As comunidades indígenas que ficam localizadas no Rio Gregório e Kampa do Rio Amônia, no Acre, passam a contar com um sistema de tecnologia que auxilia na identificação de ameaças de atividades ilegais como incêndios e desmatamentos.
O Sistema de Monitoramento e Gestão Territorial foi criado pela Conservação Internacional (CI-Brasil) em parceria com os povos Yawanawá e Ashaninka. Ele realiza o mapeamento da produção agro-extrativista, levanta dados demográficos e da biodiversidade local. Além disso, traz um alerta sobre mudanças no uso do solo.
O sistema utiliza softwares, plataforma digital online, análises geoespaciais e aplicativos de celular personalizados nas línguas nativas, incluindo ícones que correspondem a desenhos feitos por cada organização indígena.
“O objetivo de colaborar na criação de um sistema digital de monitoramento é aliar o conhecimento técnico-científico ao conhecimento tradicional. Os moradores destas terras indígenas já faziam o monitoramento de seus territórios e são extremamente interessados pela tecnologia”, explica Mauricio Bianco, vice-presidente da CI-Brasil.
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As informações coletadas através do monitoramento são analisadas pelas lideranças indígenas que definem quais são sensíveis e permanecerão restritas às aldeias, e quais devem ser compartilhadas.
“A implementação do aplicativo tem nos possibilitado ver a terra indígena de cima para baixo, de baixo para cima e, assim, valorizá-la cada vez mais. Nós, por exemplo, precisávamos desses mapas gerados pelos drones. Neles, a gente vê as nossas aldeias, em que lugares estão sendo construídos novos roçados, onde estão localizados os nossos igarapés”, detalha o cacique Tashka Yawanawá.
Os alertas emitidos podem ser enviados para autoridades como Ministério Público Federal, polícias estadual e federal, Funai e ministérios dos Povos Indígenas e do Meio Ambiente e Mudança Climática. Os dados auxiliam ainda na tomada de decisões internas, subsidiando, por exemplo, trabalhos nas escolas locais e adoção de estratégias para o manejo de espécies ameaçadas.
Líderes de comunidades indígenas comentam sobre a utilização da tecnologia
Outra liderança que enumera uma série de vantagens do sistema é o Ashaninka Jhon Velasco: “Fazíamos nosso monitoramento territorial sem o uso de tecnologias. Com esta iniciativa, nossas monitoras estão nos ensinando a mexer com o aplicativo e o GPS. Isso é um passo muito importante que nós, Ashaninka de Marechal Thaumaturgo, estamos dando. Estamos tentando nos aprimorar e aprender cada vez mais com essa tecnologia que facilita o nosso trabalho de monitoramento”.
Para o cacique Bira Yawanawá, a tecnologia é muito importante para reconectar a nova geração com a sua essência. “Tenho procurado fazer uso desses mecanismos tecnológicos para o fortalecimento da nossa cultura, para a conservação dos nossos territórios. Me fascina, me alegra muito, porque eu vou poder ajudar uma nova geração. Eu sinto algo muito positivo, que vai servir para fortalecer a nossa cultura e proteger o nosso território. Nós fomos os primeiros povos indígenas do Brasil a usar a internet em aldeia.”
Até o momento, mais de 274,6 mil hectares de terras já contam com proteção fortalecida, beneficiando direta e indiretamente quase 2,5 mil pessoas. O sistema começou a ser testado em junho de 2022 e poderá ser replicado para outras terras indígenas.
Os dados são obtidos pelos integrantes de expedições e por imagens feitas por drones, e complementados com informações disponibilizadas por satélites e por instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Lideranças indígenas promovem a análise de todo este material e embasam nestes dados as tomadas de decisões sobre o uso dos territórios, aumentando sua autonomia.
O desenvolvimento do aplicativo foi uma demanda dos próprios povos que já realizavam atividades de monitoramento, mas desejavam incorporar tecnologias digitais ao procedimento. Ele foi personalizado conforme os interesses de coleta de dados de cada comunidade.
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