Quando o Glauco Maschio me procurou, o que me chamou a atenção no shortcut que ele me forneceu por e-mail foi a perseverança: ele contou brevemente que tinha sido dono de sete – isso mesmo, sete – startups que, infelizmente, não deram certo. Isso não o esmoreceu, ao contrário; apenas o instigou a fazer mais. Só que, dessa vez, de um jeito diferente.
“Sempre brinco que vou escrever o livro ‘Como não quebrar a 8ª startup”, diverte-se, “mas o fato é que eu aprendi muita coisa e queria dividir essa experiência”.
A história de Glauco começa lá em Curitiba, cidade na qual ele atuou como desenvolvedor de internet há mais de dez dos seus 25 anos. A partir da experiência adquirida em grandes empresas e grandes portais, Glauco resolveu abrir investir no seu próprio negócio em 2011.
Com um dinheiro guardado e outro proveniente de uma rescisão salarial, investiu 30% em um site de classificados de imóveis. “A ideia era muito boa, só senti que precisava de uma força técnica”. Era justamente aí em que ele entrava. Foram várias noites em claro trabalhando em cima do site. “Fiz tudo desde o banco de dados, tive que aprender a programar, a fazer a parte de design”.
Em três meses, tudo pronto e o site estava muito lindo. “Era o que faltava na internet”, diziam a ele os amigos e conhecidos que tiveram acesso. Tudo em esquema bootstrapping.
“O fato é que eu tinha outras ideias em mente e queria colocá-las em prática. Uns quatro meses depois, no início de 2012, eu já tinha sete startups, algumas com ideias inovadoras, outras com ideias que já existiam, embora tivessem abordagens diferentes”, relembra. Aí enveredou pelos ramos mais variáveis possíveis na internet: e-commerce de roupas, venda de pacotes turísticos, venda de ebooks sobre renegociação de dívidas, venda de consórcio online, gráfica online, e-commerce de games. Além do site de classificados de imóveis, obviamente.
Os erros
“Optei por bootstrapping em todas as empresas. Nem todas davam dinheiro e, na verdade, muitas delas não davam. Quando houve a primeira crise na startup que dava dinheiro, não tive mais como mantê-las. Era uma ideia muito arriscada, eu sabia disso e não deu certo. Já tinha assumido o risco”, conta. “Quase no meio de 2012, abri um e-commerce de games e estava vendendo muito bem. A pessoa com quem pegava esses games teve um problema com a Receita Federal, tive que fechar o site porque não tinha como atender os pedidos”, diz.
Foi então que ele resolveu fechar as startups e voltar a ser funcionário. “Recebi uma oferta de uma empresa e vim a São Paulo. Achei que não tinha vocação para o empreendedorismo. Mesmo assim, comecei fazer networking aqui em São Paulo, encontrei ajuda profissional e estou concebendo a 8ª startup”, relata.
Qual o saldo disso tudo? “Muita gente fala de sucesso sem mencionar o fracasso, mas foi com o fracasso que eu aprendi muito. Nessa nova startup, tenho buscado ajuda profissional. Isso é muito importante. A principal lição é você não desanimar”, sintetiza. “Meu portal de imóveis tinha o melhor design, as melhores funções, só que optamos por crescer devagar, sem aceleração – enquanto crescíamos devagar, os concorrentes estavam recebendo investimentos. Não analisamos o contexto e isso foi errado”, avalia Glauco.
Outra lição, segundo ele, foi o excesso de funcionalidades no site de imóveis. “As pessoas começaram a se perder, acabamos fazendo muita coisa e não precisava”.
Depois de toda essa aventura, Glauco também avalia que a opção por bootstrapping foi errada. “O prejuízo foi muito alto. Mas eu assumi o risco. Hoje eu entendo que fazer bootstrapping em negócios de internet é muito arriscado: em um ou dois anos, o seu concorrente pode estar muito à frente. Um ano depois todo mundo tinha os diferenciais que você tem porque receberam investimento, foram acelerados. Não tínhamos dinheiro o suficiente para sermos os primeiros”, declara.
A gestão de sete startups ao mesmo tempo também é algo a se evitar. “Não aconselho nem um pouco, é totalmente arriscado. Na época eu tinha dinheiro e assumi o risco. Como o dinheiro era meu, assumi e achava que eram ideias muito boas, mas não aconselho ninguém a fazer isso. Se administrar uma startup já é difícil, imagina sete!”, exclama ele.
Agora, ele está em estudo para um app de fotos voltado ao público do Facebook. “É algo totalmente diferente do que já existe hoje, mas ainda não há nome definido. Estou tendo ajuda do pessoal da Germinadora para desenvolver o projeto e tem sido bem bacana, conheci grandes desenvolvedores e investidores. É preciso ter contato com gente experiente. Estou tendo uma base muito boa, entrando no mundo de startups com muito cuidado”, diz o então cauteloso empreendedor. “Ouça as críticas que as pessoas têm sobre o seu modo de conduzir os negócios. Eu errei justamente onde me disseram que iria errar.”