Mesmo com o conturbado ambiente econômico, o Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (IODE-PMEs) indica que a média da movimentação financeira real das pequenas e médias empresas no país avançou 9,3% no primeiro trimestre de 2022, na comparação com o mesmo período de 2021. Setorialmente, o crescimento do varejo, da construção civil e de alguns segmentos de serviços tem se destacado no período recente.
O IODE-PMEs acompanha as atividades econômicas das pequenas e médias empresas brasileiras e analisa dados agregados de movimentações financeiras de contas a receber de mais de 90 mil clientes, que compõem cinco grandes setores: Agropecuário, Comércio, Indústria, Infraestrutura e Serviços.
Em março, o avanço foi de 11,2%, quando comparado ao mesmo período do ano anterior, puxado pelas atividades de Infraestrutura e Comércio. Na comparação com fevereiro de 2022, o índice mostra expressivo aumento de 15,2%, atestando a recuperação sazonal da atividade econômica brasileira no período, após o enfraquecimento usual no primeiro bimestre.
Para o ano, o IODE-PMEs projeta um crescimento de 2,8% na movimentação financeira das PMEs. O avanço, que antes indicava 1,2%, é motivado, especialmente, pelo desempenho acima do esperado das movimentações financeiras reais das PMEs no decorrer do primeiro trimestre do ano.
Desempenho 1º trimestre de 2022
O Brasil vem enfrentando diversos desafios no ambiente macroeconômico, atualmente, com a subida dos juros, encarecendo a tomada de crédito, e a inflação elevada, prejudicando a renda das famílias. Apesar do cenário desafiador, as pequenas e médias empresas (PMEs) mostraram importante tendência de recuperação no primeiro trimestre de 2022, refletindo certa normalização do ambiente de negócios com o maior controle da crise sanitária de covid-19 no país.
Segundo o IODE-PMEs, o crescimento no primeiro trimestre foi condicionado, especialmente, pelo avanço da movimentação financeira real nos setores de Infraestrutura e Comércio. Também se observa crescimento – ainda que em menor magnitude – nos setores de Serviços e Indústria. A única exceção no período foi o segmento Agropecuário, que seguiu com movimentação financeira real abaixo dos níveis de 2021 nos primeiros três meses do ano.
O Comércio tem se destacado nos últimos meses – em linhas gerais, dentre os três grandes segmentos que compõem o setor (Atacado, Varejo e Comércio e reparação de veículos e motocicletas), no comércio varejista. No primeiro trimestre de 2022, houve crescimento médio de 1,6% ao mês nas movimentações financeiras reais no varejo, enquanto no comércio atacadista a tendência de crescimento tem sido relativamente mais calma. O segmento de ‘Comércio e reparação de veículos e motocicletas’ mostrou retração no período.
Por outro lado, outros setores do varejo mostram desaceleração, como ‘lubrificantes’, ‘equipamentos e suprimentos de informática’ e ‘eletrodomésticos e equipamentos de áudio e vídeo’, reflexo da intensa subida de preços na economia e da elevação do custo da tomada de crédito.
Projeção do índice para 2022
Apesar da revisão positiva na perspectiva para o ano, as projeções indicam desaquecimento na movimentação financeira das PMEs na segunda metade de 2022, que deve ser afetada pelo prolongamento da aceleração da inflação e pelos efeitos cada vez mais evidentes da subida de juros promovida pelo Banco Central nos últimos meses.
A subida dos juros encarece a tomada de crédito, além de aumentar o rendimento de aplicações financeiras em renda fixa, prejudicando, assim, a evolução do consumo e dos investimentos. Outro fator é que, mesmo com a queda do desemprego entre final de 2021 e começo deste ano, observa-se uma tendência de redução do rendimento dos trabalhadores, seja pelos salários mais baixos ou pela manutenção da inflação bastante pressionada no país, especialmente em itens básicos de consumo (tais como alimentos e combustíveis).
Além disso, 2022 é ano de eleição presidencial – período geralmente marcado pelo aumento de incertezas. Momentos assim costumam ter paralisações de investimentos e perda de ímpeto do consumo, o que também pode afetar negativamente o desempenho econômico das PMEs brasileiras.
Do ponto de vista setorial, o cenário se mostra mais adverso no decorrer do ano para as PMEs dos setores de Comércio, Indústria e Infraestrutura (em particular na atividade de construção civil), segmentos que dependem da manutenção do consumo e, muitas vezes, de decisões que envolvem tomada de crédito. Apesar do crescimento geral do varejo, por exemplo, algumas atividades já mostram tendência de retração recentemente, segundo índice: lubrificantes, equipamentos e suprimentos de informática e eletrodomésticos e equipamentos de áudio e vídeo.
A IODE-PMEs avalia que há espaço para a continuidade da retomada de algumas atividades, com a consolidação do maior controle da pandemia no país – viabilizada pelo sucesso da campanha de vacinação. Assim, o crescimento do setor deve ser influenciado pela continuidade do processo de retomada da demanda das famílias por serviços em detrimento de bens – revertendo a estrutura da cesta de consumo verificada após os choques mais intensos da pandemia. Já para o setor Agropecuário, apesar dos resultados ainda no campo negativo no primeiro trimestre, espera-se uma retomada no curto prazo, haja vista as expectativas positivas para algumas culturas – sobretudo de milho e algodão.