Gustavo Câmara, cofundador da VirtusPay, também é um dos fundadores da 99, o primeiro unicórnio brasileiro. “Eu comecei a minha vida profissional ainda na faculdade”, conta o carioca. Desde essa época, utilizando táxis quase que diariamente, ele decidiu – junto com outros sócios – descentralizar o ponto fixo de táxi e, com tecnologia, viabilizar acesso mais rápido a corridas e passageiros. A empresa, que nasceu em 2012, tornou-se a primeira startup nacional a valer mais de US$ 1 bilhão em 2 de janeiro de 2018.
Já em 2016, Gustavo estava em outra empreitada: cofundou a VirtusPay, fintech que parcela compras online para quem não tem crédito. A empresa captou em 2021 R$ 125 milhões em emissão de títulos de dívida (debêntures), com papéis comprados por grandes gestoras, como Verde Asset, Ibiúna e Augme, tornando a VirtusPay em uma das mais importantes fintechs no setor de Buy Now Pay Later no Brasil.
“Pessoas com limite ‘sobrando’ no cartão de crédito disponibilizavam o recurso na plataforma. A gente cresceu bastante com essa solução, sem precisar gerar atrito para quem realiza a compra com o ‘empréstimo’ desses cartões”, comenta Gustavo. Em 2021, a startup originou R$ 75 milhões e teve mais de R$ 1,2 bilhão em solicitação de crédito, atendendo cerca de 100 mil pessoas com a solução. Em julho, entretanto, a vida dos sócios, clientes e parceiros da startup virou de cabeça para baixo.
O que aconteceu com a VirtusPay
Mais de 6 mil clientes emprestavam seus limites de cartão de crédito para a startup em troca de acumular pontos e milhas. Antes da fatura do cliente vencer, a VirtusPay depositava para esse cliente o valor. A partir de julho, a startup não pagou mais.
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Assim, centenas de clientes ficaram sem receber os valores referentes às faturas de seus cartões de crédito. “Nós solicitamos o cancelamento de todas as transações futuras dos cartões dos nossos clientes em 22 de junho”, conta Gustavo. Essa solicitação só foi acatada pela subadquirente, entretanto, em 25 de julho. As transações realizadas nesse período causaram, supostamente, um problema de mais de R$ 80 milhões.
“A Virtus recebeu muito processo na justiça, recebeu um monte de chargeback”, comenta o cofundador. Além dos processos, que contabilizaram mais de 100, outras consequências muito mais graves apareceram para os 4 sócios: “recebemos ameaça de morte, vazaram meus dados na internet, dados da minha família, fotos das minhas filhas”, conta.
No Reclame Aqui, são mais de 1 mil reclamações sobre a empresa que, até agora, está comprometida em quitar todas as dívidas de clientes. “Muita gente foi impactada com esse problema. Quando pedimos o cancelamento das transações, nosso pedido não foi acatado por um dos players com quem trabalhávamos. Houve um inadimplemento contratual”, explica Gustavo.
Apesar da crise, a VirtusPay tem conseguido resolver o problema. “A maioria dos processos já estão resolvidos e todos os clientes receberão integralmente o que lhes é devido”, diz. A expectativa é que a justiça determine o pronto ressarcimento. O principal desafio agora é transformar a reputação da empresa.
“Uma das grandes consequências dessa crise toda foi que a nossa situação para captar recursos piorou. Com o risco reputacional isso foi afetado, então a gente trabalha hoje com Credit as a Service”, conta Gustavo. Agora, a VirtusPay, que tinha a propriedade de crédito, trabalha com esse modelo de negócios, tornando o risco menor, mas a receita nominalmente também é menor. “Porém, a rentabilidade ajustada ao risco é maior, pois temos dois grandes ativos: base de clientes e expertise de crédito (estrutura de custos, modelo preditivo e jornada para o cliente)”, diz. “Por mês, a empresa originava cerca de R$ 10 milhões. Com a crise, esse valor caiu absurdamente, tornando o modelo não viável.”
Para o próximo ano, Gustavo se mantém otimista. “É um recomeço, mas com muito aprendizado. Temos agora algumas vantagens que a gente não tinha quando começou, que são a base de cliente, histórico de crédito de performance e inteligência de jornada”, diz.
Quanto ao fluxo de caixa e receita, ainda são tópicos que precisarão passar novamente por um processo de amadurecimento, assim como a reputação da marca. “Quando tudo aconteceu, nossa preocupação não era nossa imagem, mas sim resolver o problema para os nossos clientes. Agora, com a cabeça mais fria e as coisas voltando aos eixos, a gente quer explicar o que de fato aconteceu e retomar um ciclo virtuoso de crescimento. Temos muito o que remar, mas estamos otimistas.”
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