Quando se busca no Google sobre o custo amazônico, poucos são os artigos e informações que aparecem. Mas quem vive e atua na Amazônia, sabe muito bem o que isso significa. Os custos de execução, produção, logística e distribuição são mais caros que no resto do país.
Isso se deve ao contexto peculiar da região, com a sua vasta extensão territorial, influenciado pelo fluxo das águas e condições climáticas. Um dos grandes desafios na execução de projetos, por exemplo, é explicar para financiadores e parceiros externos os valores acima da média e potenciais atrasos em cronograma. Se cair uma chuva forte, uma viagem de campo pode ser cancelada. Isso implica em mais tempo e recursos a serem disponibilizados e não tem o que se fazer, além de incluir valores extra na planilha.
Quanto a se produzir na região, os custos acabam sendo mais elevados. Dados do Amazônia Que Inspira, projeto idealizado e executado pela InvestAmazônia, ilustra o custo amazônico. O projeto se trata de um programa de aceleração para empreendimentos femininos em comunidades tradicionais e, em sua fase inicial, revelou que o custo do insumo para as empreendedoras da região do Tapajós, no Pará, pode chegar a 6 vezes o valor do insumo comparado ao local de compra.
A Ô Amazon Air Water, uma empresa localizada no interior do Amazonas, em Barcelos, cuja matriz energética é de combustível fóssil, vivencia a realidade de empreender no coração da Amazônia. “Não é só uma questão de energia de fontes não renováveis, existe uma instabilidade no fornecimento de um ítem básico que é eletricidade. E o nosso cliente no exterior não tem a mínima ideia da realidade local amazônica, mas vai exigir um alto padrão de qualidade e de sustentabilidade. No nosso negócio, utilizamos energia solar e gerador a biodiesel” Relata Cal Junior, presidente da empresa.
O custo da energia de fontes renováveis também é mais caro. Apesar da região amazônica ser responsável por 27% da produção nacional de energia em 2021, o estado do Amazonas e Pará possuem os custos mais caros de energia, R$ 1,07 e R$ 1,02 o quilowatt hora (kwh), respectivamente, enquanto a média nacional é de R$ 0,87 (1). Em 10 anos, a produção de energia na região quase que dobrou, ao passo que no resto do país o aumento foi de somente 2% no mesmo período (2).
Há anos, o Ministério da Educação reconheceu o custo amazônico prevendo um repasse de 30% a mais que no resto do país para financiamento de projetos de apoio a livros e leitura na região (3). Sem esse olhar seria impraticável a viabilização das iniciativas na região.
A problemática do custo amazônico, ou melhor, a ausência de reconhecimento da sua existência afeta serviços básicos, como editais de infraestrutura. Recentemente, o novo programa Minha Casa, Minha Vida decidiu incluir moradias ribeirinhas como parte das suas entregas.
Em 2015, a deputada paraense Simone Morgado apresentou um projeto de lei na Câmara dos Deputados para que o programa incorporasse os custos amazônicos, argumentando a necessidade de regulamentação e reconhecimento destes desafios regionais (4). Esta movimentação legislativa teria um impacto direto no mercado, pois devido aos custos diferenciados, empresas de infraestrutura acabam não se interessando em atuar na Amazônia.
É impossível atuar na Amazônia sem levar em conta os custos diferenciados de se produzir, executar e transportar na região. A regulamentação e reconhecimento pelo poder público dessas peculiaridades é uma porta de entrada para melhorias no desenvolvimento regional. E para quem queira investir ou financiar iniciativas e empreendimentos na região, é indispensável ter em mente a questão do custo amazônico. Esta parte do Brasil não é para quem quer ou somente vê oportunidades, é para quem consegue lidar com a realidade local e gera valor a partir disso.
Acesse aqui e saiba como você e o Startupi podem se tornar parceiros para impulsionar seus esforços de comunicação. Startupi – Jornalismo para quem lidera a inovação.