* Por Bruno Cecatto
Estou inserido em uma cultura que promove crescimento? Esta sempre foi uma pergunta constante na minha cabeça.
Ao montar equipes para atingir objetivos em organizações em fase embrionária algumas coisas acabam sempre se repetindo. No ecossistema de startups já existem boas práticas validadas e não fazê-las significa praticamente sacrificar as suas chances de fazer o foguete decolar.
– Metas agressivas ecoam entre as paredes do escritório, muitas vezes com o acompanhamento registrado nos vidros, monitores e paredes.
– Reuniões gerais de OKRs são religiosas e todas as equipes compartilham, criticam, celebram e questionam umas às outras no que diz respeito às direções e apostas a serem tomadas.
– A cultura do feedback é instaurada e a comunicação vira uma ferramenta poderosa num cenário em que cada fração de desalinhamento ou conflito pode ser como um órgão do seu corpo falhando, e outras mil características já validadas e constantemente revisitadas e adaptadas pelos empreendedores a todo momento.
Mas apesar dessas boas práticas serem amplamente disponíveis, não é trivial desenvolver uma cultura de crescimento na prática. Principalmente porque todos esses fluxos possuem algo em comum e super complexo: pessoas.
No dia a dia, o que acontece por trás de todas essas práticas, é uma constante tentativa de integração eficiente de recursos humanos em prol de um grande objetivo. E mesmo sendo a única espécie do reino animal capaz de cooperar em largas quantidades, falhar em direcionar os esforços de forma inteligente, integrada e alinhada possivelmente seja o principal motivo pelo qual 90% das startups falham em até dois anos de vida. É muito difícil!
Hoje comecei a pensar que um dos principais motivos pelo qual isso acontece é porque, mesmo com o estabelecimento de processos eficientes, fluxos de comunicação diretos, transparentes e bem fundamentados, e práticas focadas no crescimento das metas da empresa, muitos empreendedores acabam esquecendo que para uma organização crescer 10x os principais ativos que sustentam esse crescimento – pessoas – também precisam crescer 10x. E isso é ainda menos trivial.
Quantas vezes você já se viu dentro ou fora da “reunião da liderança”, ou das “sessões estratégicas”? Rituais onde o time mais sênior investe todo seu capital intelectual para planejamento, tomadas de decisão e processos criativos para inovação e ideias de crescimento. Por outro lado, enquanto isso acontece, o restante das equipes estão dedicados a girar as manivelas e somente absorver as decisões – com pouca ou nenhuma participação do processo criativo.
Nesse sentido, o que acaba acontecendo é algo parecido com uma atrofia do seu corpo. Pense num atleta olímpico que precisa melhorar seu tempo de percurso em 10 segundos. Para chegar nesse objetivo, além de muita dedicação e treinamento, é necessário garantir que todo o seu corpo funcione alinhado em alta performance. Então, se você apenas fortalece, por exemplo suas pernas, mas não treina sua respiração ou os músculos do seu torso, seu objetivo inteiro é sacrificado.
Assim, pense de novo naquela empresa onde somente os líderes se dedicam ao processo criativo: enquanto eles estão fazendo “exercícios” de adaptação e inovação, praticando os aprendizados e se preparando para a nova era de crescimento, todo o restante da empresa está só dedicada em seguir o processo atual.
E quando a organização começa a ser surpreendida com os primeiros desafios que vêm com a maior dimensão de resultados (e eles só crescem), só há um time pequeno com as skills necessárias para enfrentá-los enquanto o restante do batalhão – que é a força motriz – apenas está treinando para resolver problemas e criar soluções para a realidade anterior. Ou seja, a essência do crescimento, que é a capacidade de multiplicar resultados é diretamente limitada pela ausência de multiplicadores de crescimento: pessoas preparadas!
Por outro lado, numa realidade onde toda as pessoas, além de realizarem suas funções diárias, são constantemente desafiadas a pensar, inovar e criar soluções para os problemas que vão surgindo ao longo do crescimento, as chances de potencializar o sucesso são muito maiores. E isso se dá pelo simples fato de criar um ecossistema onde todo mundo não só faz sua função, mas contribui para definir as soluções dos problemas que precisam ser resolvidos. Afinal, o que é uma empresa se não um grupo de pessoas dedicadas a resolver um problema e todos os sub-problemas que surgem na jornada? A matemática é simples: quanto maior o problema, maior a necessidade de pessoas para resolvê-lo.
* Bruno Cecatto é cofundador da Truora no Brasil.