Já pensou nas vantagens em ter uma estação de rádio na sua escola como uma ferramenta didática para produção de conteúdo? E quantas competências poderiam ser desenvolvidas no uso de plataformas especializadas em ensinar programação aos estudantes? E que tal um aplicativo que cria uma rede de comunicação exclusiva para o seu colégio e que funciona de um jeito tão simples que lembra até o “WhatsApp”? E como seria atrativo aos estudantes se houvesse um aplicativo onde os professores criam desenhos animados para apresentar conteúdos e discutir temas com a classe?
Modernidades como essas foram destaques na edição deste ano da Bett (British Education Training and Technology)- feira mundial de tecnologia e educação-, que aconteceu entre os dias 20 e 23 de janeiro, em Londres. Segundo dados da organização, o evento reuniu cerca de 30 mil pessoas interessadas em conhecer produtos e serviços do setor, apresentados por cerca de 800 expositores de todo mundo. Paralelo à exposição, debates, palestras e seminários reuniram especialistas para discutir as principais tendências para o futuro da educação.
Futuro
Um dos locais que mais atraiu a atenção do público na Bett foi o Pavilhão “Futures”- um espaço destinado às empresas que criaram inovações que se diferenciam das tecnologias mais tradicionais e que podem impactar no futuro das instituições de ensino. Para conquistar um espaço no Pavilhão, os 31 expositores escolhidos passaram por um processo de seleção feito por 19 especialistas do ramo.
Foi no Futures que a startup espanhola “Pixie” apresentou uma plataforma que ensina programação a alunos a partir dos oito anos. A startup esteve entre as dezenas de opções de fornecedores presentes na Bett com produtos que pretendem colocar o aprendizado de algoritmos no cotidiano escolar. Mais do que tendência, o tema vem de encontro com as diretrizes do Governo da Inglaterra que desde de 2014, adicionou aulas obrigatórias de programação nas escolas públicas. O objetivo dos britânicos é formar seus estudantes em sintonia com os padrões técnicos da atualidade.
Do Brasil, a única empresa a expor no evento também esteve dentre as selecionadas para o espaço “Futures”. Trata-se da Edtech paulista ‘ClassApp’, que desenvolveu um aplicativo que cria uma rede de comunicação privada para as escolas. Com funcionamento intuitivo, o app aproxima e facilita a comunicação entre os pais de alunos e a escola, dispensando, inclusive, o uso da agenda e o envio de comunicados impressos. “Nossa participação foi muito positiva em diversos aspectos. Apresentamos nossa solução para escolas do mundo todo e tivemos a oportunidade de entrar em contato com inúmeras novidades na área, evidenciando, para nós, que o mercado está cada vez mais maduro e com muitas alternativas para solucionar diferentes demandas que visem melhorar a educação”, avalia o Cofundador e CEO do ClassApp, Vahid Sherafat.
Novas competências
O estande da startup sueca Plotagon chamava a atenção de jovens e adultos com um aplicativo capaz de criar, em apenas cinco minutos, vídeos de animação personalizados. Segundo Niss Jonas, CEO da empresa, o produto pode ser usado tanto por professores, para difusão de conteúdo de diversas disciplinas, como também pelos próprios alunos, que têm as habilidades de construção de narrativa e de ampliação de vocabulário estimuladas pela ferramenta. Segundo os criadores do app, com o Plotagon, temas abstratos ganham vida na pele de personagens cujas falas e características físicas são criadas pelos próprios estudantes, facilitando, assim, o aprendizado. “Você pode escolher personagens pré-definidos, como o bombeiro, médico ou usar o criador de personagens Plotagon, onde o usuário pode criar a si mesmo, seus amigos e familiares. Também é possível adicionar emoções, ações, efeitos sonoros e músicas para mais sentido ao seu enredo”, explica Jonas.
Treinar as diversas competências que envolvem uma boa comunicação é a proposta da “School Radio”- empresa do Reino Unido que implementa nas escolas estúdios profissionais de rádio. Usado para atender objetivos e critérios das normas curriculares nacionais. O serviço colabora, por exemplo, com o desenvolvimento da escrita e da fala, além de estimular o trabalho em equipe. Na Bett, a empresa lançou seu pacote clássico (“The Classic Studio Package”), que traz um software atualizado, além de incluir materiais básicos, como microfones e fones de ouvido, entre outros recursos usados para viabilizar o funcionamento da estação de rádio escolar.
Simplicidade
Para o diretor de tecnologia e inovação da Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina, Diego Calegari, presente no evento, as novidades que primam pela simplicidade e que apoiam a autonomia dos alunos tendem a ter impactos mais relevantes e diretos na melhoria da qualidade da educação. “Minhas apostas estão nas tecnologias que dão suporte à potencialização de resultados e ao ganho de produtividade, especialmente as mais simples e de fácil aplicação. Na minha opinião, é a simplicidade que faz com que as mudanças sejam mais orgânicas e, assim, tenham mais sustentabilidade”, observa.
O diretor também chama atenção para as ferramentas que fazem interação com os alunos tanto dentro, como fora das escolas. “ Inovações que integram família à escola, por exemplo, também se destacam pelo potencial de expandir o escopo do trabalho pedagógico e, assim, modificar o processo de aprendizagem”, aponta.
Ainda na visão de Calegari, as Edtechs brasileiras apresentam soluções interessantes e de alta qualidade que na maioria dos casos, podem ser equiparadas às empresas internacionais. No entanto, ele afirma que o mercado consumidor deste tipo de tecnologia no Brasil, ainda não está estruturado o suficiente para absorver e fazer análise crítica das inovações tecnológicas. “Falta tração comercial e maturidade ao mercado consumidor brasileiro, tanto no que tange ao modelo mental ainda muito tradicionalista, como também na infraestrutura de muitos colégios das redes públicas, em especial”, opina.