Desde o momento em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia do novo coronavírus, ainda em março, o mundo nunca mais foi o mais o mesmo. Todos os setores econômicos da sociedade sentiram e ainda sentem, direta ou indiretamente, os impactos causados pela covid-19.
Com a educação não foi diferente. Por conta do isolamento social, escolas tiveram que adotar às pressas o chamado homeschooling, que no português, significa educação domiciliar. Em resumo, pais ou responsáveis passaram a assumir de forma temporária a responsabilidade de ajudar no ensino dos filhos, que só vão poder retornar ao ambiente físico e coletivo de estudos quando a situação for normalizada.
Ocorre que muitas dessas famílias não estavam devidamente preparadas para este novo cenário. O formato de aula, pouco atrativo, passou a tirar a concentração das crianças e adolescentes, invertendo o que era para ser uma experiência prazerosa. Claudia Raito, pedagoga e gerente da assessoria pedagógica do SAE Digital, sistema de ensino que mantém parceria com escolas privadas, acredita que, no caso dos estudantes, os desafios vão além do domínio da ferramenta.
“Eles estão intimamente ligados ao emocional e ao comportamento diante do novo, da liberdade, da distância. Isso é ajustado a cada indivíduo independentemente de sua idade e está ligado a sua adaptação ao novo, à capacidade de planejar, ter disciplina e autonomia, fatores esses que podem, com toda certeza, minimizar qualquer dificuldade existente entre os usuários da tecnologia”, destacou.
Por outro lado, educadores também tiveram que acelerar o processo de apropriação do uso de tecnologias, o que para alguns, não está sendo uma tarefa muito fácil. Assim, Claudia sugere que a metodologia de ensino deve ser revista a partir do local de formação desses profissionais. “Vale refletir na formação acadêmica oferecida aos novos professores e na formação continuada aos já professores, trazendo um novo olhar para a sua formação, de modo que proporcione real experiência e possibilidade de transitar nessa nova modalidade de ensino”.
A pedagoga também aponta que o caminho para estes professores é sempre buscar por formações, estudar e estar aberto ao novo. Para ela, uma das formas de promover uma aula interessante é fazer uso do ensino híbrido e da sala de aula invertida, dando ao aluno autonomia e tornando-o protagonista do processo de aprendizagem.
“Não dá mais para o professor ser apenas o “dador” de aula. O aluno de hoje não é mais o aluno passivo. Portanto, é necessário que ocorra interação e, como efeito, a aprendizagem vai ocorrer de forma eficaz e prazerosa. Vale lembrar que todas as atividades desenvolvidas, planejadas e aplicadas aos alunos devem sempre ter sentido, significado e aplicação para que ele se sinta parte desse processo, e não apenas mero reprodutor delas”.
Ela também reforça o papel dos pais ou responsáveis neste processo. “Contar com famílias adeptas a essa modalidade de estudo e participativas no processo educacional do aluno, sabendo que não precisa proporcionar o conhecimento, mas oferecer acompanhamento, local adequado e disciplina”.
Por fim, afirma que o ensino a distância é uma realidade cada vez mais presente no mundo atual e acredita que deva haver uma adaptação das instituições de ensino pós-covid-19. “As pessoas, em geral, querem ter autonomia para criar suas próprias trilhas de aprendizagem de acordo com seu interesse e tempo disponível. Sobre a adaptação das escolas, tenho certeza de que, com a chegada da pandemia, todas elas tiveram que se adaptar. Creio que este seja um processo que fará parte do seu dia a dia daqui para frente”, finalizou.
Algumas empresas de educação pelo país têm oferecido soluções de homeschooling para ajudar pais, alunos e educadores. Confira algumas delas:
Nova Escola
A Nova Escola é uma companhia sem fins lucrativos que entrega conteúdos, produtos e serviços para toda a jornada do educador brasileiro. “Nossa missão é fortalecer educadores para transformar a educação pública brasileira e possibilitar que os alunos desenvolvam o máximo do seu potencial”, destaca o CEO da empresa, Guilherme Luz.
No fim do mês de maio, a empresa lançou o projeto “Conexão Educativa”, que é parte da campanha “Nova Escola Em Casa”, lançada no final de março em resposta às necessidades dos educadores neste momento de pandemia e ensino remoto. Todos eles estão tendo, de forma gratuita, acesso a cursos e planos de aulas na plataforma da Nova Escola. A iniciativa contou com um investimento de R$ 3 milhões do Google.org, braço filantrópico do Google.
De acordo com Luz, quase 590 mil professores e cerca de 11 milhões de alunos devem ser impactados. “A maioria das redes de ensino não estava preparada para oferecer aulas remotas. Estamos ajustando e lançando recursos para que educadores consigam adaptar suas práticas e aulas para o ensino nesta nova realidade. O momento é muito difícil. Por isso, é importante e necessário reafirmarmos nosso compromisso de mais de 34 anos ao lado de professores e gestores escolares de todo o Brasil”.
Além disso, em parceria com o Facebook, a empresa transmitiu de forma gratuita oito cursos sobre o uso de ferramentas para auxiliar no ensino remoto. Mais de 400 mil participantes acompanharam às aulas. Para o “Conexão Educativa”, a Nova Escola possui três principais frentes de apoio aos professores e educadores: os planos de aula adaptados, os cursos online semanais e o Nova Escola Box.
No total, 6 mil planos de aula foram reformulados para o ensino remoto, que podem ser acessados por smartphone e não exigem internet rápida. Todos estão alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Já os cursos online acontecem toda quinta-feira, às 15h, ao vivo (com exceção do dia 08 de julho) no site da Nova Escola, no Facebook e no YouTube. Os vídeos também ficam disponíveis depois da transmissão. Os temas escolhidos são baseados em pesquisas sobre os principais desafios dos educadores.
Por sua vez, o Nova Escola Box é uma ferramenta digital com dicas e atividades práticas como brincadeiras, infográficos, tabelas, entre outros itens que podem ser usados por gestores de escolas e pelos professores, seja para aprimoramento próprio ou para aplicação com os alunos e/ou familiares. “O Nova Escola Box é o produto por assinatura mensal da Nova Escola, mas as edições relacionadas a ensino a distância e ao novo coronavírus estão disponíveis de forma gratuita”, afirmou Guilherme. Outro ponto de apoio é o grupo da Nova Escola no Facebook, usado para troca de ideias, aprendizados e relatos.
O CEO acredita que para tornar as aulas mais atrativas, é importante começar pelo diagnóstico com as famílias e com os alunos, entender quais os canais de comunicação possíveis e não achar que, necessariamente, o remoto é sinônimo de tecnologia. “O ensino remoto não substitui o presencial, são realidades bem diferentes e que demandam ações também diferentes. Para esse momento, sugiro que os professores recorram a elementos que estejam presentes nos cotidianos dos alunos. Aprender por meio de histórias que os familiares possam contar ou lendo rótulos de produtos são alguns exemplos”.
Em contrapartida, aponta que a transformação digital pelo qual os professores estão passando seja um caminho sem volta. “Vemos hoje professores com décadas de prática, de repente, tendo que se reinventar a partir das novas tecnologias, aprendendo a usar Zoom, apps de edição de áudio e vídeo, participando de fóruns virtuais, etc. Apesar de toda a dor, tem sido um processo muito rico de aprendizado para todos”, afirmou.
Por fim, Luz destaca que a retomada das aulas presenciais será um grande desafio a enfrentar, tanto por parte dos alunos quanto pelos educadores. “A escola na volta precisará ser espaço de acolhimento. Além disso, antes de voltar, será preciso o preparo dos professores e dos espaços, protocolos de saúde, incluindo para a saúde emocional dos professores. Há também riscos reais de evasão (especialmente no fundamental 2 e no ensino médio) e risco de falta de vagas/excesso de alunos na escola pública, já que as escolas particulares estão perdendo alunos”, finalizou.
Agência Casa Mais
A Agência Casa Mais, empresa paulistana, é responsável por produzir vídeos em Realidade Virtual no Brasil, além de ser especializada em atuar com Realidade Aumentada. Desde 2011, atua não só no setor educacional, mas também no imobiliário, da construção civil, da capacitação de profissionais, entre outros.
Assim, com o intuito de deixar as aulas virtuais mais atrativas e imersivas durante o período de isolamento social, desenvolveu uma plataforma com a tecnologia de realidade virtual onde alunos e professores podem se movimentar pelo espaço e então, aprender de uma forma muito mais dinâmica e menos cansativa.
“As aulas funcionam por meio da plataforma chamada Reuni. O professor pode personalizar a sua sala, com a quantidade de alunos que desejar, oferecendo computadores virtuais e blocos de notas para os alunos. Ele pode, também, andar pelo ambiente, utilizar uma lousa para mostrar o conteúdo da matéria e, até mesmo, fazer uma pesquisa no Google, utilizando um navegador que é ativado por comando de voz. Todo esse conteúdo pode ser espelhado nos computadores virtuais dos alunos, incluindo vídeos 360 graus, os quais lhes permitem se movimentarem pelo ambiente virtual por meio da utilização do mouse”, destacou Fabio Costa, CEO da agência.
Para acessar a plataforma, o professor utiliza os óculos de Realidade Virtual disponibilizados pela Agência, que já contém todo o projeto personalizado, instalado pela equipe Reuni. Já o aluno necessita apenas instalar o software em um computador ou, até mesmo, realizar o acesso no site da plataforma, inserir uma cor para o avatar e o seu nome.
“Ele pode aproveitar melhor a aula utilizando o zoom na tela do seu computador virtual e tirar as suas dúvidas via chat ou por meio do sistema de áudio 3D, sempre acompanhando a movimentação do professor, por meio do cenário 360°. Para estudar posteriormente, basta utilizar o bloco de notas e o sistema de gravação da aula em vídeo, cujos arquivos são armazenados no mesmo computador utilizado para assistir à aula”.
Segundo Costa, o retorno por parte dos alunos tem sido positivo. “Eles têm gostado muito, por ser uma ferramenta totalmente interativa e imersiva, aumenta a atenção dos alunos, facilitando a sua aprendizagem. É uma tecnologia que veio para ficar e será um complemento para o professor aperfeiçoar a sua metodologia de ensino com muita inovação”, destacou.
Ainda de acordo com o CEO, a Realidade Virtual visa propor uma experiência diferenciada e imersiva nos mais diversos setores e no educacional em específico, não é diferente. “Embora eu acredite que neste setor, a inovação não ocorrerá, ao menos em curto prazo, em todas as instituições educacionais, é perceptível que ela já está fazendo a diferença e mudando a forma de aprendizado de muitos alunos”.
Para Fábio, as instituições educacionais foram obrigadas, de forma inesperada, a fazerem uma brusca mudança de aulas presenciais para online em um curto período de tempo. Assim, segundo ele, os estudantes passam a centrar toda a atenção numa tela, o que acaba causando um cansaço físico e mental não apenas para si mesmos como para os professores que, além de preparar todo o conteúdo, precisam dividir o mesmo espaço físico para se dedicar ao trabalho e a família.
“Tudo isso gera uma situação de estresse que dificulta tanto a produção de conteúdo quanto o aprendizado. Por isso, nada melhor do que uma experiência que se aproxime do real e permita que professores e alunos sejam inseridos num ambiente lúdico que facilite a realização das aulas”.
Por fim, afirma que o Brasil possui uma acentuada desigualdade social, o que se reflete em seu cenário educacional. “Nem todos conseguem ter acesso a aulas online, pois sequer possuem os equipamentos necessários para tê-las como computador, tablet ou celular e ainda uma boa conexão com a internet para a realização das aulas”.
Ele reforça a formação necessária para que alunos e educadores possam lidar com as plataformas online adequadamente. “Não se trata de um desafio fácil, afinal, o país enfrenta tal problema há décadas, em razão do descaso dos governantes no setor educacional. Assim, é preciso, primeiramente, atenuar tal abismo entre classes sociais para que os menos favorecidos também possam ter acesso às tecnologias que, certamente, farão a diferença no aprendizado”, finalizou.
Desde o início da pandemia, o Startupi traz iniciativas de empresas que estão trabalhando para minimizar os impactos causados pelo covid-19. Quer saber quais são elas? Clique aqui.