acho que no caso citado de 70/30, existe muita coisa pessoal na vida profissional, que pode estar relacionada a uma paixão ou um propósito e assim traga realização mútua. Exemplo: quando se trabalha com a família ou amigos.
Estamos abordando a gestão do tempo para o desafio de equilíbrio entre a dimensão pessoal e profissional da vida, também, porque sua alocação é algo que podemos controlar, pelo menos parcialmente, e assim temos a chance de buscar qualidade e não necessariamente quantidade.
Viver o momento de maneira completa e intensa pode ser uma boa escolha a se considerar. Como quando estiver com a família, você pode deixar o telefone um pouco de lado e aproveitar aquele momento, estando 100% dedicado àqueles que estão com você, com toda sua atenção.
O mesmo vale para o lado profissional, que muitas vezes pede atenção e concentração, ou seja, foco para que uma tarefa seja desenvolvida com qualidade e a noção de produtividade. Lembrando do ALFREDO (outro artigo), onde foco é basicamente, saber dizer não às demandas e distrações concorrentes naquele momento.
Enquanto eu escrevo este artigo, eu tenho muitas questões pessoais pendentes, mas me desligo das redes sociais, fecho meu email, ponho uma música ao fundo e foco em produzir o melhor conteúdo possível, como uma atividade profissional.
Eu também sei que vou precisar fazer uma pausa em breve, para “recarregar a bateria” (a minha, não a do notebook ou do celular), e continuar produtivo, e que mais tarde vou resolver algumas das questões pessoais, portanto o foco me permite alocar um tempo de qualidade para atividades de uma lado e de outro, versus tentar executar todas as atividades em paralelo, ao mesmo tempo, imaginando ser mais produtivo, como um ser multitarefas (apesar de respeitar opiniões diferentes, acho que funcionamos melhor desenvolvendo uma tarefa de cada vez).
Ué! É para integrar ou separar as dimensões pessoais e profissionais da vida?
Ambos, ou seja, é para reconhecer que existirá sempre uma vida só, integrada, mas que a qualidade de tempo alocado virá da separação de uma quantidade deste para as atividades de cada lado, buscando se realizar e viver o momento plenamente e atingir os objetivos e as metas (por exemplo, eu tenho prazo para entrega desse artigo).
É importante entendermos que no final a busca de equilíbrio nos levará a escolhas e trocas. Como o tempo é finito, ou seja, o dia tem mesmo apenas 24 horas, se quiser fazer mais de algo é provável que precise fazer menos em outra dimensão. E tudo bem!
A busca pelo equilíbrio implica, muitas vezes, em abrir mão de um tempo originalmente dedicado para algo, para se ter mais tempo para o que é mais importante naquele momento e se for interessante ou necessário, você pode compensar posteriormente.
Eu gosto muito de um ditado que ouvi em inglês e define bem a sua prioridade na alocação do tempo: first things first! Vem primeiro o que é mais importante, por exemplo o cuidado com a saúde, uma questão importante com a família, ou mesmo o atendimento de uma pessoa, funcionário ou cliente versus uma reunião rotineira de trabalho.
Vale refletir se você sabe as suas prioridades, ou seja, o que vem primeiro e é mais importante, pois aí fica mais fácil fazer as escolhas e tomar as decisões, sem peso na consciência e futuros arrependimentos.
Já tive clientes que se diziam controlados pelo tempo, ou seja, tinham uma rotina com muitas atividades, de ambos os lados, se cobravam com base em parâmetros sociais, e não conseguiam fazer tudo o que desejavam, e isto gerava uma insatisfação, uma frustração.
Também não existia tempo para pausas, descanso e recarga de energia, o que trazia um sentimento de esgotamento e cansaço e mais descontentamento. Qualquer imprevisto, gerava um grande transtorno e estresse, porque não havia tempo previsto para as surpresas, tão normais no dia a dia.
A ideia que ajudou esse cliente de mentoria profissional, foi a de planejar uma rotina ou agenda e ajustar as expectativas sobre o que e quanto deve-se ter de atividades. Pensar na qualidade versus quantidade e fazer as escolhas/trocas, consciente do que se busca e do tempo “real” para cada objetivo definido. Isto vai definir o tal do equilíbrio, que será momentâneo.
Vamos abordar nos próximos artigos dessa série, justamente os aspectos relevantes para a definição de objetivos equilibrados, para a criação de uma rotina/agenda equilibrada e assim termos a sensação de vivermos uma vida integrada, como equilíbrio entre o pessoal e o profissional, que nos traga realizações, satisfação e quem sabe felicidade, mesmo que saibamos que isto será momentâneo.
Que tal equilibrar seu tempo?
Mãos a obra!
Elber Mazaro é assessor/consultor, mentor e professor em Estratégia, Tecnologia, Marketing, Carreiras/Liderança e Inovação/Empreendedorismo. Atua há mais de 25 anos no mercado, liderando negócios no Brasil e na América Latina. Possui mestrado em Empreendedorismo pela FEA-USP, pós-graduação em Marketing e bacharelado em Ciências da Computação.