Empresas de tecnologia transformaram smartphones e televisões em fontes contínuas de receita. Agora, tais empresas querem trabalhar com montadoras para fazer o mesmo pelos carros.
Com a disseminação generalizada de veículos autônomos ainda a alguns anos de distância, as duas indústrias convergiram para desenvolver a ideia de carros fornecerem serviços e recursos entregues “over the air” – ou seja, nas mesmas redes sem fio usadas por smartphones.
Esses serviços – streaming de vídeo, atualizações de desempenho do veículo, comércio eletrônico em painéis de bordo – poderão atender a uma necessidade urgente das montadoras. Elas precisam aprender a utilizar seu hardware para obter receita por um longo tempo depois que os veículos são vendidos. As empresas de tecnologia veem os carros e o tempo que as pessoas gastam neles como uma nova fronteira de crescimento.
As empresas de automóveis e de tecnologia usaram a feira de tecnologia CES em Las Vegas nesta semana para demonstrar sua determinação em tornar realidade a visão de veículos como máquinas conectadas geradoras de receita. Os gigantes da computação em nuvem Amazon e Microsoft estão na vanguarda, buscando a oportunidade de gerenciar a corrente de dados que fluem de e para veículos conectados.
“É absolutamente enorme”, disse em dezembro o presidente da General Motors, Mark Reuss, sobre a oportunidade de gerar receita após a venda de um veículo, fornecendo serviços de streaming e atualizações por redes sem fio, facilitadas pelo novo sistema elétrico de alta capacidade da GM.
A mudança ocorre no momento em que montadoras globais buscam novas fontes de receita, à medida que as vendas diminuem e os custos crescentes para cumprir padrões mais rigorosos de emissões ameaçam as margens de lucro. As ações de montadoras, como a Ford Motor e a GM, ficaram muito abaixo dos índices de mercado mais amplos em 2019. O contraste é a Tesla, cujo valor de mercado na quarta-feira excedeu pela primeira vez o total combinado da Ford e da GM.
A Tesla foi pioneira no modelo de cobrança por atualizações por meio de redes sem fio, agora pedindo aos clientes que pagassem 6 mil dólares para ativar a opção completa de direção autônoma.
Empresas e fornecedores de tecnologia querem acelerar a transformação de veículos em máquinas prontas para serviços de assinatura, ajudando as montadoras a separar o emaranhado de chips de computador que tornam a maioria dos veículos atuais difíceis ou impossíveis de atualizar por redes sem fio.
A atual mania de processadores de veículos “não é econômica, e torna difícil de obter (veículos) desenvolvidos e lançados para que tudo funcione o tempo todo”, disse Glen De Vos, vice-presidente de tecnologia da fornecedora de automóveis Aptiv. A Solução da Aptiv: uma nova arquitetura de veículos inteligentes que consolida a maioria das funções computadorizadas.
A Harman, uma unidade da Samsung Electronics, também está desenvolvendo uma plataforma digital semelhante para controlar o fluxo de dados dentro e fora dos carros. Um sistema centralizado, disse o presidente-executivo Dinesh Paliwal, ajudará a proteger o carro contra hackers, que teriam apenas um caminho em vez de dezenas.
A Harman, que fornece parte da tecnologia que montadoras, incluindo a Tesla, usam para oferecer atualizações sem fio, planeja vender seu novo sistema de computação para veículos com recursos de segurança cibernética incorporados – mas alguns consumidores terão que pagar para ligá-lo.
A NXP Semiconductors está trabalhando em um chip que servirá como uma conexão entre o carro e a nuvem, para ajudar as montadoras a lidar com a enorme quantidade de dados que os sensores e os sistemas digitais criarão.
Esses dados devem ser armazenados e gerenciados, e é aí que entram os fornecedores de computação em nuvem, como a Amazon Web Services. A AWS anunciou na CES uma parceria com a BlackBerry para desenvolver uma nova plataforma de software para veículos conectados.