Seja dentro ou fora do Brasil, a pandemia do novo coronavírus trouxe inúmeros desafios para empresas de todos os segmentos. Muitas tiveram que adaptar o seu modelo de negócio para continuar funcionando e passaram a ter um olhar mais atento ao mundo digital, reinventando velhos hábitos.
Esses e outros temas relacionados ao assunto fizeram parte da roda de conversa “O amanhã dos negócios”, dentro do Festival Digital Novo Mundo. O evento segue até a próxima quinta-feira (30), gratuito e somente online.
O digital e suas novas oportunidades
O Grupo Movile, que possui participações em várias startups de tecnologia pelo Brasil como Ifood e PlayKids, por exemplo, notou um comportamento diferente do consumidor após o início da pandemia. “A principal coisa que mudou foi o preconceito que as pessoas tinham em fazer compra digital. Todo mundo vai pensar duas ou três vezes: será que eu preciso ir ao supermercado e ficar uma, duas horas, com tamanho contato?”, afirma Bruno Masi, head de produto da empresa e um dos convidados do bate-papo.
Masi também acredita que as empresas de grande e médio porte precisam apoiar os novos empreendedores a mudarem seu modo de operar, apostando ainda mais no digital. “Essa cultura veio para ficar e vai atingir todas as áreas, desde entretenimento até educação. A gente não tem data de quando tudo vai voltar ao normal e como será esse normal. Nosso mercado precisa passar por uma disrupção agora”.
A Movile, que conta com mais de 4 mil funcionários, está em home office. Ele atribui um resultado positivo ao trabalho feito de casa. “Com a pandemia, consegui construir relações e está super legal. Derrubou todos os mitos de que não é produtivo. O mundo do trabalho funcionou de uma forma que eu nunca imaginei. Acho que o meu time não vai voltar a ter uma rotina como era antigamente”, afirma. Nesse meio tempo, a empresa também aumentou o quadro de funcionários, que continua trabalhando remotamente.
Para o head de produto, as empresas precisam ter velocidade para reagir a este momento e o online se mostra um pilar muito forte para que os negócios se sustentem. “Quem não tinha pelo menos um pé no digital sofreu um abalo. Os empreendedores precisam entender que o digital não é mais escolha. É necessidade”. Ele se mostra otimista para o futuro dos negócios após a pandemia. “Com certeza é um mundo novo. Vamos ter oportunidades para os negócios. Não fiquem presos no passado porque o mundo mudou”, ressalta.
Outra convidada do bate-papo foi a diretora de transformação digital da Nestlé Brasil, Carolina Sevciuc. Ela conta que esse processo de mudança da empresa começou há cerca de dois anos. “O ecossistema estava borbulhando e a gente começou a entender que as coisas estavam com uma colaboração muito grande. Foi então que a gente pensou: como a gente consegue transformar os conceitos do ecossistema de inovação dentro das grandes companhias? O que mudou para agora é que na verdade eu tenho que agir com muito mais velocidade. Meu time tem muito mais autonomia do que tinha há 2 anos”, destaca.
Carolina notou que com a pandemia, houve um aumento expressivo da venda por meio do e-commerce, um dos principais pilares de desenvolvimento da empresa. “Já estamos nisso e não tem como voltar atrás. Vimos um movimento importante de deliveries e aplicativos se estruturando. É um movimento em que está todo mundo tentando trabalhar colaborativamente, levando o melhor produto para o consumidor”. A empresa também aumentou o time de funcionários durante a pandemia e todo o processo de contratação está sendo feito online.
Dá tempo para se reinventar?
Fabio Queiroz, presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) foi um dos convidados para falar sobre o processo de reinvenção pelo qual as empresas estão passando com a crise provocada pelo novo coronavírus. Para ele, a operação de varejo é muito resiliente. “A gente já está trocando o pneu com o carro andando. Aumentaram os pedidos por delivery em 56% e e-commerce em 124%. Os patamares anteriores nunca mais voltarão”, afirma. Segundo Queiroz, cerca de 1,7 milhão de pessoas no Brasil passaram a utilizar esses serviços pela primeira vez com a pandemia.
Assim, para o presidente, é preciso oferecer uma melhor experiência de compra para o consumidor online. “Como eu me reinvento na loja física? Por meio da transformação digital, com apps para que o consumidor veja as vagas que estão disponíveis no estacionamento, o que pode acabar com a filas. A gente começa a ter um confronto entre a necessidade e a vontade de ir ao varejo. Por isso, precisamos nos reinventar no digital”.
Por outro lado, Fabio acredita que é preciso dar segurança ao consumidor, dada a essencialidade do supermercado. “Nesse novo normal, o consumidor irá ao local onde ele se sentir mais seguro. Mais do que isso: preciso dar prazer para ele ir até minha loja. O medo de errar talvez faça eu quebrar, mas a resiliência para o erro pode ser um grande diferencial”, ressalta.
Já o diretor geral de Fleet & Mobility da Edenred Brasil, Jean-Urbain Hubau (Jurb), empresa do setor de benefícios de refeição e alimentação, acredita que as empresas não precisam esperar a crise para se reinventarem, mas sim, devem estar prontas para quando houver um momento de adversidade.
“Os conselhos para se reinventar são os seguintes: metodologia ágil, bem organizada, onde todo mundo está junto para pensar; cabeça fria para pensar em tudo o que passou e assim, tomar decisões; ouvir o mercado e saber onde realmente é necessário focar e por fim, a colaboração e o trabalho em equipe. O líder tem que tomar decisões rápidas”, ressalta.
Quem também participou da conversa foi Arthur Rufino, CEO da JR Diesel, distribuidora de peças seminovas. Ele destaca que momentos como o que estamos vivendo ensinam que os empreendedores nunca devem parar de fazer inovação. “O que parece ser um novo normal você já deveria estar fazendo há muito tempo. As crises são cíclicas e, principalmente, motivadas pelo comodismo em ver que em algum momento você estava sendo inovador. O mercado vem, te engole e você viu que parou de andar”, destaca.
O CEO notou uma mudança de comportamento por parte das organizações, sobretudo neste cenário em que é necessária uma atenção especial para os pequenos negócios existentes. “Você tem as grandes empresas se comportando como negócios de bairro. É preciso olhar com mais carinho para comunidades mais específicas”. Ele afirma a importância de uma ajuda mútua entre as pessoas, buscando pensar como fazer o mercado mais forte. “As pessoas focam muito na questão da tecnologia, mas é hora de uma transformação do seu negócio. Tem que parar de correr para digitalizar algo e pensar: o que eu estou digitalizando?”.
Por fim, André Lahoz, diretor-geral da Jovem Pan, ressaltou que o mundo será muito diferente após um 2020 “maluco” e que, certamente, a economia será prejudicada. “Vão se abrir novas questões pela frente: como vai ficar o emprego? E a questão da desigualdade? Como a tecnologia vai desempenhar um papel mais determinante?”, questiona.
Ele também acredita que, após o período de pandemia, é provável que a desconfiança entre os países venha a crescer. Por outro lado, aposta em novas formas de trabalho como legado. “Houve uma discussão sobre novas as novas formas de trabalho e a gente foi pensando como dá para fazer com que as coisas sejam feitas. Faz sentido milhões de pessoas se deslocarem e deixarem de estar com suas famílias?”, finaliza.
Estudos apontam que segmentos do comércio eletrônico nacional apresentaram crescimento expressivo de pedidos devido ao impacto da crise do novo coronavírus. Por outro lado, plataformas de e-commerce estão ajudando pequenos e médios empresários a criarem lojas virtuais para poderem vender seus produtos.
Isso mostra que as empresas estão empenhadas em oferecer soluções que minimizem os impactos causados pela pandemia. Todas elas, de uma forma ou de outra, terão que se adaptar a uma nova realidade e aproveitar, cada uma a sua maneira, o legado que o coronavírus deixará para a sociedade.