Em 2010, Pedro Eugênio acabava de ter se tornado pai de gêmeos e ainda assim decidiu trocar a estabilidade de um emprego em uma grande corporação para empreender. Desde 2006, ele tinha um “hobby” paralelo à sua função principal, o Busca Descontos, site de promoções que toca até hoje. O hobby cresceu e ele decidiu tocar o barco em tempo integral, agora já com algumas ideias na cabeça para estimular o e-commerce no Brasil.
Uma delas foi trazer o conceito da Black Friday para o país e ajudar o varejista a desovar alguns itens de seus estoques. O evento ainda sofre com críticas porque, segundo Pedro, nem todo mundo entendeu a ideia, mas já é possível ver grande parte do e-commerce brasileiro participando.
Conversei com Pedro na semana passada e compartilho com vocês a história dele, que hoje é CEO do grupo franco-brasileiro LeadMedia, dono do Busca Descontos e de outros empreendimentos do executivo.
Empreendendo aos 12
“Eu empreendo na internet desde 1996. Aos 12 anos, eu abri a minha primeira empresa, que era de BBS. Aos 16, criei um provedor de acesso chamado Top Net e eu o vendi pro Terra em 2000. Tive que ser emancipado e contratei uma menina que cuidava de todo o administrativo da empresa, desde o café até o contrato. Um dia, ela trouxe a filha dela pro escritório e pensei pela primeira vez que, se desse algo errado, eu estaria afetando a vida daquela criança. A gente cria um senso de responsabilidade.
Quando vendi o Top Net me mudei de São Carlos [interior de São Paulo], para São Paulo, onde estudei publicidade e propaganda.
Eu quis juntar o que eu já sabia de ser nerd com a área da propaganda e isso, sem querer, me ajudou na vida. Isso de juntar tecnologia com publicidade e negócio. Fui ser executivo, trabalhei em agência de publicidade, bancos, teles…”
Surge o ‘hobby’
“Em 2006, comecei a tocar em paralelo o Busca Descontos. Eu já era ‘mão de vaca’ naquela época e meus amigos sabiam que eu era o cara do cupom de desconto. Eu era programador e, para que parassem de me pedir dicas por e-mail, coloquei o Busca no ar. Antes, as pessoas falavam que era coisa de pobre, mas agora o cupom virou cool.
O negócio foi crescendo e, em 2010, vieram meus filhos e vi que não dava para fazer tudo ao mesmo tempo. Então, decidi voltar a empreender. Todo mundo me achava maluco, mas tive um grande apoio da minha mulher. Ela disse que o máximo que ia acontecer era eu pedir meu emprego antigo de volta. Tive muito suporte e isso me deu coragem de mergulhar.”
O ‘hobby’ vira negócio sério
“Deu certo. Naquele mesmo ano, a gente fez o primeiro Black Friday. Queríamos criar um negócio e torno da marca Black Friday no Brasil. O nosso papel foi mais de incentivar e transformar o Black Friday numa realidade no país. Agora, nós trabalhamos para arrumar os problemas que aconteceram e afastar quem fez coisa errada. As pessoas têm informação agora e quem faz errado é crucificado nas redes sociais.
Mas 95% das empresas fizeram direito, então ficamos felizes. Eles se prepararam, venderam bastante.
Mas muita gente também não entendeu. No Black Friday, não é para colocar o site inteiro com desconto e as pessoas ainda confundem muito. O Black Friday traz um conjunto de produtos com desconto e existe um público que compra, se o preço estiver competitivo.
A gente tenta mostrar para eles que, diferente do ano todo, no Black Friday a loja não precisa fazer esforço para trazer o cliente para a loja. Então, o custo de mídia cai absurdamente e a ideia é usar esse dinheiro economizado em mídia para aplicar descontos mais agressivos. Assim, o processo se torna sustentável. Você traz o consumidor para dentro da loja, com baixo custo de aquisição e, se você criar uma experiência legal, ele volta no Natal.
Se a loja souber usar isso, não precisa fazer sacanagem, nem inflar o preço.”
A chegada dos franceses
“Logo em 2010, recebi muitas propostas de investidores e eu sempre dizia não. Mas conheci o pessoal do LeadMedia e vi uma oportunidade de trocar informação e experiência. Foi muito mais que dinheiro, foi ter alguém para conversar. Eles falavam o que tinha acontecido em outros países, o que havia dado certo, quais eram os novos caminhos.
É um grupo franco-brasileiro e o que deu certo foi mesmo casar essas duas culturas, com a velocidade maluca do empreendedor brasileiro. Não é uma empresa acelerada demais, mas não é tão engessada.
Atualmente, sou o CEO do grupo no Brasil.”
O CEO ainda é “startupeiro”
“Eu nunca vou deixar de ser um startupeiro, mas o processo ajuda muito. A coisa maluca do empreendedor é superimportante, mas é preciso tomar cuidado com a equipe. Você consegue virar sua empresa rápido, mas é preciso dar segurança para as pessoas que estão embaixo. Agora, a gente criou um modelo que o barco está bem pré-definido, mas os diretores ainda se dão ao luxa de ficar pensando 24 horas por dia em novos produtos.
O que eu faço muito hoje é entender os problemas do Brasil e ver onde realmente dói, para saber se há como criar um produto e resolver. Se tem, é se organizar para entregar.
Falo muito para o empreendedor que a primeira coisa que ele tem que entender é o problema das pessoas. A grande chance de dar certo a empresa está quando ela resolve o problema de uma pessoa, e não apenas cria algo porque é legal.
Exemplos de projetos que nasceram de observar problemas foram o Dia Do Frete Grátis e o Kids Baby Day. Conversando com os fabricantes, vi que o brinquedo só vendia no Natal e no Dia das Crianças. Então, esses períodos de promoção ajudam a nivelar os vales e picos, para minimizar os vales.”
Aprendizados
“O grande aprendizado que tive foi para chegar aos 80 funcionários. Questões de organização, processos e afins. É preciso ensinar o cara a ser CEO. Não adianta o investidor colocar só dinheiro se ele não dá suporte, não ajuda a cuidar da ansiedade e da saúde do empreendedor.
Dois meses atrás criei um conceito de um time próprio para me ajudar como pessoa. Tem o personal trainer, a psicanalista, o cardiologista. É superimportante, quando você tem um negócio grande, saber a hora de correr, parar e relaxar.”
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