Segundo um levantamento da Associação Brasileira dos Revendedores de GLP (Asmirg-BR) junto às associadas, o aumento na demanda por Gás Natural Liquefeito após o início da quarentena levou à escassez do produto em sete estados brasileiros e no Distrito Federal. Esse movimento, portanto, aproximou os consumidores de aplicativos que conectam revendedoras a clientes que buscam gás de cozinha.
Além dessa conexão, os aplicativos também permitem aos usuários que visualizem e comparem os preços. Assim, diante desse cenário, algumas plataformas relataram um aumento de mais de 100% em acessos e downloads.
Esse foi o caso da Preço do Gás. Disponível para download na Play Store, a empresa viu as buscas em seu aplicativo aumentarem em 120%. Em contrapartida, teve uma redução de 45% dos pedidos pela falta de estoque nas revendedoras parceiras. Para Cláudio Frouche, CEO da Preço do Gás, não ter revendedores ativos na plataforma foi a maior dificuldade da empresa no maior pico da demanda.
Por isso, a empresa, que foi fundada em 2016 por dois sócios e um investimento único de R$ 20 mil, precisou adaptar sua rotina. Dentre as mudanças, Frouche conta que adotou o home office com 100% da empresa. Além disso, parte dos funcionários focaram em controlar as revendedoras que estavam conseguindo fazer entregas, e fiscalizar o aumento dos preços acima da média, por parte dos revendedores, para tentar mediar essa alta nos valores.
Das mais de 70 mil revendedoras que existem no Brasil, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o aplicativo da Preço do Gás possui 2 mil cadastradas em sua plataforma. Para o CEO, aplicativos que permitem a compra de gás online facilitam tanto a vida do consumidor como para revendedores. “É a forma deles poderem divulgar suas revendas com risco zero para o marketing, pois só pagam por botijão entregue, e depois que já foi entregue”, destaca.
Frouche explica que o revendedor interessado pode se cadastrar pelo site, acentral de atendimento confirma os dados do revendedor na ANP e na Receita Federal, e entra em contato para passar os procedimentos padrões e começar a divulgá-lo.
Distribuidoras fecham as portas durante pandemia de covid-19. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília
Outro aplicativo que precisou mudar sua estratégia de trabalho durante a pandemia foi o Chama. A plataforma, que está disponível para download no Google Play e na App Store, registrou de uma semana para outra, um significativo crescimento no volume de vendas de botijões por meio do aplicativo, segundo Sheynna Hakim Rossigno, diretora-geral do app Chama, exigindo da empresa uma resposta rápida para absorver esse volume repentino.
“Como consequência desse aumento nas vendas, previmos também um crescimento nos atendimentos de clientes e revendedores via telefone, situação que rapidamente conseguimos resolver ao implantar o call center a distância, com todo o time trabalhando de casa”, conta a executiva. Com calls diárias o time tornou-se mais forte e “muitos benefícios vieram a partir daí” destaca.
Com mais de 5 milhões de downloads em geral, 500 mil foram realizados apenas em março, quando a ferramenta passou a ter acessos recordes, releva Sheynna. A plataforma também teve aumento no número de usuários ativos no aplicativo e, consequentemente, o número médio de botijões por compra também subiu. “Na semana em que o isolamento começou a ser adotado, o volume de vendas registrado deu um salto de 35%”, apresenta ela.
Sheynna também concorda que o desabastecimento do mercado foi o período mais difícil no pico da demanda. “Com tantas questões envolvidas dificultando a compra do produto, os preços passaram a subir. Mas ao contrário do que se imagina, isso não ocorreu porque a demanda motivou as revendas a quererem o máximo de lucro possível em um momento tão crítico, mas porque cada uma delas teve seus gastos aumentados para conseguir manter seus estabelecimentos abastecidos e ativos”.
Diante da crise, o Procon e o Sindicato das Empresas Representantes de Gás Liquefeito de Petróleo da Capital e dos Municípios da Grande São Paulo (Sergás) fecharam um acordo para limitar o preço de venda o botijão de gás de cozinha de 13 kg a R$ 70. “Este fato também colaborou para o agravamento da dificuldade na compra do produto, pois com isso as revendedoras deram férias a seus motoristas e passaram a disponibilizar o botijão apenas no local”, completa.
Para Sheynna, os benefícios de uma plataforma digital vão além de apenas facilitar o dia a dia do usuário. “Aplicativos como o Chama são fundamentais para oferecer ao consumidor acesso a um bem essencial pelo melhor preço. Em um período de isolamento como esse que vivemos, é muito importante receber o produto em casa e em segurança”.
Presente em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Recife, Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre, o Chama possui mais de 2 mil revendedores regulamentados pela ANP e o cadastro para inclusão no app pode ser feito no site.
Desabastecimento
Diante da crise, os estados mais impactados com o desabastecimento de gás foram a Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
Abaixo, os mapas elaborados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostram o panorama das entregas pela Petrobras e o comparativo do volume de vendas realizados pelas distribuidoras em relação ao mesmo período em 2019.
Algumas regiões tiveram um aumento de mais de 30% em suas vendas, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Segundo Marco Antônio Castañeda CEO e head de Marketing do UpGas, isso acontece pois a Petrobrás diminuiu o bombeamento de gás. “O Gás LP é o primeiro produto extraído na produção do refino do petróleo. Todavia, como esse não é o produto principal da Petrobrás, mas sim o diesel e a gasolina, com a quarentena, o consumo dessas duas espécies de combustível reduziu drasticamente. Consequentemente, a Petrobrás não tem realizado durante o período de isolamento o bombeamento de Gás LP a todas as companhias distribuidoras, reduzindo em 40% seu bombeamento diário para todas as Companhias.
A Petrobrás, no entanto, divulgou uma nota no início de abril informando que o desabastecimento ocorreu devido ao aumento de demanda durante a pandemia de coronavírus. “No mês de março, as vendas de GLP totalizaram 615 mil toneladas, 8 mil toneladas acima da quantidade inicialmente acordada com as distribuidoras. A procura por GLP aumentou, ao contrário dos demais combustíveis como gasolina, diesel e querosene de aviação que tiveram grande queda nas vendas. Com a demanda acima das expectativas, o pedido de GLP pelas distribuidoras, para o mês de abril, aumentou para 618 mil toneladas. Devido a essa contração da demanda dos demais combustíveis, o processamento das refinarias foi reduzido. No caso do GLP, a redução da produção será compensada por importação do produto e as entregas estão garantidas.”
Mesmo com o posicionamento da petroleira, Castañeda conta que muitos revendedores fecharam devido à falta do produto. “A situação começa apresentar sinais de melhoras, mas não significativas. Apenas parte dos parceiros revendedores dispõem de produto”, destaca.
O aplicativo, que foi lançado oficialmente em 2018, teve um aumento de 20 vezes mais nos acessos. “Desde o lançamento alcançamos a marca de 250 mil downloads, dos quais 70 mil no período do final de março até 15 de abril”, revela o CEO. Em relação aos pedidos, houve um aumento de 500%.
Presente em 8 estados, a plataforma do UpGas possui quase 800 revendedores cadastrados. A solicitação para cadastro pode ser feita pelo site e serão aceitos somente os que forem devidamente autorizados pela ANP. O aplicativo está disponível para download no Google Play e na App Store.
No início do mês, o Governo publicou uma nota onde divulgou que a demanda por gás de cozinha teve um aumento de 23% em todo o país, “devido ao isolamento social para evitar o coronavírus, com as famílias ficando mais tempo em casa e adotando novos hábitos”.
Ainda, em resposta a um contato da Agência Reuters, a Petrobras reconheceu que houve uma redução do processamento das refinarias, devido a uma queda da demanda dos demais combustíveis como gasolina, diesel e querosene de aviação, e que a redução da produção de GLP pela empresa está sendo compensada pelas importações do produto.
Questionada se a companhia não poderia aumentar o refino de petróleo, com o objetivo de produzir mais GLP, a fonte disse que isso não valeria a pena, em um momento em que o consumo de outros combustíveis está em queda. “Se produzirmos mais GLP, vamos ter que produzir mais gasolina, e a demanda de gasolina ainda esta muito baixa. Por isso, agora está valendo mais a pena importar um pouco mais.
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