* Por Exame.com
Especialistas em varejo são categóricos ao falar que o setor enfrenta um momento complicado em 2020 por conta da crise do novo coronavírus. E a situação é ainda pior para às empresas que dependem unicamente de seus negócios em lojas físicas. Era o caso da operação brasileira da rede de supermercados Dia, que encerrou seu e-commerce no país em maio do ano passado.
Com resultados ruins no último ano e diretamente afetada pela queda nas vendas provocada pela covid-19, a companhia aposta na transformação digital de seu negócio digital para tentar voltar a crescer no país.
Em números a situação da operação brasileira da rede de supermercados espanhola é ruim. A companhia terminou 2019 com receita líquida inferior a 1,2 bilhão de euros no Brasil. Isso representa uma queda de 16,1% em relação o faturamento líquido de 1,4 bilhão de euros em 2018.
Os números ruins podem ser explicados tanto no abandono do comércio eletrônico por aqui como no fechamento de 292 lojas da rede. Para efeito de operação, os resultados dos negócios da companhia na Espanha, Portugal e Argentina caíram apenas 8,2%, 7,9% e 5,5% respectivamente.
Para contornar esses números, a empresa acelerou um plano de retomada das operações digitais. Previsto inicialmente para ser realizado durante o ano de 2020, o plano foi executado em apenas alguns dias com a consolidação de uma parceria com o iFood para o delivery das compras de supermercado pela internet. “O plano de médio prazo virou de curto prazo”, afirma Marcelo Maia, presidente executivo da operação brasileira do Dia. O projeto piloto foi lançado no começo de abril e está concentrado inicialmente somente em algumas lojas próximas a Avenida Paulista, na região central de São Paulo. O plano é escalonar aos poucos.
“Tudo o que está acontecendo, todas as essas mudanças geraram um movimento em paralelo no qual nós temos que nos adequar”, diz Maia. Questionado se o e-commerce estava fazendo falta, principalmente por conta do isolamento social, o executivo afirmou que a característica da operação da varejista é baseada em proximidade, com clientes buscando a rede por ser um canal de fácil acesso “mesmo em tempos de covid”.
A estratégia do Dia não é nova. As gigantes do setor como GPA e Carrefour já estão de olho neste mercado há tempos. A primeira adquiriu a operação do aplicativo James Delivery e transformou o serviço em sua plataforma mais rápida para a entregas de produtos. O Carrefour, por sua vez, mantém uma parceria com a startup colombiana Rappi para levar os produtos das gôndolas – físicas ou digitais – às despensas residenciais. Com a crise, novas surgem novas parcerias. “O coronavírus foi o maior acelerador do processo de digitalização das empresas”, afirma Juedir Viana, professor do MBA de varejo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Ainda será um longo caminho a ser percorrido. No balaço financeiro da companhia referente ao primeiro trimestre de 2020, o Brasil foi o país em que a que a companhia obteve seu pior desempenho. Apesar do faturamento de 251 milhões de euros ter sido superior aos registrados em Portugal (149 milhões de euros) e Argentina (236 milhões de euros), a operação brasileira encolheu 23,1% em relação a 2019. Foi a única que obteve déficit em relação aos quatro mercados em que a supermercadista atua. Mesmo assim, é um começo.
O comércio digital se tornou essencial em tempos de isolamento social. Inclusive em empresas que ainda conseguem manter suas operações físicas em funcionamento. “Os novos canais se tornaram uma obrigatoriedade pensando no futuro. Não apenas durante a quarentena, mas também depois”, afirma Maia. Segundo dados da Associação Paulista dos Supermercados (Apas) obtidos em pesquisa realizada com varejistas do estado, o crescimento do e-commerce do setor de supermercados durante a última semana de março foi de 107%. Nas lojas físicas, o mesmo período registrou alta de apenas 10,9% nas vendas.
* Por Rodrigo Loureiro, para a Exame.com