Por Bruna Galati
A onda global de demissões nas startups e big techs continua em 2023. No primeiro mês do ano, as notícias sobre layoffs pipocaram, como o caso da startup Unico, especializada em identidade digital, que demitiu cerca de 100 colaboradores e a startup Pier, de seguros, que está em um processo de desligamento e pode afetar até 300 funcionários.
Já no setor das big techs, a Amazon realizou uma das maiores rodadas de cortes de empregos, com a demissão de mais de 18 mil cargos e o Google anunciou a saída de 12 mil empregados, entre outras grandes demissões.
Embora o cenário seja preocupante, Juliana Alencar, CEO e fundadora da Weird Garage, empresa de implementação de cultura corporativa, afirma que os brasileiros não estão olhando para os possíveis fatores desses acontecimentos. Ela cita o caso da Microsoft, que demitiu 10 mil pessoas e ao mesmo tempo investirá mais US$ 10 bilhões na OpenAI, laboratório de pesquisa de inteligência artificial que está por trás do ChatGPT. “Será que é uma crise ou ela está direcionando os seus investimentos para outros setores?”
Sobre a Amazon, a CEO explica que a empresa tem mais de 370 mil robôs em seus escritórios e galpões. “Seria uma crise, ou pela automatização de diversos processos não há mais necessidade das pessoas no comando?”.
Outras imprevisibilidades externas também podem impactar e às vezes não são lembradas, como por exemplo o Uber Moto, que teve suas operações negadas em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Essas decisões podem colocar em xeque a estratégia da empresa. Será que ela já tinha alocado times? Será que terá demissões em massa? Se sim, será mesmo que foi pela crise?”
De todo modo, Juliana ainda menciona que há fatores do mercado que impulsionam as decisões das empresas, como os dois anos de pandemia e em consequência a instabilidade econômica, a guerra da Ucrânia, o efeito rebote que resultou no aumento dos preços em várias cadeias, as eleições, as taxas de juros mundial em alta e os investimentos focados em ESG. Tudo impacta de forma direta no custo operacional das empresas.
Ainda vale a pena trabalhar em uma startup?
Pensando em todo panorama atual, o interesse por trabalhar em startups pode diminuir, mas a CEO afirma que todos os segmentos do mercado estão instáveis. “Também depende muito da área de atuação na empresa. Áreas de ‘apostas’ podem pagar mais porque estão atreladas a um investimento, mas podem ser descontinuadas a qualquer momento. E é claro, a escolha de ingressar em um mercado incerto como o de startups depende também da sua própria disponibilidade a risco, caixa pessoal, educação financeira, etc.”
Para ela, trabalhar em uma startup é uma ótima opção para escolher em algum determinado momento da vida. As pessoas tendem a se sentir muito realizadas a longo prazo, dependendo de cada perfil e se tem traços empreendedores. Caso não, ela diz que será um período interessante de experimentação.
Já Gustavo Favaron, cofundador e CEO da 8 Capital Group, acredita que há um período determinado da vida para ingressar no mercado de startups, que seria após atuar por alguns anos em corporações tradicionais.
“Ao sair da faculdade, entrar em uma empresa tradicional é melhor, porque o colaborador vai aprender sobre metodologias, processos e se desenvolverá como profissional. Agora, um profissional de 35 anos, que já tenha passado por grandes empresas e entende muito sobre processos, é o momento de ingressar para uma startup”, explica.
Segundo Gustavo, a beleza de se trabalhar em uma startup é poder de fato impactar o produto ou o serviço dela e isso só será possível se o profissional tiver uma bagagem de experiências e pensar alinhado com os sócios e fundadores, que de fato valorizam suas equipes e permitem que elas desenvolvam e fomentem o negócio. A escolha de trabalhar em grandes corporações ao sair da faculdade vem atrelada ao core business delas, que prezam por treinamentos, cursos e desenvolvimento de seus colaboradores.
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Diferenças entre trabalhar em uma startup e em uma grande empresa
Juliana cita algumas diferenças entre trabalhar em uma grande empresa e trabalhar em uma startup. “Ambas te dão uma oportunidade de crescimento em diferentes formatos, meu voto é você estar exposto aos dois em algum momento da vida para desenvolvimento.”
Grandes empresas
• Entender sobre condutas políticas de outras áreas;
• Entender que o seu trabalho acaba “aqui” e o trabalho do outro começa “ali”, tendo a sintonia entre diversas áreas que necessitam de aprovações distintas;
• Tem uma perspectiva de futuro e crescimento dentro da empresa;
• Aprendizado com os especialistas (afinal de contas, eles serão os seus chefes);
• Ter garantias a bônus de acordo com a sua posição;
• Ter acordos bem definidos e organizados.
Startups
• Você pede mais ‘desculpa do que licença’ – não tem muito tempo para mil aprovações, então a margem de erro tende a ser maior, o objetivo é avançar sempre;
• É quase impossível que você faça apenas a sua função, com certeza pegará trabalho de outra área, se não, nada do que você planeja fazer pode avançar;
• Às vezes você não terá especialistas como referências de desenvolvimento. Você terá que ser o especialista da sua função e pode ser necessário virar referência do assunto, sendo necessário muito estudo pelo futuro da empresa;
• Terá resiliência, uma vez que seu projeto pode mudar diversas vezes da noite para dia – e isso pode ser frustrante;
• ‘Voltar a ser estagiário’ e fazer o ‘trabalho sujo’ independente da sua idade;
• Autogestão das suas atividades e buscar dados, muitas vezes difíceis de serem encontrados, para compartilhar com o time;
• Há possibilidade de ficar rico em um curto espaço de tempo, com ações da empresa. Mas é uma aposta no limbo;
• Atingir cargos de liderança em um curto espaço de tempo, uma vez que não há muita hierarquia.
Mudança no mercado de trabalho
Juliana completa dizendo que vê o mercado ainda muito aquecido e com oportunidades, mesmo que as notícias choquem. Mas é importante lembrar que cada vez mais a régua está alta no mercado brasileiro. “Os profissionais que conseguirem entender cada vez mais suas skills de colaboração nas empresas – sendo hard ou soft skills -, terão mais experiência e repertório para contribuir com projetos e sem dúvidas irão se destacar e navegar com maior facilidade, mesmo se acontecer o layoff.”
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