* Por Exame.com
A explosão dos dados já é uma realidade em todos os setores. Um dos primeiros a se beneficiar dela foi o de entretenimento. A Netflix pode parecer uma empresa nova, mas ela, na verdade, foi fundada em 1997. Por anos, o que ela fez foi entregar DVDs alugados em casa. Vendo que seu ramo passaria por uma grande transformação, a empresa americana, baseada em Los Gatos, começou a dar atenção ao poder dos dados e a preparar sua plataforma de streaming de vídeo, que teria potencial global e poderia levar a companhia a um patamar acima do de qualquer outra locadora na história.
Na sua primeira grande produção de sucesso, a Netflix investiu US$ 100 milhões para criar House of Cards, um remake de uma série política do Reino Unido. Mas a aposta não foi feita sem embasamento. A Netflix, com base em dados, já sabia que a produção seria bem-sucedida.
A empresa avaliou que o tema de House of Cards era popular. Também sabia que as produções feitas com o diretor David Fincher e o ator Kevin Spacey normalmente faziam sucesso. Com isso, a empresa usou os dados para mudar um paradigma de aprovação de séries, que sempre precisavam produzir um episódio-piloto e serem subjetivamente avaliados por executivos de emissoras.
O sucesso não foi único. Orange is the New Black teve uma história parecida. A Netflix fez uma grande análise de dados e descobriu que as séries com protagonistas mulheres e piadas de humor ácido eram bem aceitas pelo público.
Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação, afirma a Exame que a tecnologia permite que a Netflix crie experiências diferentes para os assinantes, fugindo do modelo único de conteúdo oferecido pela grade de televisão.
“Netflix usa um “mundo” de coleta de dados. Foi uma das primeiras empresas, junto com a Amazon, a perceber o valor que isso tinha. Tanto Facebook, Amazon, Google e Netflix são as mais poderosas em fazer isso. A Netflix embaralha o conteúdo, parece que tem muita coisa, mas na verdade é exibido de uma maneira diferente para cada usuário, ou seja, todos têm uma experiência personalizada”, diz Igreja.
O especialista conta que a empresa de streaming americana usa os dados para monitorar o comportamento dos usuários do serviço. “Com o tempo, a Netflix foi calibrando essa experiência, criando clusters de consumidores através do mapeamento de comportamento e vendo se os usuários gostavam, medindo a frequência com que assistiam, se eles ficavam dentro do episódio, em que momento eles pausavam”, declara.
A partir do momento que foi para o celular, o aplicativo da Netflix passou a permitir a análise de um volume de dados ainda maior, captando informações como quais séries foram mais clicadas. A empresa também aposta em fazer séries repetindo atores que fizeram sucesso em alguma produção sua nos últimos seis meses ou um ano.
Outro exemplo do poder dos dados nas produções é a febre Strangers Things, um seriado ambientado nos anos 1980 e que adota muitos elementos de filmes que fizeram sucesso nessa década, como “Star Wars”, “ET”, “Contados Imediatos do 3º Grau” e “Alien”.
O poder dos dados já é evidente. Se a Netflix não tivesse usado de forma inteligente as informações que tinha, teria tido o mesmo destino da Blockbuster, que pediu falência depois de anos no topo do mercado de locação de filmes. O mercado de Big Data, nome dado à análise de um volume de dados grande demais para ser estudado por humanos em pouco tempo, crescerá a uma taxa anual de 10,6% nos próximos cinco anos. Com isso, o faturamento do setor passará de US$ 139 milhões em 2020 para US$ 229,4 milhões em 2025. As oportunidades não faltarão para as empresas e profissionais que se preparem para a revolução dos dados.
* Por Lucas Agrela, para Exame.com