Cerca de 54% dos agricultores pretendem aumentar os investimentos em drones em 2022, segundo um estudo da empresa estadunidense DroneDeploy, feito com mais de 750 entrevistados em 40 países distintos. Com o índice crescente do uso desses equipamentos, como fica a aviação agrícola e manual, e os trabalhadores encarregados de funções, agora feitas por drones?
Para entender qual é o posicionamento do mercado, o Startupi entrevistou grandes startups e empresas do segmento, como XMobots e ARPAC Drones. Mas antes de chegarmos a essa questão, precisamos entender a origem dos drones na agricultura brasileira e sua importância para o setor.
A origem dos drones
Por volta de 2011, os primeiros drones começaram a ser usados para mapeamentos topográficos e de georreferenciamento (definição da forma, dimensão e localização de um terreno em relação ao globo terrestre), sendo uma alternativa para além das imagens de satélites e aviões de aerofotogrametria, disponíveis na época.
Antes dos drones com câmeras, o produtor tinha um custo elevado para fazer a cobertura de sua plantação, com o uso de tecnologias antigas que não cobriam toda a sua área. O mercado Agro adotou os drones de mapeamento e aprendeu a extrair dados e informações importantes para os ganhos no setor, caminhando para o ‘boom’ da Agricultura de Precisão (AP). isso ocorreu por volta de 2015 e 2017. A AP é a forma mais precisa de monitorar as atividades agrícolas, utilizando tecnologias avançadas. Com os dados coletados é possível implementar automação agrícola e tornar mais assertiva a tomada de decisão.
Depois dos drones de fotografia, surgiram os drones de aplicação de biológicos e químicos, que aliados à imagens de alta resolução, estão promovendo novas técnicas de controles de pragas e doenças e beneficiando o produtor com redução de custos e o meio ambiente com a diminuição de defensivos agrícolas (produtos químicos, físicos ou biológicos) aplicados.
“Hoje, vivemos um novo ‘boom’, agora com os drones de pulverização agrícola, que chegaram entre 2018 e 2019. Agricultores, pecuaristas e prestadores de serviços agrícolas de todo Brasil têm buscado essa tecnologia devido à redução de custos e das perdas por amassamento da lavoura”, explica João Paulo Pedroso, Consultor técnico de vendas da XMobots, uma das maiores empresas de drones da América Latina, que fabrica drones nos segmentos de Vigilância e Defesa, Geotecnologias e Agronegócio.
O mercado dos drones é composto principalmente por equipamentos focados no entretenimento, geração de vídeos, cobertura de eventos, entre outros. Mas com o surgimento de empresas que desenvolvem drones profissionais, como a XMobots, essas ferramentas começam a ser vistas como fundamentais para além da diversão.
“O Brasil já é protagonista mundial em produção e em exportação agrícola, tendo um longo caminho a seguir na adoção dos drones que, em sua maioria, ainda são vistos como ‘pequenos’ demais para nossas imensas propriedades rurais”, diz Pedroso.
Funções dos drones na agricultura
Os drones se tornaram ferramentas indispensáveis na Agricultura de Precisão por utilizar tecnologias de posicionamento e georreferenciamento e por trazer facilidade e versatilidade nas suas operações. Os drones são aparelhos de pequeno e médio porte, leves, com câmeras, GPS, tanques de pulverização e sensores acoplados que podem ser utilizados para diferentes objetivos. Pedroso relata alguns deles:
Sensoriamento Remoto
Com a utilização dos drones, é possível realizar o Sensoriamento Remoto através das imagens coletadas e fazer uma estimativa de toda área produtiva, Cadastro Rural, levantamentos topográficos e agrimensores, projetos de grandes obras de engenharia, irrigação, construções ou barragens por exemplo.
Saúde da cultura
É possível analisar a saúde das plantas e culturas, falhas de plantio, contagem de stand, encontrar reboleiras de pragas e locais de baixa produtividade, ou seja, o monitoramento aéreo permite identificar as áreas que precisam ser tratadas.
Economia, mercados e segurança alimentar
Com informações sobre a saúde da lavoura é possível gerar informações relevantes para a previsão das safras, tendências do mercado de commodities agrícolas, laudos e perícias do seguro agrícola e impactos econômicos de problemas climáticos, por exemplo.
Identificação de zonas de Manejo
Através do mapeamento aéreo utilizando os drones é possível identificar diferentes áreas para o manejo. Com a captação de imagens é possível analisar as áreas com maior e menor quantidade de plantas daninhas e possíveis problemas fitossanitários. Por meio de uma tecnologia mais barata, se comparada aos aviões, todo esse controle pode ser feito de forma rápida e precisa, possibilitando a tomada de decisões mais ágil e assertiva.
Preservação Ambiental
O drone é capaz de fazer o mapeamento aéreo de grandes áreas, apresentando de forma detalhada suas características em relação ao solo, relevo, localização, construções, entre outros aspectos.
Esse equipamento pode fazer o mapeamento de áreas protegidas, o monitoramento da biodiversidade, combate a incêndios florestais, caça e exploração dos recursos naturais, bem como na coleta de dados científicos e, consequentemente, maior preservação do meio ambiente
Distribuição de sólidos
Com dispositivos acessórios, um drone pode distribuir fertilizantes sólidos, formicidas, agentes fitossanitários biológicos e até semear arroz, pastagens ou árvores nativas e uma área de reflorestamento assim como os pássaros já fazem na natureza.
É o caso da empresa norte-americana DroneSeed, que foi criada com o objetivo de diminuir as consequências dos incêndios nas florestas dos Estados Unidos, plantando as sementes com drones. “Entendemos que a silvicultura é complicada. Às vezes você precisa de plantadores de árvore e às vezes você precisa de helicóptero. A DroneSeed é o ponto ideal no meio disso. Os drones mantêm a velocidade e aumentam a sobrevivência das sementes, de forma acessível e em escala”, afirma a empresa.
Pulverização agrícola
Baseado na tecnologia do Georreferenciamento, utilizando sistema de bicos pulverizadores e tanques de até 30 litros de calda, os drones pulverizadores podem pulverizar até 15 hectares por hora com baixíssimo volume de calda por hectare. Essa pulverização ocorre no local exato, no momento exato e na dose exata atendendo aos conceitos de agricultura de precisão e manejo otimizado das lavouras.
Segundo Eduardo Goerl, CEO da ARPAC Drones, o piloto se desloca até a fazenda, prepara o equipamento e o voo é feito de forma automática. Pela legislação vigente, é necessário um piloto em contato visual com o drone, ainda que o voo esteja acontecendo de forma automática – sem o piloto estar de fato controlando.
“Na aplicação localizada, a redução da aplicação de defensivos pode chegar a 90%. Na aplicação de área total, pode-se aplicar de forma mais segura, sem risco de acidentes, sem contato com o defensivo, de forma mais uniforme, atingindo locais onde outros métodos não conseguem e sem amassar a cultura”, explica.
A ARPAC Drones nasceu em 2014, inspirada em um acidente que Goerl sofreu quando era instrutor de voo de avião. A concepção inicial era fabricar um drone capaz de complementar as tarefas da aviação agrícola sem expor os pilotos aos riscos de acidentes nas áreas com mais risco operacional. Hoje, a empresa produz drones para a pulverização. A startup já recebeu R$ 12,4 milhões em rodadas de investimento.
Afinal, os drones ocuparão o lugar dos trabalhadores?
Para João Paulo Pedroso, o surgimento dos drones é mais uma mecanização agrícola onde o trabalhador rural terá que se capacitar para utilizar a nova ferramenta. Sua vaga será ocupada por uma solução tecnológica, mas que também depende da manutenção humana.
“Novas tecnologias trazem com elas uma cadeia de difusão do conhecimento e capacitação. No caso dos nossos drones, tem sido feito pela XPilot, nossa escola de formação de pilotos de drones”, afirma.
O mercado, de maneira geral, também vem oferecendo capacitação aos trabalhadores, através de consultorias, cursos e treinamentos, uma vez que para manusear um drone, é preciso ter certificado. Atualmente as operações com drones agrícolas são reguladas pelo MAPA, ANAC e ANATEL. “Tanto os operadores quanto os equipamentos devem ser certificados, mas como estamos falando de equipamentos que voam em baixas altitudes e fazem trabalho já realizado por aviões, essa legalidade da operação felizmente tem sido aprimorada com a contribuição de todo o setor”, complementa Pedroso.
João nunca acreditou na hipótese de que os drones iriam substituir a aviação agrícola e manual. Como engenheiro agrônomo, ele vê os drones como uma ferramenta a mais para o manejo integrado da propriedade rural, que pode envolver outras tecnologias. “Há áreas onde a aplicação manual, tratorizada ou com aviões é inviável, insegura ou muito onerosa. Nessas circunstâncias, o agricultor tem a opção de lançar mão do drone”, finaliza.
* Foto destaque: Operação de drones da ARPAC Drones