As aceleradoras estão na moda. No Brasil e no mundo. Quantas aceleradoras existem? Quantas vocês conhece? Aliás… até para que seja possível responder a essas perguntas, o que é uma aceleradora?
Essas perguntas são importantes não só por aqui, mas no mundo inteiro. A ‘coisa’ ainda é nova e estamos todos aprendendo.
No geral, assume-se que a primeira aceleradora foi criado nos EUA. Para alguns, seria a IdeaLab, criada em 1996. Para outros (muitos), a Y Combinator, de Paul Graham & cia. Esta última, com certeza, já icônica e a mais conhecida, referenciada e emulada de todas.
Mas será que foram essas mesmo? O mais possível, isto sim, é que agora tenhamos um ‘nome’ para denominar um tipo operação que já existia no passado. Conheço profissionais que ‘montavam’ ou ‘aceleravam’ empresas de tecnologia nos anos 1990 e 2000, no Brasil; cheguei a participar de algumas dessas iniciativas. Contudo, isso acontecia muitas vezes sem método, sem processos estruturados, com poucas relações com investidores. O que vemos agora é a combinação de duas coisas: (i) o surgimento de um tipo de organização/negócio que é dedicada a fazer a ‘aceleração’ de empreendimentos e (ii) a definição de um conjunto claro de processos de aceleração – há um ‘como fazer aceleração’ mais ou menos conhecido, já estruturado e praticado por diferentes ‘aceleradoras’.
E quais são então as características de uma aceleradora? O que está acontecendo no mundo? Para saber um pouco mais a respeito conversei com Jessica Stacey, gerente de programas da entidade britânica Nesta – vale conferir o modelo, pois é super interessante, desde a natureza jurídica e história até o que eles fazem. Ouça aqui a entrevista que fizemos.
O número de empresas graduadas a cada ano em aceleradoras nos EUA saltou de 10 em 2005 para 190 em 2010 (quantas são graduadas atualmente? 1000? Alguém sabe ou arrisca um número?) e cada vez mais surgem novas aceleradoras. Essa mesma tendência é vista na Europa, no Brasil, na China, na Índia, na África… Esses são números contidos no estudo mais completo que conheço (ressalto, que conheço… devem existir muito mais coisas…) sobre aceleradoras no mundo, publicado pelo NESTA em 2011, chamado de Startup Factories (veja abaixo). O estudo define o que é uma aceleradora, apresenta um quadro do que está acontecendo nos EUA e na Europa, indica os desafios e o que se precisamos conhecer/aprender a respeito.
Para a Stacey, as questões mais importantes para o sucesso de uma aceleradora estão ligadas “às pessoas liderando o programa de aceleração, sua experiência real como empreendedores, e as conexões dessas pessoas com investidores….”, também destacou o espaço de trabalho. Concordo plenamente! O ‘valor’ para as startups aceleradas vem do contato que elas podem ter com o conhecimento decorrente da experiência real de negócios dos sócios/mentores da aceleradora e os contatos de negócios. Atenção empreendedores: fiquem de olho nos times das aceleradoras para as quais pretendem ‘aplicar’!!!
Na conversa com Jessica exploramos vários aspectos relativos às aceleradoras no UK e na Europa e as diferenças dessas para com os modelos dos EUA. Do lado de lá do Atlântico os governos tem um papel de destaque na criação e manutenção de muitas aceleradoras, o que não é tão comum nos EUA. Mas vale notar que não dá para generalizar dizendo que nos EUA não há apoio público, muito pelo contrário: o Governo Obama lançou um programa chamado Startup America e está colocando muito dinheiro para startups. A Europa também está lançando um programa (além dos programas que cada país tem): Startup Europe. Vale acompanhar os desdobramentos futuros dessa história.
Você conhece e Seedcamp e Springboard? Tratam-se das principais aceleradoras britânicas. Um fato a notar é que essa última foi comprada pela americana TechStars, o que sugere o início de um processo de consolidação e internacionalização do business das aceleradoras. Será? Isso é novo.
Ainda não temos aceleradoras de outros países operando no Brasil. Mas temos várias aceleradoras brasileiras (p.ex.: 21212, Pipa, Aceleratech, Outsource Brazil…) com sócios gringos e/ou que estão baseados em outros países, especialmente nos EUA. Isso é importante para o desenvolvimento do ecossistema local, pois ainda precisamos de expertise e conexões globais – muitos negócios só tem sentido se pensados, desde o início, de forma global. Atenção empreendedores!
A aplicabilidade do modelo de aceleradoras para outras áreas além do ‘mundo digital’ é uma outra questão que vale ser pensada e que discutimos na conversa. Não resta dúvida: é muito mais fácil montar uma ‘aceleradora digital’ do que uma aceleradora em biotecnologia ou robótica, por exemplo. Mas… aposto (é uma aposta minha… cobrem-me no futuro) que veremos cada vez mais ‘aceleradoras hard’ aparecendo por aí. Recentemente o Diego escreveu uma matéria sobre a Bolt, aceleradora para startups em manufatura; muito legal!! Na semana passada, o Joi Ito, do MIT Media Lab falou em São Paulo sobre o florescer de aceleradoras, hack spaces (veja este em Londres), incubadoras, co-working spaces e similares como resultado da redução dos custos de prototipagem e manufatura com o uso de impressoras 3D e a popularização de outras ferramentas. Fiquem de olho no quem vem por aí!
De volta à conversa com a Jessica e às informações que obtive, um fato me chamou a atenção: não há nenhuma aceleradora brasileira cadastrada na maior base mundial de aceleradoras, a Seed Data-Base! Você conhece a Angel List? Pois bem, a Seed DB é um ‘diretório de aceleradoras’, através da qual empresas podem acessar as aceleradoras ou, mesmo, aplicar diretamente. Atenção pessoal das aceleradoras: fiquem ligados!!! Querem atrair startups de outros países? Cadastrem-se lá!
Lembro de conversar há poucos anos com um amigo que trabalha na indústria de VC no Brasil e nos EUA. Disse-me ele: “operações do tipo ‘Y-Combinator’ são coisas para quem está cheio de dinheiro, pode investir e não ter receita por um bom tempo e correr riscos elevados”. Acho que isso começa a mudar um pouco com a existência de processos mais estruturados e com uma contingente cada vez maior de pessoas que tem experiência nesse tipo de operação. Como disse a Jessica na entrevista: “…ainda faltam dados… para sabermos que tipos de resultados realmente as aceleradoras podem gerar no desenvolvimento econômico. Para as startups, é inegável o valor, mas prestem atenção nos times das aceleradoras!
Por enquanto, não temos nada no Brasil de aceleradoras de ‘tecnologias hard’, mas em algum momento isso também chegará aqui. Alguém se interessa? Eu me interesso!
Startup Factories: the rise of accelerator programmes to support new technology ventures
Para os interessados, um “manifesto pela economia criativa” publicado pela NESTA.