* Por Ana Debiazi
O ano de 2021 quebrou recordes no mercado das startups, e 2022 deverá ser ainda melhor em investimentos. No ano passado, o Brasil registrou US$ 9,4 bilhões em aportes, e dez companhias se tornaram unicórnios. A Sling Hub, plataforma de inteligência de dados sobre o ecossistema de startups, projetou que, se as startups brasileiras repetirem o mesmo crescimento apresentado no ano passado, é possível que fechem este ano com um volume investido de US$ 29,4 bilhões.
Este é, sem dúvida, o melhor momento do mercado de startups no Brasil. Estamos colecionando recordes atrás de recordes em volume de investimento, novos unicórnios e M&A (fusões e aquisições). As empresas estão entrando com mais maturidade no ecossistema, com dinheiro sendo investido por elas para ampliar, melhorar, diferenciar sua atuação no mercado, e se tornando cada vez mais próximas dos empreendedores.
Pensando nos investimentos para este ano, os empreendedores ainda devem se beneficiar bastante com o dinheiro captado pelas gestoras no auge de 2020 e 2021. Os recursos captados pelos fundos têm um direcionamento, então serão alocados. No entanto, os empresários estão cautelosos em relação a isso, pois sabem que neste ano deverá ocorrer uma correção dos múltiplos pelo mercado.
Esse movimento acontece de trás para frente: começam nos mercados públicos, vão para as startups privadas em estágio avançado (late stage) e só depois chegam até as startups privadas em estágio inicial (early stage). O mercado que chamamos de CVC (corporate venture capital) deve crescer rapidamente este ano, porque as iniciativas de CVC irão equilibrar o desejo de grandes empresas por resultados imediatos e estratégias de longo prazo.
Ao que tudo indica, a aversão ao risco também deixará de ser realidade. Hoje, a maioria das startups investidas por braços de CVC está em estágios iniciais de desenvolvimento, em rodadas Pré-Seed, Seed, e série A e B, com valores que chegam aos R$ 10 milhões.
O que acontece é que, diferentemente do mercado tradicional de investimentos em ações, em que há pressa na compra e venda, o mercado de investimentos em startups requer um processo de longo prazo. Mudanças macroeconômicas como as da taxa Selic afetam fortemente aqueles que olham a curto prazo, o que não é o caso de um investidor em startups.
O mercado de investimentos em startups requer paciência para alcançar retorno de múltiplos na casa das dezenas de vezes do valor investido. Apesar de terem grande potencial de retorno, a dinâmica dessas empresas é bem diferente de outros investimentos de rendas variáveis como cripto ativos e bolsa de valores. O investidor precisa ser muito paciente, pois o retorno pode vir em um tempo médio de cinco a dez anos.
Por isso é fundamental manter a calma e visualizar o retorno a longo prazo. A estratégia é construir um portfólio de participações: espalhar o capital em várias startups. Existem diversas opções de investimento neste mercado, como: fundos de venture capital, venture builders e investimento-anjo.
No entanto, é preciso que você saiba que todas as formas têm riscos, não existe um caminho fácil, nem curto e sem riscos ao fazer esse tipo de investimento. Por isso, a diversificação do portfólio é a melhor estratégia, já que o risco será mitigado e diluído pelas iniciativas investidas. Além disso, não é necessário ter muito dinheiro disponível para investir em startups, existem várias opções que não precisam de valores muito altos.
A forma mais barata, atrativa e com excelentes taxas de retorno, a meu ver, tem sido através das corporate venture builders (CVB). Nelas, com um pequeno valor de investimento para compra das ações da CVB, você se torna sócio de uma grande empresa tradicional, diversifica seu portfólio com algumas dezenas de startups em que esta venha a investir, e, ainda, pode participar da gestão e contribuir ativamente para o sucesso das startups do portfólio.
Visto que houve um crescimento enorme tanto na criação de novas startups como na consolidação das já existentes, que ultrapassaram o chamado ‘vale da morte’, algumas áreas de atuação tendem a ser mais promissoras, como as de ESG, ligadas à economia circular e logística reversa, que devem ter uma alta de novos negócios e investimentos sendo alocados, puxadas pela legislação brasileira, que vem pressionando as empresas a se regulamentarem, com taxas e multas pesadas.
Ainda no caminho de ESG, soluções inovadoras em saneamento e abastecimento de água devem começar a aparecer e crescer. De cada 100 litros de água tratada no Brasil, somente 63 litros são consumidos e os 37 restantes são perdidos. As perdas ocorrem devido a vazamento, ligações irregulares, falta de medição ou medição incorreta e roubos. A média de consumo diário que a ONU recomenda é 110 litros por habitante/dia. Segundo dados do Instituto Trata Brasil, o consumo médio brasileiro é de 166,3 litros por habitante/dia.
Outro setor que chama a atenção é o de energia e combustíveis. Acordos internacionais como o de Paris de 2015, colocam em xeque a continuidade de uso de petróleo e outras fontes fósseis para a neutralidade de emissões em 2050. Conforme compromissos assumidos pelo governo federal do Brasil em 2021, a participação de energias renováveis no país deve ser de 80% em 2030 e acima de 85% em 2050. Sem ser excluído dessa equação, o conflito entre Rússia e Ucrânia e o impacto direto nos combustíveis nos gera uma escassez de um dos principais produtos consumidos no mundo, porém nos remete a uma nova corrida para formas alternativas de geração de energia e combustíveis no mundo.
A pandemia impulsionou muitos negócios e muitas pessoas a ingressarem no mundo digital, o que ajudou o mercado de startups. O 5G impulsionará as tecnologias de realidade aumentada, virtualização e Metaverso, em diversos segmentos, como saúde e varejo.
Falando em saúde, o setor de BioTech deve ter crescimento grandioso, impulsionado pela maturidade científica do Brasil, além de o país ter uma das maiores populações mundial. A previsão é que em 2028 o país deve gastar em saúde cerca de US$ 333,1 bilhões, ficando entre os dez maiores do mercado, e deve ocupar a sexta posição no mercado farmacêutico mundial, movimentando em torno de US$ 39 bilhões em 2023.
Acredito a descentralização do sistema financeiro vai aumentar, apoiando-se em tecnologias ligadas ao open banking e às criptomoedas, não necessariamente bitcoin, mas blockchain, com a descentralização e desintermediação das infraestruturas, de toda uma evolução nas tecnologias e ferramentas que temos hoje – mas isso é assunto para uma outra conversa!
Ana Debiazi é CEO da Leonora Ventures, Corporate Venture Builder com DNA inovador e com proposta de trazer soluções para os setores de educação, logística e varejo e promover a aproximação entre organizações já consolidadas e startups.